Escárnio

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   Todos os dias vinha o carrasco e dizia:
Curve-se ou terá as pernas e os braços,
Quebrados.

E todos atentos me olhavam.


Os que não se curvavam tinham os braços e as pernas quebrados.
Todos os dias eu escutava.
Os gritos dos que tinham ou não, se curvado.

Os que não se curvavam tinham as pernas e os braços quebrados.
Mas os que se curvavam tinham a cabeça decepada.
Ou recebiam o golpe para acabar o sofrimento.
Ou recebiam golpes para continuarem ainda mais sofrendo.


Todos tinham seus braços e pernas quebrados até não suportarem mais.


Com os braços e as pernas quebrados não podíamos fugir.
Muito embora se nos curvássemos.
Jamais nos ergueríamos novamente.


E assim continuávamos cativos no nosso exílio.

Com a tortura e a gloria dos carrascos nos torturando dia após dia.


Com o sorriso e o escárnio no rosto dos nossos torturadores.

Mesmo que o sangue ainda percorra minha face e corpo.
Mesmo que o carrasco ainda me castigue dia após dia.
E ainda com a minha dor se delícia, e ri de escárnio.
Ainda que pra sempre escureça, e para mim nunca mais amanheça. E que eu nunca mais vejo o brilho do alvorecer.
Eu não me renderei
nem jamais
desistirei de sair do meu exílio.

Exílio de uma borboleta negraWhere stories live. Discover now