Sempre tive medo.
De deixar as coisas escuras
e escondidas
dento de mim, a vista.
De dar o grito
da minha alma.
E depois de deixar a coisas escondidas
da minha boca escaparem.
Pensei que nenhuma palavra
para se dizer haveria mais.
Nunca mais.
Que esse grito me esgotaria
e secaria,
em palavras
e em vida.
Como se depois
de revelada a minha alma
ela se dissiparia.
Mas eu estava enganada.
Depois do grito da alma.
Muitas outras novas palavras
se formariam em mim.
E eu precisei de muito silêncio, e tempo
para descobrir isso.
De que serve-me a folha branca
toda vazia?
Sem nenhuma palavra escrita?
Sem nada para expressar.
De que me serve o silêncio.
Se não para preenchê-lo
de pensamentos?
De que adianta viver no vazio?
Pensei então assim...
Que inevitavelmente
As borboletas
se estavam indo.
O silencio me esmagava.
Eu precisava liberta-las...
Dirigi-me então a cidade.
A estranha e antiquada Salém.
Logo que adentrei a cidade.
Avistei Alexandre,
na companhia de uma dama.
Logo as outras pessoas da cidade
Perceberam a minha presença,
E passaram a me observar
Acompanhando-me com o olhar,
Dessa vez não por nenhuma chaga no corpo.
Ou acharem que eu fosse uma bruxa.
Olhavam-me com curiosidade
a alguém que sobrevivera ao cativeiro.
Alguém que ainda estava forte e de pé
depois de muito sofrimento.
Eu não me sentia preciosa.
Nem superior.
Nem inferior.
Só sentia que estava viva.
E precisava libertar
a minha voz aprisionada.
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Exílio de uma borboleta negra
PoetryTodos os dias vinha o carrasco e dizia: Curve-se ou terá as pernas e os braços, Quebrados. Os que não se curvavam tinham os braços e as pernas quebrados. Todos os dias eu escutava. Os gritos dos que tinham ou não, se curvado. Os que não se cu...