O disfarce

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    De alguma forma inexplicável e impossível

eu sobrevivi.

Foi isso que pensei logo que acordei nas pedras entre a folhas e o meu sangue.

Não havia mais carrascos para me perseguir.

Porém eu sabia que com certeza a condessa ainda estaria viva.

Pensei que seria melhor procurar algum outro lugar para me refugiar.

Então me lembrei da velha cabana de meu avô.

Que ficava fora dos limites de Salém.

Ao me aproximar da casa de meu avó ouvi o som de uma matraca.

Que era agitada por um leproso, coberto por um manto.

Estávamos fora da cidade, e os Leprosos costumavam ficar em lugares afastados.

A medida que fui m aproximando.

ele foi sacudindo cada vez mais alto a matraca.

Então parou ao perceber que eu não iria me afastar.

Percebi que me fitava.

O doente então abaixou o capuz do manto.

Foi quando percebi que ele não era ele,

mas sim ela,

ELA

a minha mãe.

Agora com face leonina.

Excluída do convívio da cidade,

e de matraca em mãos.

— Filha!

Ela disse pasma.

— Minha filhinha está viva!

Continuou.

— Não graças a você.

Respondi, bem mais surpresa que ela.

— Você me vendeu para a condessa de sangue.

Aquela mulher insana!

Ela me olhou perplexa.

— Filha ela me disse que você era preciosa que faria bom uso do seu sangue. Que cuidaria bem do rouxino...

— Não!

Esbravejei.

— Ela não cuidou de mim.

Ela me torturou me dessangrou, me deixou passando fome e frio. Vi meus amigos morrerem naquele lugar! quase enlouqueci.

— Filha...

— Não! Ela não cuidou de mim, nem você também, nunca! Você me vendeu pra ela, e não foi para eu ser cuidada, foi pelo dinheiro.

Foi porque você não suportava olhar para mim. Porque eu era algo q você não era capaz de compreender.

Uma contradição. Viva sem nenhuma explicação. Seria fácil para você se eu tivesse morrido.

Muito mais fácil de você compreender.

E agora olha para você.

Você um dia teve uma casa, família, e fez isso a si mesma...

— Eu sei que errei filha! Mas agora...eu sou outra.

" Morta para o mundo. Renasci em Deus. "

Eles me colocaram numa cova aberta.

Derramaram terra em meu rosto.

E disseram essas palavras.

Eu fiz minha última confissão.

Sofro em vida com as chagas como sofreu jesus.

Estou perdoada de todos os meus pecados.

Ao morrer irei direto ao reino dos céus!...

— Meu deus você e deplorável. Talvez seja mais insana que a própria dama do sangue!

respondi-lhe.

E sai.

— Não filha não vá, dê-me só um gota do seu sangue, e será capaz de me curar !

Ouvi ela gritar enquanto me afastava.

E enquanto estava indo embora tive um ideia.

Fiquei aos arredores da cabana escondida até o anoitecer.

Ao notar que minha mãe estava dormindo

levei embora seu manto e sua matraca.

Era uma bela forma de esconder-me da condessa e de qualquer outra pessoa.

Ora ninguém ousaria chegar perto de um leproso!

E muito embora eu não fosse, as feridas no meu corpo que ainda não haviam curado

tratariam de enganar a qualquer um que me fitasse.

Exílio de uma borboleta negraWhere stories live. Discover now