Raios esparsos

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— Tente imaginar um arco-íris, acredite nele e na sua luz colorida e deslumbrante, resplandecendo na água e no sol.

Só há você sobrevoando esta paisagem, esta visão maravilhosa.

E você vê o mar, a nuvens, o sol, e até mesmo os peixes dentro da água. Você sabe de tudo, e conhece tudo que compõe essa paisagem até mesmo a pedras, você conhece a todas elas.

E você também, está na areia sentindo-a escorrer por debaixo do seu corpo, e está no mar entre os peixes, e está no céu entre os raios esparsos do sol resplandecendo na água junto com o brilho do arco-íris.

Você está em tudo. É tudo, e não uma cativa que não pode sair, e conhecer o mundo.

Você sabe de tudo, e conhece tudo. Você e o tudo. E não um nada trancado numa sela suja.

Angelic me disse essas palavras num dia em que eu estive muito mal. Com febre altíssima, calafrios, e com sangramento.

A condessa e o Faisão passaram da conta na tortura. Esqueceram que o "rouxinol" era importante pra eles.

Junto com a chuva que sempre me deixava mal, acabei ficando bem pior que nos outros dias em que me torturavam.

Sempre que eu ficava mal, eles colocavam Angelic na minha sela para de mim cuidar.

Acredito que ela só estava tentando me confortar. Crendo de que naquele dia ei iria morrer.

E até a condessa veio pessoalmente, algumas vezes verificar como estava o estado da minha "saúde".

O que era bastante irônico. A pessoa que mais me torturava

querendo que me deixar a salvo.

Apenas para poder me torturar

e deixar mal, de novo.

Então a dama do sangue fez algo que de fato, eu não esperava. Ordenou que ao faisão que fizesse uma transfusão de sangue em mim, já que nesse dia eu havia perdido mais sangue que o habitual.

E o meu sangue que eles usavam para me torturar.

Naquele dia usaram para me salvar.

E eu provavelmente teria mesmo morrido aquele dia, se não fosse isso.

Após isso, passaram alguns dias sem me torturar.

— Não podemos continuar vivendo assim, isso não é justo, você e apenas uma criança. Temos que dar um jeito de sair daqui!

Disse Algelic depois que eu tinha melhorado.

— O que?! Angelic não é justo de qualquer forma! Eu não mereço isso, você não merece isso ninguém merece!

Respondi.

— Errado! Criminosos merecem, criminosos merecem padecer, e sofrer até morrer. pessoas como a Bathory, como o faisão. Esses mereciam estar aqui, dentro dessas selas.

Disse Mary secamente.

— Eles também são crianças Angelic, a Mary e o Oly! Eu não mereço estar livre daqui mais que eles. Todos nós merecemos.

— Você é torturada mais que todos os outros, já vi adultos aqui morrerem depois serem muito menos torturados que você. Ontem eles quase te mataram, eles usaram o sangue que eles mesmos tiraram de você. Pra te salvar. E pra que? Pra te torturar de novo? pra se banhar no seu sangue. beber o seu sangue. Apenas para se manter jovem saudável e bela? Entende como tudo isso é doentio?

— Sim! Inclusive já pensei nisso, várias vezes... Eu não sou o mais forte aqui. Não sou mesmo! Você que é. E a que está mais tempo aqui. Viva, suportando, aguentando.

— Eu estou a mais tempo aqui suportando... Você e uma criança, e já e capaz de suportar o que já vi muitos adultos não aguentarem. Alguns morrem aqui só de tristeza, quem dirá das torturas. E você aguentou todas. Sem nem gritar ou chorar.

Eu tive uma vida, antes de vir parar aqui. marido filhos, agora sou uma prisioneira. E você e só uma criança. Deveria estar lá fora, conhecendo o mundo as coisas, aprendendo, vivendo. Eu quero que todos vocês cresçam e vivam, fora daqui. E que eu viva o resto da minha vida longe daqui.

Eu só estou viva porque tenho esperança de sair daqui. Embora eu estivesse com medo de levar novas punições novas marcas. A esperança estava lá guardada no fundo da minha alma.

A esperança faz viver, Quenney!

Enquanto que a tristeza mata, mais rápido que qualquer faca afiada.

Sem isso somos só uma casca vazia.

E eu não vou deixar esse lugar me transformar numa casca vazia.

posso ser um corpo cheio de cicatrizes horríveis

mas nunca terei o olhar vazio da Barhory.

Isso eu não permitirei!

Nem a mim, nem a nenhum de vocês.

— O que você pretende?

Perguntei-lhe.

— Escapar, e dessa vez tem que ser de verdade. Pensar numa coisa que realmente funcione, Quenney. Não aguento mais correr em direção a liberdade e ser jogada aqui, de volta nessa sela.

Temos que pensar, muito bem... Mas desde que a esperança esteja viva, nada e impossível.

Mary estava parada com aquele olhar frio e duro. Oly estava encolhido num canto.

— Sim nós vamos sair

Eu disse

todos nós!

— E depois que a gente sair a gente mata eles. Todos eles, a condessa, o faisão, os outros carniceiros. Da maneira mais dolorosa possível!

Disse Mary. Eu e Angelic a olhamos assombradas.

— Mary e tão jovem pra ter tanta amargura!

disse Angelic

— Não é amargura. Vocês duas não são muito inteligentes! Se nos saímos e não os matarmos, eles viram atrás de nós, de qualquer jeito, sempre! Para eles somos alguma aberração rara. O nosso sangue e mais precioso que ouro para eles. Nunca vão nos deixar em paz não, enquanto estiverem vivos.

— E verdade...

Eu disse.

Algelic ficou calada por alguns instantes.

E depois disse:

— E quero que pensem por alguns instantes, alguns momentos, o que fariam se não estivessem presos. E se não houvesse ninguém a perseguir vocês. O que vocês fariam?

Para manter a esperança viva.

Que desejo realizariam?

Eu veria minha família, abraçaria meus filhos e diria que os amo, que nunca os abandonei.

Vocês, me digam o que fariam?

— Eu olharia pro céu. Não existe coisa mais bonita nesse mundo que o céu. E acho até que toda a tristeza da minha vida desapareceria só de olhar para o céu por um bom tempo. Ver o nascer e o pôr do sol. Sentir o vento e o sol sobre mim. Sentir a grama debaixo dos meus pés...

Respondi.

— Eu veria o mar. molharia os pés na água, depois me jogaria no mar até todo o sentimento ruim aqui dentro passar.

Respondeu Mary

E após algum silêncio Oly disse

— Eu passearia com meus pais pela minha rua. como nos sempre fazíamos, e então brincaríamos

juntos. Eu andaria de bicicleta. E depois veria minha avó tocando piano.

Naquele pequeno momento em que nos imaginamos livres. Nos sentimos felizes, e em paz.

Naquele dia rimos, conversamos a respeito do que faríamos de nossas vidas.

E aquilo para nos era alegria, sonhar com a liberdade.

Exílio de uma borboleta negraWhere stories live. Discover now