Trauma

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"Não é preciso ser um quarto para ser mal-assombrado. Nem é preciso ser uma casa;
A mente tem corredores que superam qualquer lugar concreto"


   A dama do sangue

o faisão prateado

e os outros carrascos.

Todos mortos

por minhas mãos.

Porém aquele velho peso

ainda me incomodava.

As borboletas negras.

A dor que assolava minha alma.

Ela me disse que eu sobreviveria

que eu teria uma vida.

Porém,

Todas as noites

quando eu dormia,

de novo ouvia

os gritos dela.

Os gritos que ela deu quando

o faisão lhe tirou a vida.

Aquele grito alto e agudo.

Ficou preso dentro de mim.

E como um eco

perpassando os corredores

escuros dentro de mim.

As coisas que eu não queria

Saber

nem lembrar.

Sempre interrompia-me o sono a noite.

O gritos dela,

dos outros e os meus.

Juntos soavam

como uma sinfonia

de agonia.

Eu sonhava com o sangue dela jorrando

me percorrendo o corpo

E acordava-me me debatendo.

Querendo me limpar.

Quando na verdade não havia nada

do que se limpar.

Eu apenas sonhava.

Então, eu levantava.

Sentia o sol quente ardendo sobre mim.

Olhava-me no espelho

só para me certificar

de que eu era real.

Saia da velha cabana.

Colhia frutas e legumes.

Como eu habitualmente,

fazia todas as manhas.

As vezes até nesses momentos

Que eram a minha única fonte

de normalidade e paz.

As vezes, até nesses momentos

Eu era invadida por pensamentos derradeiros.

Avistava a mim mesma,

no bosque criança.

Como se a minha sombra antiga

estivesse realmente ali.

Exílio de uma borboleta negraWhere stories live. Discover now