66° Capítulo

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Quando acordo levo um momento para me lembrar que não estou na cama com o Harry. A luz brilha pela janela e eu me sento logo. Quando os meus olhos se ajustam estou convencida de que vou enlouquecer.

"Harry?" digo rapidamente e limpo os olhos.

"Hey." ele diz de volta. Ele está mesmo aqui.

"O que é que você está fazendo aqui?" estouro. O meu coração já dói. Ele está sentado na cadeira com os cotovelos nos joelhos.

"Tessa, precisamos conversar." ele diz, as olheiras debaixo dos seus olhos salientes.

"Estava me vendo dormir?" pergunto.

"Não, claro que não. Vim aqui apenas à alguns minutos." ele diz. Penso se ele teve pesadelos sem mim na cama com ele. Se não fosse presenciado os pesadelos, ia pensar que eram também parte dos jogos dele, mas me lembro de segurar o rosto suado dele entre as minhas mãos e de ver o medo nos seus olhos verdes.

Fico em silêncio. Não quero brigar com ele. Apenas quero que ele vá embora. Odeio que não queira mesmo que ele vá embora, mas ele tem que ir.

"Podemos conversar?" ele repete e eu abano a cabela. Ele passa as suas mãos pelo cabelo e dá uma grande inspiração.

"Tenho que ir para a aula." digo.

"O Liam já foi embora, desliguei o teu alarme. Já são onze horas."

"Você o quê!"

"Ficou acordada até tarde e eu pensei que você..." ele começa.

"Como é que você ainda... vai embora." estou a cima de zangada que ele tenha desligado o meu alarme, ele sabe como sou sobre perder aulas, mas a dor das ações dele de ontem ainda estão fresca e ofusca a raiva por ele ter desligado o meu alarme, mas não posso mostrar qualquer fraqueza ou ele vai me atacar com isso. Ele faz sempre isso.

"Esta no meu quarto." ele aponta. Saiu da cama, não me preocupando se estou apenas de t-shirt, a t-shirt dele.

"Tem razão, eu vou." digo, o nó na minha garganta está crescendo e as lágrimas estão ameaçando atrás dos meus olhos.

"Não, quer dizer... quis dizer, está no meu quarto... porquê?" a voz dele sem vida.

"Não sei... eu só... eu não conseguia dormir." admito. Preciso parar de falar. "Não é propriamente o teu quarto, dormi aqui tantas vezes como você. Mais vezes agora." saliento.

"A tua t-shirt não servia em você?" ele pergunta, os seus olhos focados na t-shirt branca. É claro que ele está tirando comigo.

"Vá em frente, me provoca." digo, as lágrimas a minar no fundo dos meus olhos.

Ele faz contato visual comigo mas eu desvio o olhar.

"Não estava te provocando." Ele levanta-se da cadeira e dá uns passos até mim. Recuo e levanto a mão para o bloquear. "Apenas me ouve ok?"

"O que é que você pode ter para me dizer Harry, nós fazemos sempre isto. Temos a mesma discussão uma e outra vez, apenas fica pior a cada vez. Não posso fazer isso mais. Não posso." suspiro.

"Eu disse que estava arrependido por ter beijado ela." ele se defende.

"Isto não é sobre isso, bem, é uma parte disto mas há muito mais. O fato de que não vê as provas de que estamos apenas desperdiçando o nosso tempo. Você nunca vai ser quem eu preciso que seja, e eu não sou quem você quer que eu seja." limpo os meus olhos enquanto ele olha pela janela.

"Você é quem eu quero que seja." ele diz.

Gostaria de poder acreditar nele, gostaria que ele não fosse tão incapaz de sentir.

"Você não é." é tudo o que consigo dizer. Eu sei que ele está consciente de que estou chorando, mas não consigo parar. Já chorei tantas vezes desde que o conheci e se eu ficar embaraçada na teia dele, vai ser sempre assim.

"Não sou o quê?" 

"Quem eu quero que seja, não faz nada a não ser me magoar." me afasto dele e atravesso o corredor para o quarto de hospedes para pegar a minha bolsa. Apressadamente puxo as minhas calças pela minhas pernas e reúno as minhas coisas. Os olhos do Harry seguem cada movimento meu.

"Não ouviu o que te disse ontem?" ele finalmente fala. Estava a espera que ele não falasse disso.

"Me responde." ele diz.

"Sim... te ouvi." digo, evitando olhar na direção dele.

"E não tem nada para dizer sobre isso?" a voz dele é hostil.

"Não." minto. Ele se coloca à minha frente. "Saí." peço.

Ele está perigosamente perto de mim e eu sei o que ele vai fazer quando ele se mexe para me beijar. Tento me afastar dele mas os fortes braços dele me puxam para perto, me aguentando no lugar. Os lábios dele tocam nos meus, a língua dele tenta atravessar a minha boca mas eu recuso.

"Me beija de volta, Tess." ele manda.

"Não." empurro o peito.

"Me diz que não sente o mesmo e eu vou embora." o rosto dele a milímetros do meu, a respiração quente dele na minha cara.

"Não sinto." digo, magoa dizer as palavras mas ele tem que ir embora.

"Sente sim. Eu sei que sim." o tom dele desesperado.

"Não sinto Harry, e você também não. Você pensou mesmo que acreditei nisso?" digo e ele se afasta.

"Não acredita que te amo?" ele suspira.

"Claro que não, o quão estúpida pensa que sou?" cuspo, ele olha para mim por um segundo antes de abrir a boca e a fechar novamente.

"Está certa." ele diz.

"O quê?" 

"Está certa, eu não sinto. Eu não te amo, estava apenas ajudando no drama daquilo tudo." ele ri despreocupado. Eu sabia que ele não sentia, mas isso não faz a sua honestidade doer menos. Uma parte de mim, uma grande parte de mim, que estou disposta a aceitar, esperava que ele sentisse mesmo.

Ele se mantêm contra a parede enquanto eu saiu do quarto, a minha bolsa na minha mão quando chego às escadas.

"Tessa querida, não sabia que estava aqui!" a Karen sorri ao fundo das escadas. O sorriso dela desaparece quando ela repara no meu estado angustiado. "Está bem? Aconteceu alguma coisa?" ela pergunta. A preocupação na voz dela é evidente.

"Não, estou bem. Fiquei trancada no lado de fora do meu quarto ontem à noite e eu..."

"Karen." a voz do Harry diz atrás de mim.

"Harry!" o sorriso dela volta levemente. "Você dois gostariam de comer algo, um café da manhã? Bem, almoço, já é meio-dia." ela sorri.

"Não obrigada, eu estava voltando para os dormitórios." digo.

"Eu vou comer." o Harry diz. Ela parece surpreendida quando olha para mim e depois de volta para o Harry.

"Ok bom! Vou estar na cozinha!" ela diz.

Depois de ela desaparecer, me dirijo à porta.

"Onde você está indo?" ele agarra o meu pulso. Luto por um segundo antes de ele me libertar.

"Para os dormitórios, como disse."

"Vai a pé?"

"O que é que se passa contigo? Age como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos discutido, como se não tivesse feito nada. Está seriamente louco, estou falando de uma instituição mental, medicação, andar almofadado, louco. Você me diz coisas horríveis e depois tenta me oferecer carona?" não consigo me controlar com ele.

"Não disse nada horrível, o que eu disse foi que não te amava, coisa que você disse que já sabia. E segundo, não estava te oferecendo carona, estava apenas perguntando se iria voltar a pé." a expressão de convencido dele me deixa tonta. Porque é que ele ia vir até aqui para me encontrar se ele não quer saber de mim? Ele não tem nada melhor para fazer do que me torturar?

"O que é que eu te fiz?" finalmente pergunto, tenho estado à espera para lhe perguntar isto à algum tempo, mas tinha medo da resposta dele.

"O quê?" 

"O que é que eu te fiz para me odiar? Pode ter praticamente qualquer garota que quiser e continua desperdiçando o teu tempo, e o meu, encontrando novas formas de me magoar. Qual é a lógica? Não gosta de mim tanto sim?" tento manter a minha voz baixa para que a Karen não me ouça.

"Não, não é isso. Eu não desgosto de você Tessa. Só te fiz um alvo fácil, o que conta é a caça certo?" ele se desfaz em risos. Antes que ele possa dizer mais alguma coisa a Karen chama o nome dele e pergunta se ele quer pickles na sanduiche. Ele vai até à cozinha e lhe responde, saiu pela porta e ouço as botas dele contra o chão duro de madeira.

Ando pela rua até a ponto de ônibus, já perdi aulas demais ultimamente, também posso perder o resto do dia e comprar um carro. Felizmente o ônibus aparece minutos depois e eu encontro um lugar lá trás.

"O que conta é a caça certo?" as palavras dele fazem eco na minha mente quando me sento no lugar. Volto a pensar no que o Liam disse sobre o coração partido, que se não ama a pessoa, ela não pode te partir o coração. O Harry partiu o meu coração repetidamente, mesmo quando eu penso que já não há mais pedaços para partir, eu o amo. Eu amo o Harry.

AFTER (Tradução Português/BR)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora