AFTER (Tradução Português/BR)

73° Capítulo

Acordo com o Harry roncando levemente, os seus lábios pressionados na minha orelha. As minhas costas estão pressionadas fortemente contra o seu peito e as suas pernas estão curvadas em volta das minhas. Memórias da noite passada me trazem um sorriso aos lábios, antes do estado eufórico ser substituído por pânico. Ele vai sentir o mesmo na luz do dia? Ou vai me torturar e me insultar por eu  ter me oferecido a ele? Me viro devagar para o encarar, para examinar o seu rosto perfeito enquanto o seu permanente franzir de sobrancelhas é suavizado pelo sono. Levanto a mão e corro com o meu dedo indicador o piercing na sua sobrancelha, e depois para baixo para a mancha negra na sua bochecha. Os lábios dele parecem melhores, tal como as suas articulações, desde que ele finalmente concordou em me deixar ajudá-lo e limpá-las.

Os olhos dele se abram enquanto o meu dedo traça os seus lábios gananciosamente. "Que está fazendo?" ele pergunta, não consigo decifrar o tom dele, o que me deixa receosa.

"Desculpa... estava só..." não sei o que dizer. Não sei que tipo de humor ele vai ter depois de termos adormecido nos braços um do outro.

"Não pare." ele sussurra e fecha os olhos novamente. Metade do peso no meu peito desaparece e sorriu antes de traçar a forma dos lábios carnudos dele outra vez, cuidadosamente para evitar as feridas.

"Quais são os teus planos para hoje?" ele pergunta minutos depois, reabrindo os olhos.

"Por acaso tenho planos com a Karen, para trabalhar na estufa dela lá trás." digo e ele se senta.

"Sério?" ele deve estar chateado. Eu sei que ele não gosta da Karen, mesmo que ela seja uma das pessoas mais queridas que alguma vez conheci.

"Sim." resmungo.

"Bem, acho que não tenho que me preocupar com a minha família gostar de você, gostam mais de você do que de mim." ele dá uma risada e corre o seu polegar pela minha bochecha, mandando arrepios pela minha espinha abaixo.

"O problema é, se eu continuar vindo  aqui o meu pai pode começar a pensar que eu realmente gosto dele." ele diz, o seu tom leve, mas os seus olhos escuros.

"Talvez você e o teu pai podiam sair ou assim enquanto eu e a Karen estamos lá fora?" sugiro. Ele provavelmente vai me cortar a cabeça.

"Não, definitivamente não. Vou voltar para casa, a minha verdadeira casa, e espero até acabar." ele resmunga.

"Queria que ficasses aqui, pode levar algum tempo. A estufa dela está em péssimo estado." digo. Ele parece estar sem palavras, o que faz o meu coração aquecer com a ideia de que ele não quer estar muito tempo longe de mim.

"Eu... Não sei Tessa. Ele provavelmente não quer sair comigo de qualquer maneira." ele murmura.

"Claro que quer. Qual foi a última vez que vocês estiveram juntos sozinhos numa sala?" pergunto e ele dá de ombros.

"Não sei... há anos. Não sei se isso é uma boa ideia." ele diz, passando as mãos pela cabeça.

"Se ficar desconfortável pode se juntar a mim e à Karen lá fora." asseguro-o. Estou admirada por ele estar considerando passar um tempo com o seu pai.

"Está bem... mas só estou fazendo isto porque a ideia de te deixar, mesmo por pouco tempo..." ele para, eu sei que ele não é bom com expressar o que sente, por isso fico calada, dando-lhe tempo para se recolher. "Bem, vamos apenas dizer que é pior do que passar tempo com o caralho do meu pai." sorriu, mesmo com as palavras duras dele contra o pai. O pai que o Harry conhece da sua infância não é o mesmo homem que está lá em baixo, e espero que o Harry consiga ver isso. Depois de me levantar da cama, me lembro que não tenho roupas comigo, nem escova de dentes, nada.

"Preciso de ir ao meu quarto buscar algumas coisas." digo e ele fica tenso.

"Porquê?"

"Porque não tenho roupa nenhuma, e preciso escovar os dentes." riu. Quando olho para ele, ele tem um pequeno sorriso na cara, mas não lhe atinge os olhos. "O que foi?" pergunto, com medo da resposta.

"Nada... quanto tempo vai demorar?"

"Bem, pensei que podia vir comigo?" assim que as palavras deixam a minha boca, ele relaxa visivelmente. O que se passa com ele?

"Oh."

"Vai me dizer porque está estranho?" pergunto com as mãos nos quadris.

"Não estou... apenas pensei que estava tentando fugir. Fugir de mim." a voz dele está tão baixa, e tão não ele que sinto a necessidade de andar até ele e de cuidar dele. Em vez disso, gesticulo para ele vir até mim e ele assente com a cabeça antes de se levantar e se pôr à minha frente.

"Não vou a lado nenhum. Só preciso de algumas roupas." digo novamente.

"Eu sei... vou só levar algum tempo a me habituar. Estou habituado a fugir de mim."

"Bem, e eu estou habituada a você me afastar, por isso acho que ambos temos que nos habituar a algo." sorriu e deito a cabeça no peito dele. Me sinto estranhamente confortada pela preocupação dele, estava com medo que ele mudasse a sua decisão esta manhã, e é bom saber que ele tem apenas medo.

"Sim, acho que temos. Eu te amo." ele diz e me atinge tão fortemente como da primeira vez, e a vigésima ontem à noite.

"E eu também te amo." digo e ele franze as sobrancelhas.

"Não diga também." ele diz.

"Porquê?" Oh não.

"Não sei... me faz sentir como se estivesse  concordando comigo." ele olha para baixo. Me lembro da promessa que fiz a mim mesma ontem à noite, que vou fazer tudo o que consiga para ajudar na baixa auto-estima dele.

"Eu te amo." digo e ele olha para mim. Os olhos dele suavizam e ele gentilmente pressiona os seus lábios contra os meus.

"Obrigada." ele diz e se afasta.

Olho para como ele parece tão perfeito numa blusa branca e calça preta. Ele nunca usa nada exceto t-shirts brancas ou pretas e calças pretas, todos os dias, mas ele fica perfeito, todos os dias. Ele não precisa de sinos ou assobios sobre a roupa dele, o simples estilo dele assenta-lhe tão bem. Visto as minhas roupas de ontem à noite e ele pega a minha bolsa por mim antes de irmos até às escadas.

A Karen e o Ken estão na sala de estar quando chegamos lá baixo.

"Preparei o café da manhã." a Karen sorri. Me sinto fracamente desconfortável com a Karen e o Ken sabendo que passei a noite com o Harry, outra vez. Sei que eles parecem estar perfeitamente bem com isso, e nós somos adultos, mas isso não impede as minhas bochechas de arderem.

"Obrigada." sorriu e ela me dá um olhar curioso, sei que vou ter algumas perguntas quando estivermos na estufa. Ando até à cozinha e o Harry me segue. Ambos enchemos os nossos pratos com comida e nos sentamo na mesa.

"O Liam e a Danielle estão aqui?" pergunto à Karen. A Danielle provavelmente vai ficar confusa por me ver outra vez com o Harry depois de ter estado ontem à noite com o Zayn. Me livro dos pensamentos negativos.

"Não, eles foram a Seattle passar o dia para fazer algum turismo." ela me informa. "Ainda quer trabalhar na estufa hoje?"

"Sim, claro. Só tenho que ir ao meu quarto e trocar de roupa." digo.

"Boa. Estou ansiosa. Vou pedir ao Ken para trazer os sacos de terra do barracão enquanto não estão aqui."

"Se esperar até chegarmos, o Harry podia ajudá-lo?" meio que pergunto, olhando para o Harry.

"Oh, também vai ficar aqui?" o sorriso dela cresce. Como é que ele não vê que as pessoas se preocupam com ele?

"Uh... sim. Eu ia passar o dia aqui hoje... acho eu. Se poder ser?" ele gagueja.

"Claro! Ken! Ouviste, o Harry vai ficar aqui o dia todo!" o entusiasmo dela me faz sorrir e o Harry revira os olhos.

"Seja simpático." sussurro no ouvido dele e ele coloca o sorriso mais falso que alguma vez vi na cara. Dou pequenas risadas e bato com o meu pé no dele.