CAÍDA AOS PÉS DO JUIZ

cap 25

Amor e seu tempo
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade/ passagem do livro "As impurezas do branco" 1973.

A minha vida ganhou cores, os meus dias estão sendo os melhores, tenho ânimo para levantar e ir trabalhar, dar um simples bom dia para as pessoas tornou-se meu hábito. Até quem trabalha comigo no fórum estranhou a minha leveza, normalmente eu passava dava apenas um aceno com a cabeça, Lana muitas vezes brigava comigo pelo meu jeito fechado com as pessoas, ela dizia que eu tinha que sorrir mais, dar ao mínimo um bom dia, boa tarde... Para as pessoas.

Eu achava que por ser um juiz eu tinha que impor respeito, porque se eu passasse e desse um simples bom dia, pessoas poderiam entender errado e achar que eu estaria dando uma liberdade. Mas não é bem assim que acontece, a gente pode passar, sorrir, cumprimentar, e manter o respeito. Desde que Sara entrou na minha vida, tudo que eu julguei que não servia para mim, hoje se encaixa perfeitamente.

Eu passei tempo me remoendo por achar que estava traindo a memória da Lana, mas não. Hoje eu estou em paz como nunca estive antes, eu amei a mãe das minhas filhas, fomos felizes, imensamente felizes. Infelizmente Lana teve quer partir, ela cumpriu o seu legado aqui na terra, foi muito difícil de entender e aceitar a sua perda, ela sempre estará presente em nossas vidas, primeiramente pelas nossas filhas, segundo pelo respeito e companheirismo que tivemos todos essas anos, e pelas lembranças que irei carregar comigo até o fim dos meus dias, lembranças que eu irei fazer questão de compartilhar com as nossas filhas, de quão boa, amorosa a mãe delas foi.

Hoje é sábado, está fazendo um dia lindo lá fora, eu estou esperando a resposta de Sara para irmos a praia.

-Papai, papai. -Clarisse entra igual um furacão no meu quarto.

-Oi filha.

-A gente vai na paia? A tia Sara vai junto? A tia Malia e o tio Chales vai junto também? Eu tô com saudades deles papai. -ela diz rápido, atropelando todas as palavras.

-Não sei meu amor, o papai está esperando a tia Sara responder, quando ela fizer isso eu te falo, ok?

-Promete de mindinho? -ela faz um sinal com o seu dedinho.