Capítulo 11

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― Ok, ok ― Andrezza chegou ao meu lado com uma cara ofendida ― eu já sei que você anda escondendo coisas de mim, mas agora que ninguém me contou, eu mesma vi você comendo aquele gostosão com os olhos, você TEM que me contar quem ele é e de onde vocês se conhecem.

Ela sentou no espaço vago ao meu lado. Pela primeira vez eu desejei que o professor de Educação física estivesse aqui ocupando a cadeira vaga segundos atrás para me poupar do interrogatório nada discreto da minha amiga.

Eu gostaria de ter pra onde fugir, mas aqui estou eu no ônibus do passeio da escola em movimento.

Será que se eu me jogasse pela janela me machucaria muito?

Suspirei.

― Ele não é ninguém importante ― falei encostando a cabeça no encosto do banco e fechando os olhos.

― Não foi isso que pareceu levando em conta a forma como os olhos de Mateus estavam brilhando de felicidade por ver o senhor não importante ― zombou. Mesmo com os olhos fechados podia sentir o olhar pesado de minha amiga sobre mim.

É verdade. A felicidade de Mateus ao ver Raji foi ímpar. Eu sei que talvez não devesse ter atrapalhado o momento de glória do meu filho ao esfregar na cara dos colegas que estava falando a verdade, mas não podia dar corda ou meu ele ia conseguir arrastar o pobre homem para um passeio escolar. Acho que não era isso que Raji estava querendo.

― Depois falamos sobre isso ― nem abri os olhos para responder. Também não precisava estar de com eles abertos para saber qual seria a reação de minha amiga. Ele manteve o olhar sobre mim mais um pouco depois se ajeitou na cadeira e com certeza colocou os fones de ouvido. Era a única forma, de acordo com ela mesma, de conseguir calar seus pensamentos.

Eu não queria falar sobre ele.

Se antes era difícil tirar aquele homem de minha cabeça, imagina agora sabendo exatamente quem ele era.

Raji, o meu Raji.

Sorri com o pensamento absurdo.

Enquanto minhas amigas que leram Diário de uma viajante morriam de amores por cada homem que Alice conseguiu conquistar, eu só tinha olhos para um. Raji. Sabia que ele seria o homem que eu escolheria no lugar dela.

Raji era fofo, espontâneo, engraçado não do tipo que faz da vida um stand up como Poncho, mas daqueles que sabe como fazer uma mulher sorrir dos olhos ao coração. Ainda por cima é sábio.

Agora, além de todas as coisas boas que eu sabia que ele tinha, eu também devia lidar com o fato que ele era um gato de marca maior.

Me sentia protagonista da minha própria comédia romântica daquelas bem clichês onde a mocinha adolescente conhece o seu ídolo tudo de bom. Mas, veja bem, com exceção de Um lugar chamado Notting Hill, eu nunca vi uma história dessas dar certo.

Raji não era apenas um homem lindo com covinhas incríveis, era um homem lindo de covinhas incríveis e uma pessoa inalcançável.

Inalcançável.

E claro, eu sendo eu, tinha que passar vergonha na frente dele.

Droga!

Apertei mais os olhos já fechados como se isso fosse me ajudar a esquecer o dono da perfumaria indiana. O homem protetor com a irmã, o homem romântico, amoroso e carinhoso que Raji era.

Droga.

Suspirei mais uma vez.

Eu precisava tirar esse homem da minha cabeça. 

Tradicional Essência [Degustação]Where stories live. Discover now