Capítulo 28

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Eu não podia acreditar no que tinha ouvido.

Raji tinha mesmo dito o que eu achava que ele disse?

― Eu... oi? ― Não sabia nem o que falar, quanto mais o que sentir. Com os braços ainda envolvendo seu corpo me afastei um pouco dele para olhar em seu rosto.

Raji parecia contorcido de tristeza. Mas eu não entendia.

― Bia, eu queria muito, mas eu não...

Nem precisei que ele terminasse a frase. Raji realmente estava me rejeitando. Puxei meus braços que seguiam ao redor do seu pescoço como se tivesse tomado um choque.

Bem, foi basicamente isso que aconteceu. Meus olhos encheram de lágrimas ao constatar o que estava acontecendo e dei dois passos virando de costas ao homem que estava a minha frente.

Claro! Ele devia agora achar que eu sou uma oferecida.

IDIOTA, IDIOTA, IDIOTA!

― Não é nada com você, você é...

― Ah não! ― sorri sem nenhuma vontade levantando a cabeça na direção do teto e cobrindo meu rosto com as mãos ― não fala isso. Por favor, não! ― dei alguns passos para trás me afastando dele.

Essa frase mostrava que o Raji era só mais um. Eu não queria isso. Queria poder acreditar que seja lá por qual motivo ele estivesse me rejeitando daquela forma tão vergonhosa, era por algum motivo nobre, não porque ele só era mais um como todos os outros.

― Mas é a mais pura verdade. ― Raji deu a volta em meu corpo parando na minha frente e segurou firme meus braços para que eu o encarasse ― Eu queria, de verdade, ter conhecido você tempos atrás, Bia. ― Ele balançou a cabeça em negativa ― Muita coisa aconteceu, e você... E sentir o que eu sinto quando estou com você foi uma das melhores coisas dos últimos tempos. Eu... ― Raji encostou a testa na minha.

Eu devia ser masoquista para permitir isso.

O que tinha de errado comigo?

Eu não era bonita o suficiente? Era porque ele era de outra tradição? Será que o fato de ser mãe solteira contava para ele? Ou foi o Marcos quem acabou com todas as minhas chances?

Será que era ao encontro com o Marcos que ele se referia quando disse que muita coisa aconteceu? Bom, ele não estaria errado. O Marcos é mesmo muita coisa. Um fardo que, infelizmente, eu carregaria para sempre.

― Eu queria tanto ― seus polegares faziam carinho em meus braços enquanto sentia traços finos e quentes rolarem por meu rosto sem conseguir entender o motivo daquilo.

Se ele queria, porque não?

Ainda com nossas testas coladas balancei a cabeça em negativa de forma quase imperceptível.

― Eu não entendo... ― sussurrei.

― Eu...

― Mãaaae ― a voz de meu filho estava distante, mas perto o bastante para que ele pudesse chegar a qualquer momento. Me afastei de Raji passando as costas das mãos pelo meu rosto buscando secar qualquer indicio de que havia chorado.

― Filho ― chamei um pouco mais alto que de costume para que Mateus pudesse me encontrar.

― Ah, você tá ai! ― Mateus parecia alegre novamente. Em nada lembrava aquela criança que havia saído de casa comigo. ― A fila tava grande. Acho que todo mundo se segurou por muito tempo.

Assenti.

― Bom, meu amor ― voltei meu corpo de forma que pudesse me direcionar apenas ao meu filho ― amanhã nosso dia começa cedo. Temos que ir.

Tradicional Essência [Degustação]Where stories live. Discover now