Tradicional Essência [Degustação]

Capítulo 21

― Eu vou pegar alguma coisa para beber ― falei com Raji logo depois que acabamos a dança.

Dançar com ele foi uma péssima ideia.

Não que eu não tenha gostado. Gostei sim!

Na verdade gostei tanto que o problema era exatamente esse.

Por mais que Raji me desse sempre uma atenção especial, eu não sabia exatamente o que ele queria. Dezza me dizia que eu teria que avançar o sinal e mostrar que tenho interesse.

De acordo com a teoria de minha amiga que releu Diário de uma viajante apenas em um dia para ser a minha conselheira amorosa, assim como o Will Smith em Hitch, Raji já havia se magoado com uma mulher, a Karina. E por isso que ele foi um grosseiro com a Alice quando a conheceu. Depois, ficou frustrado por não ter sido escolhido. De acordo com ela era por isso que ainda estava solteiro, e exatamente por isso que eu deveria agir.

"Homens bons e corretos não nascem em árvore, minha amiga. Aproveita e se joga que esse é dos que valem a pena."

Raji me disse que veio resolver as coisas com seu coração, então talvez faça sentido o que Dezza insiste em dizer. Acho que, talvez, Raji queira sim um novo recomeço, e talvez, por medo de se magoar novamente ele esteja reticente em dar um passo a mais comigo.

Talvez a tentativa valesse a pena. Das duas uma, eu poderia acabar em um relacionamento com o homem dos meus sonhos ou sofreria por alguém que mora a oceanos de distancia de mim.

Provavelmente não custaria tanto assim tentar.

― Eu vou com você ― Raji respondeu um pouco mais alto que as mulheres que gritaram desesperadas quando o cantor pegou um ursinho que jogaram no chão e ergueu agradecendo.

Eu assenti.

O indiano falou alguma coisa com o irmão antes de sair e notei um olhar feio da Sam para ele, que depois recaiu em mim.

Eu queria mesmo entender qual o problema dela comigo.

Raji colocou a mão em minhas costas e senti uma imensa carga magnética entre nós dois. Será que era só eu? Será que ele havia vindo comigo para finalmente tentar alguma coisa comigo?

― Está gostando? ― Perguntei quando nos afastamos da maior parte do barulho.

― Sinceramente? ― Raji fez um movimento engraçado com a cabeça ― não vejo motivos para ficar assim nessa loucura para ver duas pessoas cantando. Mas o ambiente até que é legal.

― Na Índia vocês não costumam ir a shows? ― quis saber.

― Sim, temos cantores, shows tudo mais, mas a música... é tudo muito diferente. Lá na Índia as músicas são felizes, nós gostamos de dançar, vocês aqui pagam para vir sofrer, chorar, beber... Are, ― Raji balançou a cabeça ― não faz sentido.

Eu ri.

― Olhando por esse lado, talvez você tenha um pouco de razão. Mas as vezes a vida é cruel demais, acho que cantar o sofrimento ajuda a espantar o sofrimento. ― Mexi em alguns cachos que estavam voando em frente ao meu rosto ― Gostaria de conhecer um show em seu país.

― Você ia amar! ― Raji pareceu em animado e começou a contar como eram as danças, os sons, e foi impossível não imaginar como seria dançar ao sons das batidas energizantes com Raji ao meu lado.

Impossível não imaginar a cena.

Por um segundo me senti protagonista do romance de Alice conhecendo a Índia incrível que ela descreveu ao lado do homem dos meus sonhos.

― Quem sabe um dia eu e Mateus não vamos tirar férias por lá?

Raji sorriu.

― Eu gostaria disso ― concluiu.

Aquele sorriso faz com que meu coração batesse ainda mais forte. Raji ficava ainda mais lindo quando sorria e meu coração dava cambalhotas em meu peito.

Isso não podia ser normal.

Não demorou para comprarmos as bebidas e começarmos e voltar. Raji era engraçado, dedicado e muito preocupado com as pessoas ao seu redor. Eu gostava demais disso. Da forma como ele falava sobre seus sonhos, sua loja, seus irmãos, sobrinhos. Eu gostava de uma infinidade de coisas nele.

Mais do que deveria.

Mais do que já tinha gostado de qualquer pessoa na vida.

Eu me sentia no meio de uma comedia romântica clichê, bem ao estilo A boneca que virou gente. Uma daquelas coisas que a gente nunca pensaria que aconteceria.

Encontrar com o meu crush literário.

O homem fiel, integro, trabalhador, modesto, tímido e sincero.

Mas então eu encontrei o Raji.

Raji é tudo aquilo que eu sempre esperei encontrar em alguém.

Esperei...

Pela primeira vez eu parei para refletir sobre o significado daquela palavra. Quem espera não age. Talvez eu tenha perdido boas oportunidades em minha vida por estar sempre esperando.

Esperando pelo perfeito, esperando as coisas melhorarem, esperando, esperando, esperando...

Depois do Mateus eu usei todas as desculpas possíveis para afastar os homens da minha vida. Tinha que dar atenção a Mateus, me empenhar nos estudos e buscar sem a melhor aluna possível. Estudar e ter um filho era possível e eu queria mostrar isso a todas as pessoas que disseram que eu não conseguiria. Tive alguns relacionamentos rápidos, não queria colocar qualquer homem na vida do meu filho.

Ainda não havia conhecido ninguém que eu acreditasse que valesse a pena.

Mas agora se, eu esperasse mais, podia perder para sempre o homem que... bem, o homem que eu gostaria de ter ao meu lado.

Bom, eu não queria mais, pelo menos dessa vez, ser a mulher que espera. Raji era do tipo que valia a tentativa.

Andrezza tinha razão.

E bom, pelo menos a respeito de uma coisa eu estava certa, se Raji não me beijasse hoje, na próxima vez que tivéssemos chance eu iria tomar a frente da situação.

Eu tinha que agir, e era isso que eu faria.

Olá, amores meus!

Tudo bem com vocês? 

O bebê da Firanghi foi para a Amazon e eu tava numa loucura relendo, diagramando... 

Vamos ver se vocês conseguem me deixar bem felizinha com muitos comentários aqui? Se tivermos bastante comentários posto mais um hoje ;)

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