07

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O Chapeleiro se aproxima perigosamente da silhueta envolta em sombras, hipnotizado.

Yoongi não consegue ver seu rosto, mas gostaria, para tentar ler suas emoções. O que diabos Hoseok 'tá pensando? O nome que ele disse... quem é May Lee?

— Hoseok? — Yoongi chama, a voz embebida em medo. Os outros vultos estão se aproximando também, entretanto Hatter não parece ouvi-lo, portanto ele tenta outra vez. — Hoseok! O que essas coisas querem com a gente?

A meio caminho do fantasma, o Chapeleiro para de andar. Afasta-se alguns passos, quase pisando no pé de Yoongi, e deixa escapar um soluço. O loiro finalmente pode ver seu rosto, mas na mesma hora deseja não tê-lo feito: Hoseok tem os olhos marejados, e sua expressão imediatamente o atormenta. Como é possível que alguém carregue tanta angústia no olhar? Os cantos da boca dele se curvam para baixo, as sobrancelhas unidas e o nariz franzido. E há tanta, mas tanta tristeza em seus olhos que ela transborda, líquida, enchendo-lhe os orbes.

— Por que não me responde? — Não é com Yoongi que ele fala, e sim com este espectro em especial. Mágoa e dor são perceptíveis na voz embargada, um timbre tão sofrido que só o que o loiro tem a fazer é penalizar-se cada vez mais. — May! Por que não me responde?

O vulto negro chega cada vez mais perto, à frente dos outros. Yoongi sente como se todo seu sangue gelasse e o instinto lhe diz para correr, contudo não consegue sair do lugar. E, ainda que conseguisse, e quanto ao Chapeleiro? Não seria capaz de somente deixá-lo para trás à mercê destas coisas, a despeito de qualquer inimizade.

— Quem quer que ela tenha sido, Hoseok, não é mais!

O maior vira-se para Yoongi. Sua face muda rapidamente de angústia para raiva, e novamente o loiro se sente como se o outro o culpasse — por algo que ele nem sabe o que é. Algo que parece ser profundo demais, doloroso demais... pessoal demais. E o Chapeleiro tem uma expressão tão intimidadora a ponto de fazer o Min querer se encolher, coisa que ele só não faz, aliás, porque não pode sequer se mover, totalmente dominado pelo medo dos espectros.

— Você não sabe de nada. — É sua resposta amarga.

A silhueta feminina finalmente para de se mover em frente ao loiro. Não é possível ver seu rosto, são apenas sombras disformes. Ela estende ambas as mãos para segurar a face dele, o toque é tão frio que queima. Yoongi resmunga e busca se soltar, porém não consegue encostar nela. Tenta se livrar do contato afastando as mãos negras de si e suas palmas atravessam o vulto, provando que não é constituído de matéria física. Ela abre sua boca, que não é bem uma boca, já que é impossível reconhecer qualquer feição — aliás, como Hoseok a reconhece? —; é mais como um buraco negro no que deveria ser o rosto da silhueta. E, no momento em que ela... no momento em que isso o faz, Yoongi se sente como sendo sugado. Não física, nem psicologicamente; e sim espiritualmente. Como se estivesse começando a sair de seu corpo, sendo puxado para dentro daquilo. A sensação de ter sua alma arrancada do corpo é excruciante, maior que qualquer dor no mundo, seus membros formigam como se estivessem banhados em ácido e ele não é capaz de escapar, sequer de mexer o corpo — agora, não pelo medo, mas sim porque uma força sobrenatural o impede de fazê-lo.

Pior que isso, Min Yoongi tem plena consciência de que dura apenas alguns segundos — cerca de quatro ou cinco —, e no entanto o tamanho da dor que sente faz o momento parecer eterno.

Ouve um som de tiro — que só pode ser de Hoseok bem ao seu lado —, mas soa tão longe, distante na superfície de seu tormento. O coração dá um único pulo no peito e um solavanco indescritível lhe devolve o controle de seu próprio corpo. A próxima coisa que ele sente além do cheiro de pólvora é que vai cair no chão, contudo os braços de Hoseok impedem que isso aconteça, envolvendo-o com segurança. O espectro de quem quer que tenha sido May Lee foi transformado em fumaça negra, que agora preguiçosamente se dissipa no ar fresco da noite. Yoongi arfa e mal respira e sente uma tontura extrema, mas o momento não é dos mais propícios para fraqueza. Há mais destes vultos ao redor deles, dispostos a terminar o que o primeiro não pôde concluir. Ao seu lado, Hatter se pronuncia após assistirem a fumaça sumir completamente, a voz falhando no início da sentença.

Eu Sou Alice • {yoonseok}Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu