Eu Sou Alice • {yoonseok}

06

Os olhos de Yoongi estão vendados há um bom tempo e a faixa que os cobre foi amarrada um pouco forte demais, maltratando seus orbes; entretanto, ele não teve coragem para reclamar nem mesmo disso. Não reclamou quando Hoseok o vendou ou quando o colocou para dentro da carruagem com a delicadeza deixando a desejar e não é agora que vai reclamar, vários minutos após. É claro que Yoongi quer saber para onde estão indo ou em que isso tudo vai dar no fim, mas de qualquer forma, não importa. Com seu Chapeleiro, iria para qualquer lugar sem pestanejar.

Entretanto, a recompensa por ter sido privado de sua visão é que todos os outros sentidos acabam se aguçando: Yoongi sente no rosto a brisa morna que carrega o cheiro de uma chuva próxima, além do aroma de grama recém cortada e campos de lavanda. Os solavancos da carruagem são acompanhados pelos sons das pedras sendo esmagadas sob as rodas, ainda que seu som preferido — e o mais presente — seja o da respiração e dos sussurros obscenos de Hoseok ao seu lado.

— Não vejo a hora de ficarmos sozinhos.

Sua voz é rouca quando planta um beijo no pescoço do loiro, causando um arrepio que percorre a espinha de Yoongi e se alastra pelo corpo inteiro ao correr todos os membros e deixar cada mísero pelo seu em pé. A mão esquerda do Chapeleiro está em sua nuca, segurando as mechas loiras com firmeza; a direita tem o controle das coxas — e da excitação — do Min. O sadismo alheio de insistir em provocá-lo, mas não passar disso, é tortuosamente excitante.

— E o que vai fazer quando estivermos sozinhos? — Não é a primeira vez nesta viagem em que Yoongi tenta descobrir, ou tirar algo de Hatter.

— Terá que ser paciente, Alice. Consegue fazer isso? — Não é a primeira vez que ele falha, também.

Não com você me deixando duro assim, é um resmungo que fica preso em sua garganta. Ao invés disso, como o bom garoto que é, Yoongi simplesmente acena um afirmativo com a cabeça. Mesmo que a mão de Hoseok acariciando não apenas suas coxas como também o que há entre elas não lhe deixe garantia alguma de autocontrole, por mínimo que seja. Suas calças não eram tão apertadas assim, pelo que se lembra, mas agora não vê a hora de ficar à sós com Hoseok e poder se livrar de toda e qualquer peça de roupa — de preferência, dos dois. De preferência, também, numa cama; contudo, sinceramente, qualquer lugar estaria bom, até mesmo ali dentro da carruagem, nesse mesmo instante, a despeito da estrada irregular e a venda em seus olhos. O objetivo de Hoseok de deixá-lo cada vez mais e mais necessitado foi conquistado com tanto sucesso que Min Yoongi não consegue pensar em mais nada, sua mente está completamente nublada e se lhe sobra algum resquício de racionalidade, este está totalmente desviado, lhe dizendo repetidas vezes o quanto ele precisa de seu marido.

Seu marido. De certo modo, a ficha de Yoongi ainda não caiu. Esta é sua nova vida, como Alice do País das Maravilhas. Hoseok Hatter, o Chapeleiro, não é só a pessoa que ele mais ama, ou um namorado, sequer seu noivo — é agora o homem com o qual ele se casou. Se tudo isso não passar de um sonho, o loiro espera sinceramente que tenha morrido dormindo para que nunca mais possa acordar dessa fantasia.

Hoseok para de tocá-lo logo antes de uma curva acentuada para a direita que o joga para cima do mais alto. Yoongi sente os dedos finos alheios em seu braço, segurando-o com firmeza, e suspira. Os solavancos diminuem: agora o chão pelo qual passam não é mais pedra ou terra e sim, grama ou outro tipo de planta rasteira. Alguns instantes após, a carruagem para.

Tudo acontece rápido, e no entanto lento demais para a ansiedade consumindo o peito de Yoongi. Hoseok o ajuda a descer e o guia, ainda vendado, por uma série de ladrilhos — Yoongi conta três, oito, doze passos — e então suas mãos finalmente desamarram a venda apertada. O loiro pisca os olhos repetidamente e não resiste à tentação de esfregá-los enquanto força a vista a voltar ao normal; quando, enfim, pode enxergar, Yoongi perde o fôlego ao que as retinas meramente encaram tudo à sua frente e absorvem as informações, mandando-as para o cérebro mais devagar do que de costume.