Parte II

1.5K 354 54
                                    

Após a criação do País das Maravilhas e de todos seus habitantes, assim que pôde retornar para casa, Alice Liddell foi encarcerada sob pretexto de proteção pela família ao longo de três anos. Durante todo este tempo, a garota foi terminantemente proibida de pisar fora dos limites da propriedade de seu pai e fortemente vigiada todos os dias. Era cansativo.

Alice sentia dentro do peito apertar aquela excruciante e crescente necessidade de ir até seu País e principalmente, até seu Chapeleiro. O tempo passava tão devagar que cada hora parecia um século e ela poderia jurar que estava envelhecendo muito mais do que deveria; como se adquirisse os anos de uma idosa. Ao menos, Dinah, sua gata, e a irmã Edith eram as melhores companhias pelas quais ela poderia pedir. Quando alguma das duas não estava por perto era tortuoso, até, para a jovem garota, a caçula da família.

Edith resolveu ensiná-la a jogar xadrez numa bela tarde, e logo tornou-se o jogo favorito de Alice — bem melhor do que as cartas do baralho, pensava quando segurava as peças —, tanto que ela aprendeu a jogar até melhor do que Edith ou os outros adultos. Mesmo assim, os dias da jovem tinham sido mergulhados em tédio e lenta rotina e a ausência de aventuras enfraquecia-lhe o espírito livre. O que arrancou-a disso foi seu pai, numa tarde chuvosa.

Um comerciante estranho havia passado no centro da cidade quando seu pai resolvia pendências e deu de acabarem se esbarrando. As mercadorias do homem eram ainda mais estranhas e o pai de Alice pensou que a garota pudesse gostar de um espelho que o velho estava vendendo, num preço barato que não condizia com a beleza da peça, injusto com o empenho depositado no entalhe dos florais de sua moldura. Ignorando os avisos sobre o objeto, o homem levou o espelho para casa e pela primeira vez em certo tempo, Alice ficou radiante enquanto pendurava-o na parede de seu quarto.

E no entanto, o espelho logo mostrou-se incomum, sobrenatural até. Certas vezes, parecia feito de água. Em outras, excluía a garota do reflexo do quarto, mostrando-o vazio como se ela não estivesse ali ou fosse invisível. Chegava, inclusive, a cantar para Alice, atraindo-a como um ímã.

Alice pegou novos cadernos.

Quanto mais criava outro mundo, no qual poderia rever seu Chapeleiro; um mundo que pudesse levá-la, de algum modo, de volta ao seu País das Maravilhas; mais estranho o espelho se tornava. Isso fez com que seu lindo sonho fosse distorcido. Portanto, Alice Liddell atravessou o espelho e chegou ao novo mundo que criara, mas algo havia dado errado.

 Portanto, Alice Liddell atravessou o espelho e chegou ao novo mundo que criara, mas algo havia dado errado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Eu Sou Alice • {yoonseok}Onde histórias criam vida. Descubra agora