Eu Sou Alice • {yoonseok}

13

Yoongi se espreguiça no sofá; tem a sensação de ter dormido por décadas.

Seu corpo está todo duro, e ele não se lembra de sonho algum durante a noite, como se tivesse apenas morrido e voltado. Os sentidos vão retornando aos poucos e ele ouve um som na estante, como se os livros fossem organizados. E ao abrir os olhos, não sem dificuldade, para encarar o teto de madeira, Yoongi só consegue pensar em seu objetivo. É quinta-feira, quarto dia da Caçada. Ele está chegando ao fim de seu prazo de seis dias e, por consequência, ao fim de seu tempo.

Tempo.

Por quanto tempo eu dormi?

O simples ato de se levantar também não é fácil para o loiro, pois ele dormiu na mesma posição a noite toda. A casa está bem iluminada, o que indica que o sol nasceu há algumas horas. Ele senta no sofá e sente uma tontura momentânea pelo movimento; a sala parece girar ao seu redor. Vê Hoseok na estante organizando os livros, como deduz, e quando seu olhar se cruza com o do Chapeleiro este rapidamente, vem em sua direção. A primeira coisa que Yoongi repara não estar certa é que a sala está uma bagunça. Há livros espalhados pelo chão e a mesa de centro foi quebrada, os cacos de vidro foram varridos para um canto ao pé da estante, oposta ao sofá onde o loiro está sentado. A segunda coisa, é que Taehyung e Namjoon não estão por ali, portanto os sons na cozinha são de Taeyeon, que parece estar fazendo comida. O aroma não é de café, e sim de ensopado; já passou da hora do desjejum, é quase horário de almoço e Yoongi dormiu muito mais do que deveria. Em seguida, o que ele nota quando Hoseok se abaixa à sua frente no chão, sem a cartola, e leva as mãos compridas aos seus joelhos, é que o pijama fino de seda, listrado de preto e vermelho, que Hatter vestiu na noite passada para dormir — já que não poderia dormir só de cueca desta vez — possui agora alguns cortes fundos o suficiente para rasgar o pano: como se tivessem sido feitos por garras. Yoongi já suspeita do que se trata, porém prefere não acreditar. Então ele levanta o olhar para o rosto de Hoseok, há um corte de cerca de oito centímetros que vai desde a maçã no rosto, no lado esquerdo, até o queixo. É recente e está com sangue seco. Também há marcas de dedo ao redor de seu pescoço, como se alguém tivesse tentado enforcá-lo. E ele deve ter outros machucados pelo corpo, mas não é possível vê-los. O peito do Min se aperta, pois ele sabe o que isso significa.

— O que foi que aconteceu? — questiona mesmo assim. Não há hesitação alguma quando levanta a mão esquerda na direção do rosto do Chapeleiro à frente e acaricia sua bochecha com o polegar, fazendo um carinho lento. Bem próximo, Hoseok fecha os olhos e aproveita o toque. — Por que vocês não me acordaram?

O moreno responde com a voz rouca, os olhos ainda fechados.

— Devia perguntar por que é que você não acordou, mesmo com tudo o que houve. Eu tentei despertá-lo antes, mas você dormia feito pedra devido ao efeito pós-uso da droga que Namjoon te deu. Ela te forneceu energia por bastante tempo, mas depois isso acabou contigo. Seu coração batia devagar demais, era como se estivesse morrendo.

O mais alto crispa os lábios, insatisfeito. Yoongi leva a outra mão à nuca dele, fazendo carinho nos cabelos dali e feliz por Hoseok não se incomodar, não desfazer a proximidade e somente... demonstrar estar gostando.

— Ficou preocupado?

— Fiquei — suspira. — Mas Namjoon disse que era normal do uso da droga. Só que você ia dormir bastante até que seu corpo se recuperasse. Não que eu não tenha brigado com ele mesmo assim.

O Chapeleiro abre os olhos, as íris negras fitando as de Yoongi. Ele sorri bobo e Hoseok olha para baixo, em direção ao peito dele, tirando a mão direita de seu joelho e a levando até seu tronco, parando sobre o coração por um tempo.