Senhora Kim

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Já haviam se passados algumas horas, acredito eu, mas infelizmente não conseguia dormir. Tentei, mas fiquei me revirando na cama de um lado para outro. Achei que fosse fazer um buraco nela de tanto me virar, resolvi sentar um pouco. Olhei para fora e a neve tinha diminuído, então pensei que pudesse voltar para casa logo. Não que fosse o que eu realmente queria. Voltar para casa não era uma ideia agradável, porém não tinha opção e não queria continuar dando trabalho a um desconhecido. Encontrava-me perdida em meus pensamentos quando de repente ouvi um barulho. Parecia serem passos. A porta começou a abrir aos poucos e uma silhueta fofa e conhecida surgiu, iluminada, apenas pela luz do corredor.

- Oh... Vim ver como você estava, mas não pensei que te encontraria acordada. Não consegue dormir? – Boo falou ligando a luz.

- Não.

-Posso? – ele disse apontando a beirada da cama.

- É claro.

- Algum problema? – ele falou se sentando – Está sentindo alguma coisa?

- Não. Comigo está tudo bem. Só não consigo dormir. Deve ser por conta de ter dormido muito.

- Entendo. Eu também tenho problemas para dormir a noite.

- É sério?

- Sim. Raramente eu durmo a noite.

- E por quê?

- Eu não sei. Desde que me lembro sou assim.

- Ah... Eu...

Comecei, mas por alguma razão parei. Iria contar-lhe mais sobre mim, mas senti que aquilo era informação demais para dar a um desconhecido, mesmo que ele tivesse me acolhido, cuidado de mim e fosse fofo da maneira como era, não podia me arriscar contando partes da minha vida.

- Eu estive pensando que já que estou melhor talvez eu pudesse voltar para casa.

- Eu percebi que você não está à vontade aqui. Você parece querer se livrar de mim o mais rápido possível, não é? – ele falou olhando para seus pés e dando um sorriso para disfarçar seu desconforto com as minhas palavras.

- Não, não é isso. É só que eu não quero continuar te dando trabalho e te deixando desconfortável.

- Mas quem te falou que estou desconfortável?

- E não está?

- Nenhum pouco. Além disso, você é a primeira pessoa que eu acolho aqui.

- Isso é sério?

- É sim. Ter você aqui faz com que eu me sinta menos sozinho, sabe? Mas eu entendo, você deve estar com saudade de casa, então, se amanhã não estiver nevando forte, eu te acompanho até lá.

Enquanto falava isso, ele levantou e foi se encaminhando até a porta. Quando pegou a maçaneta e abriu a porta, olhou-me novamente e completou:

- Agora descanse. Amanhã será um novo dia e, caso você tenha sorte, voltará para casa.

Suas últimas palavras me doeram no coração. Ele falou aquilo com a voz um pouco triste, pelo menos foi o que pareceu.

"Mas por que ele se apegou tanto a mim em tão pouco tempo? E por que se sente sozinho?"

Não entendi nada. Mas fiz o que ele disse e voltei a me deitar esperando adormecer logo.

Não sei por quanto tempo ainda fiquei acordada, mas acredito que não foi muito. Quando acordei percebi que a neve havia aumentado durante a madrugada e, para meu azar, não voltaria tão cedo para casa. Ao me levantar e ir para o banheiro percebi roupas limpas e bem organizadas em cima de uma cadeira. Havia um bilhete:


"Deixei essas roupas para você caso queira tomar um banho. Você ainda estava dormindo quando fui até seu quarto, então resolvi não te acordar. Saí para dar uma volta, volto mais tarde, não se preocupe tem café pronto é só você esquentar. Até mais tarde. 

Seungkwan".


"Aonde ele poderia ter ido com esse tempo? Ele é maluco ou o quê? Quer chamar a atenção?" - Balancei a cabeça para afastar o que pensava. "Tanto faz eu nem o conheço para estar preocupada dessa maneira". - dei de ombros.

Entrei no banheiro, tomei meu banho, depois escovei os cabelos e enquanto descia as escadas, para minha surpresa ele já estava em casa e não estava sozinho.

- Bom dia! - Ele disse, sorrindo, assim que me viu.

- Bom dia!

- Acordando agora?

- Sim. Vi seu bilhete e achei que não estivesse em casa.

Quando entrei na cozinha, percebi uma bela mulher sentada com os braços sobre a mesa. Ela era linda, aparentava ser mais velha do que nós, mas ainda assim parecia jovem. Era alta, magra, com os cabelos pretos levemente ondulados, soltos, que davam na metade de suas costas.

- Eu saí, mas voltei assim que a senhora Kim disse que queria vê-la. Essa é a senhora Kim, a mãe enfermeira do meu amigo. E essa é a Sanders Ariam, como lhe falei.

- É um prazer senhora Kim. – disse estendendo-lhe a mão, que ela apertou de volta.

- O prazer é meu. Seungkwan me falou como a conheceu e no outro dia não pude vir ver como você estava, mas hoje ao encontrá-lo pedi para vê-la e constatar que ele havia feito tudo certo.

Soltei sua mão e notei seu olhar intenso sobre mim, através do óculos de armação quadrada que ela usava sobre o nariz, parecia meio intelectual demais, para uma enfermeira, mas possuía a voz firme e decidida.

- Acredito que ele tenha sido um bom substituto, pois estou bem melhor. E obrigada pela preocupação.

- Imagina. Seungkwan é o melhor amigo do meu filho e é como se fosse meu filho também, então, se você é amiga dele é minha filha também.

- Obrigada me sinto muito lisonjeada com isso.

- Bem agora vamos até seu quarto quero examiná-la melhor.

Filhos da Escuridão ↬ Boo SeungkwanWhere stories live. Discover now