Casa?

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Terminado o café, Mingyu se despediu de mim e voltou para casa. Eu ajudei Seungkwan a lavar a louça e em seguida subi até o quarto para deixar tudo o mais organizado possível, como forma de agradecimento pela hospitalidade que recebi enquanto fiquei hospedada. À medida que arrumava acabei me perdendo em pensamentos ao olhar aquele moletom laranja, que usei na primeira noite em que dormi naquela cama.

Ao pegá-lo, senti, novamente, o invadir do perfume, mesmo depois de tê-lo usado, o perfume ainda permanecia como se nunca houvesse sido tocado por alguém além de Seungkwan, aquilo me trouxe certas lembranças e logo em seguida alguns questionamentos a respeito dos amigos dele, da floresta e até mesmo sobre ele próprio. Peguei-me questionando se ele falava realmente a verdade e se de fato havia sido totalmente honesto comigo. Senti coisas que não desejaria sentir. Tive reações que não queria ter e a cada momento que passava me sentia mais ligada e apegada a ele e isso não era bom.

Relações que se iniciam de maneira tensa não tendem a melhorar. Não que eu tivesse experiência nesse assunto, mas as pessoas que conheci e que tiveram essas experiências disseram que não é uma boa opção e que tudo o que traz é dor e sofrimento.

Queria esquecer tudo o que aconteceu. Queria que fosse um sonho. Desejava afastar tudo o que estava sentindo. Desejava expulsar tudo aquilo de mim e, num impulso, tentando aplacar um pouco do sentimento que estava me consumindo, joguei o moletom contra a porta que, no momento, estava sendo aberta. Ele foi de encontro a um rosto familiar.

- O que o moletom fez para você?

Seungkwan falou enquanto retirava o moletom que havia ficado enrolado em sua cabeça.

- Sinto muito. Não queria atirar em você. - sentei-me na cama frustrada.

Tudo o que queria era ficar longe dele, mas parecia uma coisa impossível. Ele sentou ao meu lado na cama. Ficamos em silêncio. Passou-se um bom tempo, até que, repentinamente, Seungkwan pegou na minha mão, me puxando para ficar de pé, e encara-lo. Eu estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo, apenas com a franja solta, no meu lado esquerdo do rosto, e nesse momento ela estava nos meus olhos. Eu mantinha a cabeça baixa mesmo estando de frente para ele. Não me permitiria olhar para ele. Se assim o fizesse sabia que perderia o controle, que há alguns momentos estava tentando manter.

Com uma de suas mãos ele segurava minha cintura e a outra colocou sob meu queixo, levantando, delicadamente, minha cabeça, me fazendo encará-lo. A intensidade do brilho em seus olhos estava deixando tudo mais difícil e, mesmo, que de início não quisesse encará-lo, agora, estava difícil quebrar o contato. Ele tirou a franja do meu rosto colocando para trás da minha orelha e em seguida escorregou com a mão pelo meu braço depositando-a em meio às minhas costas. O contato era íntimo demais, mas, mesmo não querendo contato com ele, permiti que continuasse. Foi um gesto simples, mas que serviu para que calafrios corressem por toda a extensão do meu corpo. Eu corei. Minhas orelhas ardiam e eu estava sentindo dificuldades para respirar. Não entendia como de um dia para outro um desconhecido havia se transformado em alguém tão importante para mim. Não sabia dizer o porquê estava tendo sentimentos que nenhum outro homem conseguiu despertar em mim.

Seungkwan me olhou uma última vez antes de me puxar para um abraço terno e carinhoso, cochichando em meu ouvido:

- Sei que você precisa ir, mas também sei que você quer ficar. Sei que você sabe que existe algo maior se formando entre nós, mas também sei que é cedo demais. Sei que você tem muitos pensamentos, mas também sei que é sábia o suficiente para distinguir o certo do errado. Sei que está confusa, mas também sei que encontrará a resposta para o que quer que esteja te confundindo. Sei que não sou o que você queria, mas também sei que sou melhor do que você esperava. Não se preocupe você pode ir porque eu sei que você voltará. E mesmo se você não voltar tenha certeza de que eu irei até você onde quer que você esteja.

- Por que está me dizendo tudo isso?

- Para que você se lembre de mim. Para que se você tiver problemas ou passar por coisas ruins, saiba que aqui você encontrará um amigo para conversar, mesmo que as coisas ainda estejam meio estranhas entre nós. Como eu já te disse, sinto necessidade em estar perto de você.

- Obrigada, não me esquecerei.

Senti que ele sorriu apoiado na minha cabeça. Nesse instante o abracei. Por pouco tempo me permiti sentir o afeto. Como ou o por quê eu não sabia. Só sentia que podia confiar em suas palavras.

Nós nos afastamos depois de alguns minutos e ainda segurando minha mão, Seungkwan foi me puxando escada abaixo e através da porta. Ao chegar lá fora fiquei ainda mais encantada com o caminho coberto de neve. Parecia que ali no meio da floresta o branco da neve ficava ainda mais fantástico do que nas ruas da cidade. Por um momento pensei que ele tinha sorte em morar ali, afastado de toda a barulheira da vizinhança. Paz e sossego. Sem vizinhos ou intrometidos se metendo na sua vida. Village Wolf não era tão populosa e por esse motivo todos sabiam de todos, mas, ainda que pequena, conseguia ser tão ruidosa quanto uma cidade grande. E é óbvio que a cidade inteira já sabia do meu "desaparecimento".

Fui guiada através da floresta até chegarmos a uma estrada estreita que eu me recordava bem: foi por meio dela que acabei na casa do rapaz, parado em minha frente. Olhando para os lados como se esperasse algo, Seungkwan soltou minha mão, que segurava desde o nosso abraço no quarto, e se despediu:

- Parece que é aqui que nos separamos.

- Parece que sim. – eu falei com a voz meio embargada. Sabia que tinha que voltar, mas não achei que seria tão difícil deixá-lo. – Obrigada por tudo. Obrigada por cuidar de mim e desculpe qualquer coisa que...

Ele me interrompeu colocando o seu dedo em minha boca.

- Não precisa falar mais nada. Foi ótimo ter você em minha casa esses dias e não foi nenhum incômodo.

- Ainda assim obrigada!

Ele apenas sorriu e virando-se em direção à sua casa falou:

- Te vejo por aí.

E assim ele seguiu de volta na direção de onde viera e eu segui em direção à cidade. De volta de onde comecei. Casa. Minha casa? Não! Em vez de ir à minha casa que seria o certo segui na direção contrária e parei na porta da casa da única pessoa que poderia me acolher agora.

Filhos da Escuridão ↬ Boo SeungkwanWhere stories live. Discover now