Sangue?

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Era sangue! 

Tinha certeza disso. Como? Eu não sabia! Só sabia que era e aquilo estava aguçando ainda mais meu olfato. Logo constatei que tinha razão. Boo acabara de aparecer com a camisa todo ensanguentada na porta da casa e a reação que tive foi de pânico.

- Seung... Seung... Seungkwan... O... Que... Aconteceu?

- Isso não é o que está pensando?

Ele veio em minha direção e eu me afastei.

- Como não? Isso é sangue!

- Sim, mas não é meu.

Eu me afastei mais ainda.

- Pior ainda!

- Ariam... Por favor, não precisa ficar com medo. Eu não vou te fazer mal.

- Não tenho tanta certeza.

- Olha só, eu vou subir, tomar um banho, deixar você se acalmar um pouco, respirar e aí depois a gente conversa. Mas por favor, não pense em fugir eu não fiz nada e nem vou fazer nada com você! Ok?

Eu apenas balancei, afirmativamente, minha cabeça, só que não estava nada ok. Sentei no sofá sem saber exatamente o que fazer ou pensar. Após alguns minutos ele veio perfumado, o mesmo perfume que senti a primeira vez que vesti suas roupas. Ele sentou ao meu lado e eu me afastei. Ele tentou me acalmar pegando na minha mão, mas eu recuei.

- Eu não fiz nada de mais.

- Eu não tenho certeza.

- O que você acha que eu fiz? Matei alguém?

- Sinceramente falando, acho que sim.

- E você acha que se eu tivesse feito isso, eu voltaria para casa como se nada tivesse acontecido e ainda mais todo sujo, sabendo que você está aqui? Quem você pensa que eu sou?

Eu não respondi apenas levantei e comecei a caminhar.

- Ariam eu só fui ajudar a senhora Kim com alguns pacientes. O sangue é porque uma das vítimas teve hemorragia.

- Você acha que eu sou tapada ou o quê?

- Não entendi.

- Você é médico por acaso? Como assim “foi ajudá-la”?

- Você se esqueceu de onde estamos? Nenhum médico quer vir ajudar alguém que se machucou aqui nessa floresta. A senhora Kim é a única que ajuda aqui. O filho dela e eu fizemos um treinamento para auxiliá-la quando necessário.

Talvez ele tivesse razão. Eu queria questioná-lo mais, afinal ele ainda não havia me dito o porquê morava na floresta, porém a situação era delicada e isso não vinha ao caso nesse momento. Por algum motivo aquela história não estava bem contada. Eu sei que ninguém queria entrar na floresta, mas então por que haveriam pessoas machucadas ali? Isso não fazia sentido e eu começava a me perguntar se deveria ficar com medo.

- Tudo bem se você diz. Já que chegou pode ficar esperando o fogo apagar. Eu vou dormir. Boa noite!

Nem deixei que ele respondesse. Subi para o quarto, mas não sem antes vê-lo resmungar que detestava fogo. Assim que me deitei fiquei um pouco acordada esperando para ver se ele iria tentar se explicar novamente, mas ele não o fez. Continuava acreditando que havia algo de errado, mas por alguma estranha razão meu sexto sentido me dizia que ele não seria capaz de matar alguém sem motivo algum e que ele não era assassino. Resolvi dar um voto de confiança a ele e continuar a agir normalmente, porque caso ele houvesse feito o que não deveria a verdade apareceria mais cedo ou mais tarde. Após refletir sobre isso apaguei imediatamente. 

No outro dia, ao acordar, a neve continua caindo forte, mas eu estava cada dia melhor e não via a hora de poder sair daquele lugar. Não que a companhia de Seungkwan ou sua casa fossem desagradáveis, pelo contrário, ele era ótimo e a casa muito aconchegante, mas ficar usando as coisas dele, incluindo suas roupas, estava me deixando desconfortável e o incidente do dia anterior havia me deixado com a pulga atrás da orelha, se ele realmente era tão fofo quanto aparentava. Levantei, me arrumei e desci. O café estava pronto, mas não o vi. Ele voltou para casa somente no meio da tarde. Veio carregado de sacolas e eu corri para ajudá-lo.

- Oi! - ele se pronunciou.

- Oi.

- Já almoçou?

- Já sim e você?

- Também.

Enquanto eu tirava as compras das sacolas e colocava em cima da mesa ele ia guardando tudo. Detive-me por uns momentos e passei a encará-lo. Ele era realmente muito lindo. E só agora estava podendo admirá-lo com calma. Ele usava um casaco cinza comprido, calça jeans preta e uma blusa gola alta branca. Tinha ficado muito charmoso e estiloso. Quando virou, percebeu que eu o encarava.

- Ainda continua me analisando para ter certeza de que não matei ninguém?

Eu engoli em seco. Ele me pegou desprevenida.

- Não é isso. - Eu disse e senti minhas bochechas corarem. Baixei o olhar para meus pés.

- O que é então?

- É que você ficou lindo vestido assim.

Depois de falar ele ficou calado e eu me arrependi do que disse. Mas logo notei seu sorriso e aquilo por alguma razão me confortou.

- Quer que eu acenda a lareira?

- Não tudo bem.

- Mas está frio.

- Hoje não estou com tanto frio assim e eu sei que você não gosta de fogo.

- Como?

- Eu ouvi você resmungar ontem.

Ele sorriu outra vez e eu percebi que estava cada vez mais adorando ele.

- Tudo bem. Então se sente no sofá que eu farei uma coisinha para você.

- O quê? – o olhei desconfiada.

- Pare de me olhar assim. Não é nada demais. Sente-se que eu já vou lá.

Filhos da Escuridão ↬ Boo SeungkwanOnde histórias criam vida. Descubra agora