·Capítulo 1·

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Pov Corinna

  Meu nome é Corinna Porter, mas prefiro dizer que sou Corinna Müller. Os pais da minha mãe, o senhor e a senhora Müller, fugiram da Alemanha logo quando a Segunda Guerra Mundial estourou. Eles tinham um filho com quase dezoito anos, meu tio Joseph Müller, e não queriam um futuro na guerra para ele.

  O pai do meu avô, após servir na Primeira Guerra e ficar para sempre com traumas físicos e mentais, apoiou o jovem casal a fugir. Para ele, era melhor correr o risco de nunca mais ver seu filho e neto e saber que eles estão tendo uma chance, do que mandar os dois para aquele campo sangrento.

  Meus avós nunca concordaram com as ideologias nazistas e não sentiram peso algum ao abandonar a "pátria amada". Então eles juntaram o que podiam levar e saíram da Alemanha na primeira oportunidade que tiveram, carregando consigo o jovem filho.

  Após cogitar Brasil ou Estados Unidos, o casal decidiu tentar a sorte nas terras norte americanas, mas sua escolha logo se mostrou um erro. O único trabalho que conseguiram, pagava apenas um teto para que morassem e um mínimo de comida para que sobrevivessem.

  O seu filho adoeceu antes que pudesse completar os dezoito anos. O dinheiro não dava nem para a consulta com o médico, tampouco para os remédios. Eles tiveram que assistir a cada dia que passava o seu filho chegar cada vez mais perto da morte.

  Minha avó estava inconsolável quando Joseph finalmente morreu. O único motivo para toda aquela batalha e ter que passar por tudo isso era ele e agora ele tinha partido, deixando os dois com um abismo no peito.

  Seis anos depois, meus avós decidiram ter mais um filho na tentativa de preencher o vazio que havia ficado entre eles. Meus avós não tinham mais tantas esperanças, vovó já havia envelhecido bastante e poderia ser um problema ter um filho na idade dela.

  Tudo ocorreu bem até o nascimento da minha mãe. Era uma menina forte e eles a chamaram de Gertrud Müller. Passou da idade e mamãe ainda não havia dito nenhuma palavra. Meus avós não tinham como ter certeza, mas sabiam que ela havia nascido muda.

Meus avós nunca a amaram menos por isso. Por sorte ou destino, a senhora que morava ao lado era conhecedora da linguagem de libras e se ofereceu para ensinar a eles e a criança nas horas vagas.

  Minha mãe cresceu e se casou com um militar aposentado que usava uma prótese no lugar da perna esquerda, Charles Porter. Gertrud Müller tinha 16 anos quando se tornou Gertrud Porter. O veterano tinha quase o dobro da sua idade, mas teve o apoio dos meus avós porquê ele daria uma vida melhor a ela. Bom, foi isso que eles pensaram.

  Minha mãe viveu uma vida medíocre com um marido bêbado que a agredia. Ela perdeu o contato com meus avós ao se casar e mudar de Estado. Gertrud teve dois filhos, meu irmão foi o primeiro a nascer e quinze anos depois eu nasci. Parece que a maternidade mesmo em um útero envelhecido era um dom na nossa família.

  Charles era frustrado com a sua vida. Ele gostava de servir no exército, até o dia em que ele pisou em uma mina no Vietnã e acabou perdendo parte da perna, acho que ele preferia ter morrido aquele dia. Após a cirurgia e os cuidados, ele foi mandado para casa e nunca mais pode voltar para a carnificina da guerra.

  Papai dizia que eu tinha que ser boa em algo para não virar uma inútil como minha mãe e meu irmão. Ele dizia que mamãe tinha "estragado o garoto" e que não deixaria isso acontecer comigo também.

  Eu tinha que me esforçar quando corria nas maratonas para não ficar em segundo ou terceiro lugar e apanhar quando chegasse em casa. Charles dizia que o segundo e o terceiro lugar eram os primeiros a perder.

A Garota na Floresta | The Walking DeadWhere stories live. Discover now