Cena extra 1

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Não. Aquilo não poderia ter acontecido, não por sua culpa, ele não conseguia mais suportar. Sua esposa costumava ser tão espirituosa e corajosa, ela lutava pelos direitos dos mutantes e era uma imagem tão querida por seu povo... Alguém que não tinha limites quando estava tentando ajudar as pessoas, alguém que havia conquistado o respeito até mesmo da comunidade preconceituosa que não aceitava de nenhuma forma a população portadora de dons incomuns. Perto dela, Thomas não era nada, ele apenas usava suas habilidades para pesquisar sobre os mundos além da Terra em que viviam e entregava suas valiosas informações para o governo pelo dinheiro que eles ofereciam, não se importava, não era um herói. Ele nunca entendeu como uma mulher tão maravilhosa havia se apaixonado por si, mas ela o fez e se tornou uma luz tão preciosa em sua vida que de repente ficar calado e submisso pareceu tão errado que também começou a praticar o bem.

Parte dele morreu quando sentiu que a pulsação dela havia parado. Depois disso, somente seu filho conseguiu mantê-lo ativo, nada lhe dava a sensação de estar vivo como antes, ele apenas seguia existindo. Seu irmão foi quem lhe deu o maior suporte e fez com que os dias se tornassem menos insuportáveis, até mesmo o convenceu de que ajudar aquela estranha com o rosto de sua amada era a missão de suas vidas...

Agora toda a humanidade em seu planeta estava extinta, seu filho estava morto e tudo era sua culpa. As lagrimas não vieram quando a constatação o atingiu, mas seu corpo entrou em um estado monótono e ele começou a orbitar diante de um único objetivo: desfazer suas últimas decisões. Voltar no tempo era possível, alguém já havia conseguido isso antes nesse seu novo "lar". Chris permaneceu ao seu lado durante todo esse tempo, contribuindo com tudo o que podia e carregando o mesmo peso em seus ombros.

Juntos eles passam os últimos meses em uma pesquisa interminável sobre todas os caminhos que poderiam traçar, cada variável era considerada e, com o tempo, muitas foram descartas, enquanto outras continuavam no patamar das hipóteses. Já sabiam como voltar no tempo, porém precisavam ser perfeitos e não se permitiriam falhas.

Aquele era o dia de mais um pequeno teste, haviam encontrado uma brecha interdimensional com leituras de calor incomuns, ela era como um caminho direto entre o que costumava ser o seu planeta e aquele novo, quase como se alguém houvesse aberto uma passagem como uma das suas e a mantido desta forma por um longo, longo, tempo. Talvez aquela pudessem ser a resposta que faltava para completarem a tão complexa equação, precisavam arriscar.

Ninguém estava por perto quando Chris e Thomas romperam aqueles limites, não havia um único olho sobre suas atitudes e por isso não foi difícil que infringissem tantas leis. Camada por camada eles abriram aquele caminho, romperam barreiras e deixaram que o que se escondia ali pudesse sair. Embora tenham se deparado com um completo vazio inicialmente, não lhes parecia que isso continuaria desta forma por mais que um momento, havia algo se aproximando, algo com um chiado ensurdecedor e assustador.

O poder grandioso do outro lado fez com que hesitassem, eles não desejavam matar ainda mais pessoas e, portanto, antes que aquilo conseguisse atravessar já estavam a um passo de fechar a passagem. Mais perto, restavam pouco mais de um metro para que o portal desaparecesse, mas ainda era o suficiente para que um corpo humano conseguisse atravessa-lo. Daria tempo, precisava dar tempo. As coisas que se aproximavam ainda estavam longe, mas mesmo assim ele ouviu o ar sendo cortado e algo vindo diretamente em sua direção.

- SE ABAIXE! - Thomas gritou para o irmão, porém ele não conseguiu se mexer a tempo e o metal atravessou o crânio do outro. Com o corpo travado e em estado de puro pânico e choque o mutante não conseguia reagir, o único reflexo que conseguiu obedecer foi o que dizia que não deixaria que aquilo viesse para esse outro mundo.

Afastando os olhos do irmão ele voltou a se focar em fechar aquela passagem, toda a sua concentração foi colocada naquele ato, não falharia com aquelas pessoas, não como havia falhado com seu povo. O mutante dedicou tudo o que tinha naquele ato de desespero, mas não viu que o metal voltava a se mexer e que vinha em sua direção. O material o atravessou com um golpe letal que não lhe deu chances de resistir, porém permitiu que contemplassem um pouco do que havia causado.

Um homem atravessou o portal, ele possuía uma longa capa vermelhava e carregava um capacete de mesma cor em sua cabeça. Thomas conhecia o seu nome, como qualquer outro de seu mundo também o fazia. Ele o olhou como se sentisse ódio pelo simples fato de ainda estar respirando, mas não lhe concedeu nada além disso, havia algo maior com que se preocupar. Atrás dele, mais pessoas começaram a aparecer, rostos que temeu durante muitos anos, porém também rostos tão humanos que não pertenciam a pessoas diretamente associadas a um ser como Magneto, eram pessoas comuns, mutantes comuns.

O tempo não passou em sua realidade da mesma forma que havia passado naquela em que lutou, de alguma forma eles perceberam que algo estava errado e conseguiram fugir. Mesmo quando estava morrendo Thomas foi tomado por um alivio tão grande... Mais e mais pessoas foram ultrapassando aquela barreira, eles estavam tão apavorados, como se os gritos daqueles que não conseguiram partir ainda ecoasse por seus ouvidos. Seu último esforço consistiu em alargar a passagem para que eles viessem mais facilmente.

Conforme seus olhos embaçaram, ele deixou que um sorriso fraco tomasse seu rosto, até mesmo pensou ter visto a pele escamosa e as asas alongadas do filho que acreditou ter perdido. Era como um bom último fôlego para aquele planeta antes que ele se afogasse.  

Loki - A Profecia Do InfinitoWhere stories live. Discover now