Poderia destrancar a porta para mim?

3.4K 644 918
                                    

MinHo não chegou a imaginar que naquela casa continha esconderijos reais, talvez até passagens secretas para chegar ao lado de fora. Sentindo um sorriso surgir em seus lábios após dias sem um pingo de felicidade, correu para dentro da parte estreita e escondida do velho e assustador porão. O local não era tão confortável, era como um corredor de casa estreito e sem ventilação. A luz que ali pouco iluminava era fria e quase invisível. Haviam paredes rabiscadas e um baú de tamanho médio localizado no final do mesmo, próximo à parede. Mas era ótimo para se esconder.

— Gatinho, cadê você? — sussurrou, procurando pelo gato que não apareceu novamente para si após o ocorrido com o pentagrama.

Ele voltou ao centro do porão, encontrando o seu novo companheiro lambendo o próprio pêlo calmamente, sem um resquício de preocupação ou medo.

MinHo achara o pequeno adorável, e pensou que o melhor era não o levar para o esconderijo junto consigo por conta do forte cheiro podre que lá havia.
Voltou até lá, passando os dedos sobre os desenhos e frases contidas nas paredes. Frases do tipo "eu o odeio", "me tirem daqui!", "socorro!", "eu vou matá-lo" e desenhos de faces tristes e assustadoras existiam ali. Não sabia o que aquilo significava, entretanto, e piorou quando ele viu um desenho infantil feito à caneta vermelha. O vestidinho daquele desenho tinha manchas vermelhas assim como todo o resto de seu corpo, e sua face era dona de uma expressão triste.
O Lee voltou a sua atenção ao baú amadeirado que ali havia, indo até ele e puxando-o para si. Como todos os baús, aquele também estava trancado mas ele não percebera nenhuma chave enquanto andava por ali, sendo assim, nunca conseguiria abrí-lo. Suspirou, frustrado por conta de sua curiosidade, sentando-se de frente ao objeto pesado e o encarando como se em algum momento a força de sua mente fosse abrir aquilo. Mas não abriu, invés disso apenas enxergou algumas manchas ali, mas não se importou.
Verificou cada parte do baú, prestando atenção também na fechadura para assim tentar encontrar e reconhecer a sua chave, mas para ele, aquele não era o maior problema visto que poderia facilmente abrir o objeto com algum grampo ou pedaço fino de ferramenta.

Levantou-se, saindo dali enquanto passava os olhos novamente pelas paredes e seus desenhos.
Sua curiosidade ainda era presente, fazendo-o ter vontade de voltar ao local estreito apenas para poder fixar seus olhos nas paredes lotadas de rabiscos e entender o motivo de todos eles, e quem os fizera também. Mas fez o contrário, entrando novamente no pentagrama para poder tirar o gato de lá, o segurando em braços e acariciando seus pêlos de forma cuidadosa. Deu alguns beijinhos carinhosos no animal, tocando levemente seu narizinho com a ponta de seu dedo indicador logo após.
Andou até as escadas e saiu de lá sem ao menos importar-se em apagar a fraca luz que lá havia.

Em passos cautelosos andou de volta até a cozinha, olhando rapidamente para debaixo da mesa e fazendo uma nota mental de que da próxima vez poderia se esconder ali, isso é, se alguém não estiver o observando.

— Se nos perdermos um do outro, me encontre debaixo dessa mesa. Não saia dali enquanto eu não chegar, entendido? — sussurrou ao gato.

Continuou o seu caminho sem rumo, sem saber para aonde ir. De qualquer forma, não havia muito o que se fazer ali então decidiu procurar pela comida do gato, logo encontrando-a no canto da sala ainda lotada.
Permitiu-se descansar, sabendo que o felino estava bem alimentado. Sentou-se no enorme sofá, sentindo o gato se enroscar em seu próprio corpo ao que sentia as mãos leves de minho acariciarem seus pêlos. MinHo sorriu bobo enquanto imaginava suas gatas ali enquanto fornecia a elas carinho.
Não demorou muito para escutar passos. O gato levantou a cabeça, olhando fixamente para a escada. A escada. Jisung estava no andar de cima da última vez que se encontraram.
Os passos eram leves porém assustadores. Para MinHo, tudo o que vinha de Jisung era assustador, o seu trauma havia o convencido daquilo. O loiro estava descendo as escadas e não havia onde se esconder, não havia o que fazer.

— Oi, MinHo. Que incrível, você ainda está aqui! — exclamou Jisung. Seus olhos brilhantes como estrelas eram apertados por suas bochechas por culpa do enorme sorriso simpático — E vejo que encontrou Fluffy também.

"Fluffy? O nome dele não é Fluffy!" pensou o mais velho.

Jisung então se pôs a andar até o gato que se encontrava no colo de MinHo. O mais velho dali discretamente se encolheu, tentando não deixar o loiro perceber o nervosismo que sua presença causava em si. Estava sem reação, não sabia o que falar ou como agir e tinha medo de que Han se revoltasse. O bochechudo então ajoelhou-se, acariciando o pêlo do felino e sorrindo docemente.

— Eu senti a sua falta, bobinho. Você sempre vai passear e não volta mais. Mas e você, MinHo, já almoçou?

MinHo não respondeu sua pergunta, ao invés disso o encarou e percebeu que os olhos do mais novo não estavam escuros como antes.

— Jisung, está tudo bem?

— Sim, por quê não estaria? Eu só estou um pouco cansado, ontem ficamos até tarde acordados, não é? — se levantou, indo até a cozinha.

"Ontem? mas não foi ontem..." pensou.

— Sim, claro. Olha Jisung, eu já almocei e acho melhor eu ir para casa porque eu não aguento... digo, estou cansado, estou muito cansado. Será que poderia destrancar a porta para mim?

— Claro que posso, é só me prometer que voltará. — sua voz era calma e um tanto simpática, fácil de enganar qualquer um — Espere só um minutinho.

Após alguns minutos pôde-se escutar passos apressados do garoto voltando à sala novamente, procurava algo enquanto olhava para o moreno de vez em quando e lançava-lhe alguns sorrisos.
Enquanto isso, MinHo apenas sorria, mas não era por Jisung e muito menos para Jisung. Ele sorria porque finalmente sairia dali, estava quase pulando de alegria em frente à porta de entrada.

— MinHo, me desculpe mas não encontro as chaves. Pelo o que me lembro não tranquei as portas ontem, e não lembro onde as coloquei. — o encarou com uma feição decepcionada — Me desculpe de verdade.

Peek A Boo • hjs + lmhWhere stories live. Discover now