O medo faz o monstro parecer maior.

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[25.07.1955 ㅤ 19:48pm]

A gélida noite congelava as pontas dos dedos de Tzuyu, obrigando-a a vestir seu fino casaco. Naquela noite ela sentia mais frio do que o usual, e aquilo não era resolvido com aquecedor, casacos ou cobertores. Até mesmo na casa de Seungmin o frio era presente, e seus poros continuavam se dilatando sem pressa enquanto a noite caía.
Os dois se conheceram por culpa de Lilith que já não suportava ter o irmão falando sobre a garota, e resolveu tentar uma aproximação com a Chou e, finalmente, apresentar seu irmão mais velho à ela. E desde então, o coração de Seungmin acelerava todas as vezes que a garota encarava suas orbes.

O Kim deixara de comparecer às aulas por dias, e Tzuyu estaria mentindo se dissesse que não havia sentido falta do garoto. A amizade dos dois já era forte o suficiente para a garota perceber o vazio no peito quando não o tinha por perto. E, como uma boa amiga, ela resolveu visitá-lo e até mesmo presenteá-lo com alguns pedaços de bolo.
Não era novidade que Seungmin estava mal. Seus cabelos eram uma bagunça, seus olhos não tinham o mesmo brilho e eram tão vermelhos quanto o casaco moletom que vestia. Vez ou outra ele reclamava de dores na cabeça por culpa do choro intenso, e Tzuyu fazia questão de, calmamente, deitar a cabeça do garoto em seu ombro e trabalhar com seus dedos em seus cabelos afim de deixar uma carícia ali. Não demorou muito até que o amigo adormecesse ali, com seus olhos fechados ainda liberando alguns resquícios de lágrimas e seus cílios de tamanho mediano molhados.

E já era noite quando Tzuyu decidiu que deveria voltar para casa, deixando para trás um Seungmin adormecido junto a um beijinho em sua testa.
Ela tremia ao que o vento gelado adentrava seu fino casaco e lhe acariciava a pele, e as folhas das árvores saudáveis que ali havia produziam barulhos. A garota estava pronta para começar o seu trajeto até a sua casa se não fosse pela curiosidade de caminhar até a frente da casa de seu amigo e vizinho de Seungmin. A casa da tragédia.
Seus olhos se inundaram e ela tentou segurar as lágrimas, mas foi em vão quando encarou o chão. A saudade apertava seu peito, e a culpa por não ter o ajudado quando precisava a torturava. Não era como se ela fosse ruim, muito pelo contrário. A verdade é que ela sabia nada sobre a vida de Jisung, e só descobriu todos os problemas do garoto e sua família pois Seungmin a contara.
O nó se formava em sua garganta, sufocando-a. Ela não podia chorar, não naquela rua com alguns carros passando e motoristas lhe encarando em curiosidade, e por isso, resolveu entrar pelo menos no quintal e descarregar todo o peso que caía em suas costas e atravessava o seu coração.

Arrepios tomaram conta de seu corpo ao abrir o portão e a ventania bagunçou seus cabelos. E, em meio a escuridão, ela se aproximou da porta e fechou os olhos ao tocar o objeto amadeirado, se entregando ao pranto que ameaçava.
Indecisa, se questionou se deveria adentrar a casa. Seus dedos finos e gelados na porta tremiam, e após tantas incertezas, ela finalmente decidiu abrir o objeto largo. O ranger da porta ecoou assustadoramente pela casa enquanto mais lágrimas trilhavam o caminho de sua face. Ela conseguiu sentir todo o peso que Jisung carregava. Ela conseguiu sentir a bagunça de sua mente e o medo residir em seu coração, assim como residia no de Han. Ela conseguiu sentir a solidão.
Alguns soluços fugiam de sua garganta, ansiando por um pouco de liberdade. E, em passos lentos, ela trilhou um caminho desconhecido e fez questão de observar cada canto da casa. Nas paredes haviam quadros pintados de sua família, assim como também haviam alguns retratos emoldurados. Eles eram sem cor. Não de uma forma material, mas sentimental. O senhor Han não sorria, e sua feição quase formava uma carranca. Era perceptível que ele não queria estar ali. A senhora Han, por sua vez, tinha um sorriso forçado. Ela não sorria com os olhos, e o brilho destes estavam apagados. Jisung estava no centro, tendo as mãos da mulher apoiadas em seus ombros que estavam tensionados. Ele tinha medo. Seus olhos eram arregalados e seu peito estufado, dando a entender que ele prendeu a respiração por medo de cometer algum erro ao posar para a foto.

Peek A Boo • hjs + lmhWhere stories live. Discover now