Pesadelos infinitos, ferimentos reais.

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— Não encontra as chaves? — o olhou incrédulo. De repente seu tom de voz se tornara um pouco mais arrogante sem ao menos perceber — Como você não consegue encontrar as chaves de sua própria casa? Porra, Jisung, qual é o seu problema?

— Me desculpe, eu realmente não me recordo onde as coloquei.

Após a sua breve e verdadeira explicação, Han voltou à cozinha, ignorando o maior e se tornando determinado a cozinhar algo para saciar sua fome.
Enquanto isso, MinHo sentava no chão voltando a chorar novamente. Sentia que sua cabeça iria explodir de tanta dor mas não se importava no momento.
Levantou-se após alguns minutos de lamúrias, ainda com lágrimas inundando seus olhos e andou até a cozinha quando escutou Jisung chamar por seu nome em um pedido educado para que fosse a seu encontro. Por outro lado, Jisung esperou até ver o corpo do maior parado à sua frente na extensa cozinha.

— Eu não lhe contei que existe a porta dos fundos, podemos tentar a sorte se você quiser.

— Duvido que esteja aberta, você não é misericordioso à esse ponto. — revirou os olhos, porém concordou em seguir o loiro — mas vamos lá.

Esperou que o bochechudo andasse para então poder seguí-lo mas ele nada fez; não andou e nem moveu um músculo sequer. Jisung apenas o encarava, este que não sabia distinguir os pensamentos do menino pela sua expressão facial.
O moreno queria poder ler a mente do outro, queria saber o que havia acontecido com o Jisung que estava à ponto de o matar. Embora curioso ainda estava amedrontado, mas espantou todos os pensamentos e desejos ao sentir a atmosfera pesar no local.

— Jisung...? Você não vai me mostrar a porta dos fundos?

— Eu vou sim, só queria entender o porquê de estar me tratando dessa forma. Por que não sou misericordioso? O que houve?

MinHo congelou. Uma parte de si trazia novamente aquela sensação de querer disparar em corrida semelhante a noite em que o bochechudo o convidou para entrar em sua casa; entretanto, outra parte de si dizia que ele deveria ser mais educado com o menino, aliás, ele era um tanto quanto fofo e simpático, mesmo sendo assustador.
Mas mesmo assim, ainda não sabia se Jisung estava fingindo ser simpático para atraí-lo novamente, deixando-o desconfiado.

— Não é nada, me desculpe. Estou tendo bastantes pesadelos e isso vem me estressando, me desculpe.

— Pesadelos, sim? — não tardou a dar passos lentos, e com um maneio de cabeça pediu que MinHo o seguisse — Como são esses pesadelos?

A voz de Jisung era lenta e calma, sem um resquício de maldade, apenas curiosidade. Fixou seus olhos nos de MinHo, ansiando por uma resposta.
O Lee decidiu abaixar a guarda após a pergunta de Han, entrando no assunto como se tudo não passasse de um enorme e cansativo pesadelo.

— Bom, são várias coisas e eu não sei se vou lembrar de tudo — mentiu —, mas basicamente eu estava preso em algum lugar com um demônio. Nós brincávamos de pique esconde, e era muito escuro e assustador. Havia sangue em alguns lugares, cruzes invertidas e eu escutava passos por toda a casa enquanto estava escondido.

Contava enquanto o seguia, andando ao seu lado. Não queria contar tudo explicitamente para o menor, não confiava no garoto e nem em sua própria voz que poderia falhar à qualquer momento, ora por conta do medo, ora pela vontade de desabar em lágrimas, porém foi falho.

— Ele me disse que minha alma pertenceria à ele se me encontrasse, mas eu o encontrei. Eu não deveria mas fui até ele. — sua voz embargava à cada palavra pronunciada — ele me machucou, Jisung. Foi o pior pesadelo que eu já tive.

— Ele te machucou? — perguntou com uma expressão triste, percebendo que já haviam encontrado a antiga porta amadeirada — E esses machucados em seu corpo...?

MinHo hesitou por um momento, e acabou sem dizer uma vogal sequer.

— Já percebeu que alguns pesadelos são mais infinitos e reais do que outros? Talvez esse seja o seu caso porque mesmo que você esteja acordado o pesadelo ainda está lá.

— O que quer dizer com isso?

— Que os seus pesadelos podem não ter sido apenas pesadelos visto que você tem ferimentos reais. — respondeu de forma simples, tocando a maçaneta da porta cujo estavam à procura — E você não estava com esses ferimentos ontem, além de eles estarem cicatrizando. O que aconteceu, hyung?

Girou a maçaneta uma vez, olhando para MinHo logo depois em um pedido de calma e paciência silencioso. Girou outra vez mas a porta não abria, Jisung então perdeu toda a paciência que armazenava dentro de si e girou rapidamente e fortemente a maçaneta várias vezes.

— Não vai abrir, Jisung, não adianta. — disse calmamente em um tom de voz consideravelmente baixo.

MinHo então deu meia volta, andando até o local onde antes estavam e escutando alguns murmúrios da parte de Jisung antes de sair dali. Acreditou que o mais novo havia desistido de abrir a porta assim como ele mesmo já havia desistido de tentar se livrar daquele pesadelo.
Foi até a sala e acomodou-se no sofá, pensando em alguma resposta boa para a pergunta que o loiro havia o feito minutos atrás. Aqueles machucados foram feitos no dia anterior e já estavam cicatrizando... mas como?
O gato. O gato havia sumido após ser chamado de Fluffy por Jisung, e para MinHo essa foi uma ação um tanto quanto aceitável por parte do felino visto que seu nome além de ser feio não combinava consigo.
De qualquer forma, ele poderia enganar Jisung dizendo que o gato havia o machucado ao se encontrarem.

Ele só teria que se desculpar com o seu novo amigo depois.

Peek A Boo • hjs + lmhUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum