Capítulo 2 - A Livraria

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"Não espere eu ir embora pra perceber"
Me Adora - Pitty

•••

Quando cheguei na livraria ele já estava lá, sentado numa das poltronas do primeiro andar. Olhei de relance, e vi que estava lendo um livro de culinária.

- Esperando muito tempo? - perguntei.

- Oi Bruno! - levantou-se e apertou minha mão - Não, eu cheguei faz uns 20 minutos e o tempo passou rapidinho lendo esse livro. Como você está?

- Estou ótimo! E então, já sabe o que vai discursar no vídeo?

- Sim já sei, porém vamos ver se eu vou ter uma boa desenvoltura ao falar né. Vamos repetir até sair legal.

- Certo, então vamos começar?

- Ok! Toma aqui, grava no meu celular.

Ele me deu o aparelho que já estava na câmera de vídeo, sentou-se novamente na poltrona e começou a falar.

Tinha que ser uma mensagem rápida, e durou mais ou menos 1 minuto. Tentamos com ele sentado por 3 vezes, em uma delas ele errou. Daí pegou o celular para ver como o vídeo tinha ficado.

- Hum, essa iluminação aqui não tá legal. Sabe de uma coisa? Vou fazer o vídeo de pé, ali naquele canto, na frente da prateleira e debaixo daquela lâmpada - apontou para um canto a alguns metros de nós - Vamos, acho que vai sair bem melhor lá.

Fomos para um cantinho quase escondido entre duas estantes de livros, e realmente, a luz estava mais favorável, nem iria precisar do flash ligado. Enquanto ele repassava mentalmente o que iria dizer, olhei para o celular, nisso, percebi que a luz da tela estava escura, faltando poucos segundos para bloquear o aparelho.

Apertei duas vezes pra ela ligar novamente, porém a acabei voltando para a tela inicial, bem, ao menos não tinha bloqueado. Foi naquele instante em que apertei o botão do menu, que o meu coração acelerou.

•••

Foram os 4 segundos mais longos no qual eu já havia notado, embora tenha sido muito rapido. Mas foi o suficiente para aquela imagem transpassar os meus olhos, e penetrar na minha mente.

O Grindr estava instalado no celular dele, eu sabia o que era aquele aplicativo, qual o público alvo dele, e qual era o intuito de alguém que o procurava.

- Oiii, vamos começar? - ele estalou pra mim.

Coloquei na função câmera novamente e liguei a filmadora. Eu estava queimando por dentro, mas fiz o possível para transparecer total naturalidade, e consegui.

Ele decidiu onde ficaria e continuamos a filmar. Eu nem sei como consegui segurar aquele celular, só sei que enquanto ele falava, eu não olhava para a tela, olhava para ele, diretamente, e a única pergunta que eu me fazia era.

"Porquê?"

- E aí, vamos ver se ficou bom? - disse ele depois de filmarmos duas vezes seguidas, e finalmente ele se contentar com um dos vídeos.

- É vai ser esse aqui mesmo, quando eu chegar em casa, vou editar e mandar para o esposo da minha amiga, ele é quem está organizando tudo isso.

- É ficou bom mesmo - falei com um sorriso, mas saiu quase como se estivesse rasgando minha boca.

- Tô com fome, vamos comer alguma coisa? - falou com a mão na barriga.

Eu tinha perdido um pouco a fome, meu estômago embrulhava, mas tinha que manter a naturalidade.

- Vamos, também tô morrendo de fome - as mentiras saiam naturalmente da minha boca agora.

•••

Fomos em direção ao Marco Zero, e pesquisamos alguns lugares. Decidimos experimentar o yakisoba de um tal Love Japan, um restaurante que fica em um dos Armazéns do Porto.

Eu comi tudo pois estava a horas sem comer nada, e decidi afastar aquilo que vi da minha mente por um momento, e não atrapalhar o meu apetite, além de que, estava realmente muito bom.

Mas estaria mentindo se dissesse que aquela comida desceu com facilidade, eu não parava de formentar coisas na mente. Olhava pra ele, e só ficava imaginando cenas dele com outros caras, outros garotos. Isso me deixava querendo vomitar. Mas será que não estou sendo precipitado demais? Será que ele realmente está usando isso, ou há alguma explicação?

A resposta só veio 1 semana depois.

Nada a Esconder [Concluído]Where stories live. Discover now