"Você é tão gay e nem gosta de garotos"
Ur so Gay - Katy Perry•••
No dia seguinte, eu estava em casa e eis que chega uma notificação no meu Grindr. Um rapaz puxando assunto, embora eu não estivesse com muita vontade de teclar, acabei cedendo. Ele tinha um bom papo, e após muito insistir, acabei aceitando ir na casa dele, dessa vez precisei pegar um ônibus pois ele morava em Piedade.
Era sábado de Carnaval o início de todo o feriadão e a muvuca já tinha começado. Eram 09:00 da manhã e estava mais do que óbvio que eu iria pegar o ônibus cheio, acertei a aposta comigo mesmo, e fui em pé a viagem inteira, com um grupo no fundão do ônibus ouvindo brega funk nas alturas.
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Peguei o segundo ônibus para Piedade, dessa vez conseguindo sentar e ter uma viagem mais calma, quando cheguei no local marcado, ele já estava lá me esperando, era em frente à uma farmácia. Óculos escuros, bermuda jeans, camiseta regata vermelha, o cabelo preto bem penteado, corpo comum de um rapaz nos seus 25 anos que não malha, mas tem boa forma.
- A viagem foi tranquila? - ele perguntou enquanto apertava minhas mãos. - Prazer, sou Kléber
- E aí, prazer Victor - mais um para a lista dos nomes que vou esquecer - Pra ser sincero? Não Kléber. A pior coisa é andar de ônibus em pleno Carnaval, é pedir pra ter uma enxaqueca de graça. - andamos em direção à casa dele enquanto conversávamos
- Eu não curto Carnaval, vou ficar em casa esse feriadão todo, quem está lá no galo são meus tios, moro com eles, aí vou ter a casa pra mim nesses horários.
Uns 200 passos da farmácia até a casa dele, que ficava numa rua transversal à principal. Era um primeiro andar, e ele morava no térreo.
- Pode entrar, quer um pouco de água? - perguntou enquanto ligava a tv e seguia para a cozinha
- Não tô de boas
- Ok, Ah pode sentar aí no sofá tá, se quiser mudar de canal, pode mudar.
Eu não me sentia a vontade com isso, e mesmo que sentisse, a maioria dos canais estava passando a mesma coisa, transmissão do Galo da Madrugada. Ele se sentou ao meu lado e colocou o braço sobre o meu ombro.
- Você é solteiro? - perguntei.
A pergunta pareceu pegá-lo um pouco de surpresa, mas ele respondeu sem rodeios.
- Não, eu tenho namorada.
- Ahh - nem fingi surpresa - você é bi então.
- Não me considero bi, eu sou só curioso. Gosto de pegar caras as vezes, mas não curto homem.
- Ahhh tá!
Então eu encontrei o hétero, que come os gays passivos às escondidas, oculta da namorada pra não parecer menos homem, e deve ser corno também.
Eu poderia bater na minha própria cara por ter permitido, mas eu olhei pra todo aquele sacrifício que fiz no caminho e vi que eles seriam jogados no lixo caso eu desse pra trás, então eu deixei que ele continuasse o trabalho.
E como ele mesmo falou, ele só é o cara que curte pegar gays de vez em quando. Mas não teve pegada, e gozava rápido demais, tipo, coisa de 3 minutos, no máximo.
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Fizemos 2 vezes, após ele dizer que estava com muito desejo na primeira, mas a segunda foi o mesmo fiasco. Me pergunto até hoje como eu fui me prestar a esse papel.
Depois que nos vestimos, ele puxou uma cadeira da mesa da cozinha e sentou a alguns centímetros de mim, bem diferente da recepção pré-sexo.
- E então, você gostou?
Eu estava de cabeça baixa quando ele disse isso, amarrando o cadarço do sapato, e ali mesmo eu queria ficar, sem ser obrigado a responder essa pergunta. Quando eu olhei pra ele, parecia mesmo estar muito interessado na minha opinião, então não tive escolha e menti
- Sim Kléber foi bom.
- Só bom? - ele fez uma cara de choro falso que não convenceu.
"O que mais você quer meu filho?" - pensei.
- Tipo, foi bom Kléber, foi legal, eu gostei - mentira, mentira, outra mentira.
Eu tinha tudo pra esculachar e fazer com que ele atingisse um pouco de bom senso, mas naquele momento eu só desejei que outro fizesse isso por mim no futuro. Naquele momento eu estava com 0 vontade de dar explicações.
- Tá ok então, que bom que gostou. Quem sabe um dia rola de novo.
"Não" - pensei.
- Quem sabe né - eu disse.
- Ahh que bom. Depois a gente conversa mais no Whatsapp então, vou deixar teu número salvo aqui.
Eu estava incrédulo comigo mesmo, tinha esquecido que trocamos WhatsApp. Mais um pra eu bloquear, e isso dá preguiça.
"Que merda" - pensei
- Tá bem - eu disse
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Teve mais alguns poucos diálogos entre a gente, enquanto ele se vestia novamente pra me levar pra parada de ônibus. Em cada coisa que ele me dizia, eu só me perguntava se a namorada dele já não desconfiava que ele pegava rapazes, ele tinha todo o layout, embora eu não me preocupar muito com isso, mas era de se estranhar. Quando chegamos na parada de ônibus, o meu já estava vindo ao longe, ele me deu um aperto de mão antes de seguir de volta
- Não vejo a hora de ficarmos de novo, já quero replay.
"Sonha" - pensei.
- Aham, beleza - eu disse, mas ainda bem que o block eterno resolveria a situação.
Dei uma paradinha no Aeroporto para almoçar e quando dei por mim já eram 13:00hrs. Segui o meu caminho pra casa, e quando cheguei, minha família já havia saído para a casa de praia aproveitar o feriadão, tive a casa toda pra mim, e passei a tarde inteira ouvindo música com o som nas alturas.
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Nada a Esconder [Concluído]
Short Story*Baseado Numa História Real* Bruno e Adriel tem um relacionamento sério, no qual não assumem para as pessoas. Por medo do preconceito da sociedade, e também da sua própria relutância em aceitar-se totalmente. Adriel é 12 anos mais velho que Bruno, q...