Capítulo 9 - Quem Procura, Acha!

89 8 0
                                    

"Querido, como você consegue dormir se mente pra mim?"
How do You Sleep - Sam Smith

•••

Aconteceu no mês de novembro. Éramos do mesmo mês e ele fazia aniversário 11 dias antes de mim.

Foi numa noite em que estávamos na casa dele, e eu pedi o notebook emprestado. Ele já havia me emprestado outras vezes, então não desconfiou de nada.

Menti, dizendo que era para fazer um design no Photoshop para a minha mãe, mas na verdade, o que eu queria mesmo, era descobrir o que a minha mente tanto acusava.

Naquela noite, cheguei em casa com os dedos fervilhando, mas decidi me poupar um pouco. Tomei banho e me organizei na cama, antes de ligar o notebook, coloquei o fone de ouvido no celular e ouvi Jar Of Hearts, inteira do início ao fim. Assim que terminou, liguei o notebook. Eu sabia que a conta Google dele ficava ativa no navegador Chrome, apenas isso foi o bastante, para eu poder ter acesso aos dados do celular dele. Aplicativos, e-mail, fotos, histórico de pesquisa, nuvem e etc.

•••

O e-mail foi o primeiro lugar que eu procurei. Era lá que estaria a principal informação que eu queria, e logo de cara eu achei.

Recibos do Uber.

Um deles me chamou a atenção, um recibo que marcava o valor de uma viagem feita no horário das 22:50. O destino era um bairro vizinho, e a viagem teve retorno na madrugada por volta das 00:30.

"Cafajeste, filho da puta" - xinguei mentalmente.

Fui vasculhando mais a fundo, e era uma decepção atrás da outra. Além dos recibos do Uber, que comprovavam as viagens, também tive acesso ao histórico das atividades feitas no celular dele, desde a data de compra até aquele dia.

E o que descobri foi o estopim, para fazer com que a minha tristeza se transformasse em ódio. Ele vinha instalando o Grindr desde o dia em que nos conhecemos.

Estávamos juntos à 1 ano e meio, e todo esse tempo eu fui feito de trouxa, e ali estava a prova, estampada violentamente na minha cara.

Enquanto me iludi, achando que só eu bastava, ele partilhava seu tempo de conversa com outros. E o pior foi que, ele soube disfarçar isso tão bem, que eu não me dei conta.

Pelo fato de ele prezar o sigilo, por ele não querer se expor tanto, jamais desconfiei que ele se envolveria com outras pessoas.

Vi que me enganei.

"Estúpido é o que eu sou" - eu não parava de me martirizar.

•••

Chegou um momento naquela noite, em que eu já não queria ver mais nada. Já eram 01:30 da manhã, e enquanto todos na minha casa dormiam, eu estava ali.

Lágrimas nos olhos, chorando em silêncio, descobrindo que aquela pessoa, na qual eu aprendi a amar e admirar, estava me fazendo de palhaço.

E eu só queria saber porque ele não poderia ter sido sincero antes, porque me enganava daquela forma. Ele teve todas as oportunidades de jogar limpo, desde que eu vi logotipo do app pela primeira vez no celular. Mas preferiu mentir e omitir os fatos, impulsionando mais ainda a desconfiança que se fazia presente na minha mente.

Naquela noite, eu passei horas sem dormir, não conseguia parar de chorar e soluçava com o travesseiro no rosto.

Eu tinha vontade de gritar, mas infelizmente não pude, e naquele momento, eu estava sozinho, sem ninguém pra contar, sem ninguém pra desabafar. E por alguns momentos, eu pude sentir a depressão querendo tomar posse de mim, então, permiti que ela me visitasse aquela noite.

Mas somente aquela noite.

Nada a Esconder [Concluído]Where stories live. Discover now