Capítulo 27 - Desmoronando

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"O que me importa, ver você chorando. Se tantas vezes, eu chorei também"
O Que me Importa - Marisa Monte

•••

O meu relacionamento com Adriel foi definhando aos poucos, a gente só não queria enxergar isso.

Dois meses depois da viagem eu o estava traindo novamente. Diferente das outras vezes, eu não contei para Adriel sobre os outros encontros que tive. Eu queria deixá-lo ir, ao mesmo tempo que também não queria. E tinha medo de acabar me decepcionando, caso permitisse que ele fosse embora da minha vida.

Eu até que tentei terminar com ele uma vez. Marcamos quando eu saísse do trabalho, e eu iria encontrá-lo na praça de alimentação do Aeroporto pra lanchar alguma coisa. Só que não houve lanche algum. Eu o esperava próximo aos janelões de vidro, onde poderíamos ver os aviões que pousavam e decolavam.

•••

Assim que ele chegou, eu não quis perder muito tempo e o convidei para sentar em uma mesa.

- Adriel, tenho uma coisa pra te dizer.

- O quê?

- Eu acho melhor a gente terminar.

Ele ficou atônito naquele mesmo instante, segurou minhas mãos em cima da mesa e apertou-as contra os dedos.

- Não, isso não tá acontecendo, por favor Bruno, não faz isso.

- E necessário Adriel. Vamos dar um tempo.

- Que tempo Bruno? Não quero dar tempo nenhum, eu quero você.

- Mas eu preciso realmente de um tempo pra mim, eu quero me reencontrar, quero um tempo pra mim mesmo.

- Existe outro alguém Bruno? Por favor seja sincero.

- Não Adriel, não tem ninguém.

Ele manteve os olhos fixos em mim como se não acreditasse em nada do que eu disse

- Bruno, tem alguém? Você está apaixonado por outra pessoa?

- Adriel caramba, não tem ninguém. Eu quero esse tempo pra ficar à sós comigo mesmo, como eu vou perder tempo me apaixonando novamente?

- Por favor não faz isso.

- Já está feito Adriel.

- Se você realmente quiser isso eu saio daqui nesse instante, e você não me verá mais - disse com um olhar de decisão pouco convincente.

- Infelizmente eu não posso lhe impedir.

Ele se levantou da mesa e desceu a escada rolante até a saída da passarela que interliga o Aeroporto ao metrô. Eu dei um tempo de 10 minutos, suficientes pra ele se adiantar e pegar o metrô antes de mim. Meu coração estava em frangalhos, mas eu precisava fazer aquilo.

•••

Quando eu decidi que poderia ir, desci pela escada rolante também e quando cheguei do lado de fora do Aeroporto dei uma olhada aí redor pra tentar ver se ele realmente tinha ido embora. Não vi ninguém. Então fui em direção à passarela e passei a catraca.

A passarela do Aeroporto de Recife é enorme, e passa por cima de duas avenidas principais, e várias ruas transversais antes de chegar no terminal do metrô. Eu estava sozinho no meio daquela imensidão, e eu andava em passos rápidos. Quando em certo momento, eu o vi agachado próximo à uma coluna de ferro da passarela. Estava chorando, e observando a avenida logo abaixo através do vidro da janela.

Meu coração acelerou no mesmo instante, mas eu cruzei com ele impassível e acelerei ainda mais os meus passos.

"Não posso me permitir enfraquecer agora, não posso" - pensei

Passei direto e procurei não pensar que ele ainda permanecia ali, mas era impossível. Continuei andando e infelizmente eu havia perdido um metrô quando ainda estava no meio da passarela.

"Droga" - pensei


Tudo que eu queria era chegar logo em casa. Quando finalmente subi na estação, fui para o final da plataforma. Não demorou 2 minutos e ele subiu também, mas ficou na outra ponta.

O metrô chegou, eu fui para o último vagão e ele entrou no primeiro, era uma viagem de 3 minutos pois era um percurso curto entre uma estação e outra. Assim que desci do vagão, eu pude vê-lo subir as escadas em direção ao terminal de ônibus, e dei um tempinho de 1 minuto.

Quando cheguei no terminal o perdi de vista, mas acreditei que já tinha pegado um ônibus que já estava no embarque.

Então eu peguei o meu fone, e coloquei Marisa Monte pra tocar no Spotify, e a primeira música que tocou foi "O Que me Importa" e foi quase como uma flechada diretamente em mim.

Toda a viagem de ônibus até em casa foi ouvindo músicas tristes e melancólicas. Não estava com clima pra colocar música pop e tentar amenizar o que eu estava sentindo. Minha meta era chegar em casa, tomar banho e ir dormir, infelizmente, nada saiu como planejado.

Nada a Esconder [Concluído]Where stories live. Discover now