Capítulo 6 - As Vozes na Cabeça

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"Só é preciso um movimento ousado para mudar tudo"
Lying Down - Celine Dion

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A viagem para Garanhuns foi um final de semana, num hotel localizado bem no centro da cidade. Era a minha primeira vez lá, e eu adorei cada instante da viagem, naquela cidade maravilhosa.

Era início de Setembro, o mês das férias de Adriel, e eu estava trabalhando, mas consegui pegar um final de semana. Então tivemos que voltar na segunda bem cedo, e da rodoviária do Recife eu iria direto para o trabalho.

Voltei pra casa sentindo, como se tivesse feito uma das melhores viagens da minha vida, até aquele momento. Não sabia eu que daquele mês em diante nada voltaria a ser como antes.

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Aconteceu no penúltimo sábado do mês de Setembro, um sábado qualquer, no qual eu estava no trabalho pela manhã, e largaria à tarde. Fui no Shopping Recife comprar umas coisas pra mim antes de ir pra casa, e durante a viagem de ônibus na volta, as vozes na minha cabeça começaram a falar comigo.

"Você vai mesmo esquecer? Você vai fazer papel de trouxa? Você vai fingir que viu coisas? Você sabe o que viu! Você sabe que é verdade!"

As vozes ficavam mais altas, e nem a música que eu estava ouvindo no fone de ouvido, ajudava a me fazer esquecê-las. Todo o caminho eu vim pensando naquilo.

"Será que eu estava errado sobre ele esse tempo todo? Poxa, mas a gente tem vivido tão bem essas últimas semanas. Está tudo perfeito!"

Mas as vozes continuavam a me acusar. Me mandavam ter cuidado, me precaver, me preparar, investigar.

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Cheguei em casa naquele dia cansado da agitação do shopping, e da viagem de ônibus. Deitei na cama e fiquei um tempo ali, as vozes continuavam. Eu não iria ficar sossegado até tomar alguma atitude.

Até que minhas mãos percorreram a cama até o celular que estava jogado logo ao lado. Abri a Play Store e digitei o as letras: G-R-I…

E não precisei completar, pois a sugestão veio logo abaixo. Fiquei uns 2 minutos apenas lendo a descrição do app, mas aquilo não me interessava, só estava pensando se realmente deveria fazer.

Instalando…

Assim que a instalação terminou, tratei de colocar o app em pasta oculta e o retirei do menu. Ao abrir, me deparei com a tela de login/cadastro. Fiz uma conta fake usando o nome de Guilherme, e procurei uma foto convincente de algum cara com perfil aberto, numa rede social pouco conhecida. Acabou que achei um rapaz goiano, printei algumas fotos da timeline dele, e usei uma como perfil do Grindr.

Enquanto eles moderavam a imagem, fui rolando a lista com fotos de corpo sem cabeça, peitorais à mostra, e perfis sem rosto com nome escroto. Apenas alguns poucos mostravam o rosto por inteiro. Não precisei descer muito para notar uma foto que me pareceu familiar. Abri o perfil e a foto preencheu a tela.

"Puta que pariu! É ele!"

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Não, obviamente ele não mostrava o rosto, mas era uma foto dele. Que talvez ele não lembrasse que eu tenha visto, mas vi. Isso aconteceu a poucos meses, quando ele havia me pedido pra passar umas fotos que estavam no pendrive dele, para o notebook novo assim que ele o comprou, pois estava com preguiça de fazer a transferência.

"Amém pela sua preguiça, Adriel." - pensei.

Graças a ela, pude reconhecê-lo. Estava sentado numa cadeira de balanço, apenas de calça jeans, sem camisa, não mostrava o rosto, mas eu reconheceria aquela calça e aquele corpo em qualquer lugar.

Nada a Esconder [Concluído]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora