Cygnus

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Eu não tinha conseguido dormir. Por mais que fechasse os olhos e tentasse descansar, minha mente não deixava. Eu até tentei cobrir a cabeça pra ver se conseguia, mas nada resolveu.

Pouso depois, Taehyung voltou com a caneca e um pedaço de pão com frutas cristalizadas. Entrou na cabine bem devagar, provavelmente achando que eu não estava acordado.

— Ué, você não dormiu? — Riu, se aproximando de mim.

Me sentei na cama, puxando a coberta para perto.

— Não consegui.

— Está assustado com o que aconteceu? — Sentou-se ao meu lado, me oferecendo o café.

— Talvez eu esteja um pouco. — Confessei, pegando a comida.

— Relaxa, isso costuma acontecer mesmo. Já caí no mar várias vezes. A diferença é que eu nado pra sair de lá, e não me deixo levar pelo peso da água. — Levantou as sobrancelhas, sugestivamente. — Por que não tentou sair? Assim que você caiu, eu pulei atrás, e você já estava longe.

— Eu estava sentindo dores por causa da pancada. — Beberiquei o café. — E eu não sei nadar.

Seus olhos triplicaram de tamanho e ele ficou me encarando, como se eu fosse um alienígena.

— O que foi?

— Não acredito que você está dentro de um navio e não sabe nadar. Porra, Jungkook!

— Ah eu não sabia que tinha requisito para ser sequestrado. — Eu adorava frisar que não estava lá porque queria, mas sim porque eles mesmos me levaram depois de invadir minha casa.

— Mas antes de ser sequestrado, você me procurou para pedir ajuda, e já sabia que iria entrar no navio, se eu topasse. — Me olhou sugestivamente, como se estivéssemos competindo para quem tivesse a melhor justificativa.

Dei de ombros.

— Que seja, Taehyung.

— Ué, desistiu de argumentar? — Riu, arrastando para trás, e encostando na parede. — Sabia que eu ganharia essa, né?

— Não. Só não vai fazer diferença, a gente ficar aqui discutindo quem tem culpa por eu estar aqui sem saber nadar.

— Faz sentido. — Seus olhos percorreram o quarto e pararam nos livros abertos que estavam no chão.

— Como conseguem esse tipo de comida? — Perguntei, notando o quão gostoso era o pão. — Roubam também?

— Já te falei que agora só irei te dar coisas compradas. — Inclinou-se um pouco para frente, ainda encarando os livros. — A gente tem tipo uma sociedade com o comércio da área. Roubamos uns lugares e com a mercadoria, trocamos por outras coisas, em outros lugares.

— Então querendo ou não, esse pão é fruto de um roubo.

— Não é. Se eu troquei dinheiro por ele, eu comprei. Não interessa de onde veio o dinheiro, mas eu compro as comidas.

— Hm.

— E pare de reclamar, porque vai matar sua fome do mesmo jeito.

— Abusado. — Resmunguei, ainda vendo ele encarar os livros. — O que tanto olha para aqueles desenhos?

— Não sei. Me parece familiar em alguma coisa. — Fez um bico e negou com a cabeça. — Mas é como se algo estivesse faltando ou fora do lugar. Não sei...

— Entendi. — Mordi o pão mais uma vez, e ele finalmente parou de encarar os livros, e trouxe o foco para mim. Ri meio sem jeito, colocando a caneca na boca e tentando disfarçar o incômodo que não deveria estar ali.

Leom (jjk+kth)Onde histórias criam vida. Descubra agora