Segredos escondidos

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Eu vou dizer até o fim que as águas da cachoeira são mágicas. Depois de tomar um banho bem completo, eu finalmente consegui apoiar meu pé no chão. É claro que ainda dá uma dorzinha, mas não é nada que obrigue John a ter que me carregar para todo lado, e também, neste momento, existe outra coisa que dói mais que meu tornozelo, o que faz meu foco sair totalmente do pé.

Tudo dói. Sentar dói, andar dói, deitar dói, mas eu não me arrependo de nada, e minha sorte é que eu estou com o tornozelo machucado, o que me permite a mancar por aí, sem que desconfiem que meu ponto secreto está dolorido.

— Pegue mais um pouco. — Jimin me oferece uma casca de coco com frutas picadas, que os piratas colheram enquanto vinham trazendo lenha para a fogueira da noite.

Perto da cachoeira é cheiro de árvores frutíferas, e isso foi muito bom para nós, já que vamos comer o que restou do animal do almoço, e agora teremos frutas para fazer de sobremesa, e também de café da manhã, para substituir aquele mingau horroroso.

Taehyung voltou à sua pose de filho do capitão arrancador de dentes, e está mais perto da fogueira conversando com seu pai. Vez ou outra ele me dá uma olhada e dá uma piscadinha ou manda um beijo disfarçado, e eu apenas consigo sentir minhas bochechas queimarem, porque nem dá tempo de retribuir, porque do nada, ele já está com o semblante fechado e encarando a tripulação com a cara emburrada.

Um ótimo ator, percebo.

O dia está anoitecendo e o clima está tão gostoso, que se eu não estivesse no meio de um bando de piratas nojentos, eu poderia facilmente dizer que estamos de férias, curtindo um acampamento entre amigos e aproveitando o que a natureza tem de bom para nos oferecer.

John está com um bandolim, tocando uma canção qualquer, enquanto outros marujos cantam algo em uma língua que eu não conheço. Ele parece feliz, e isso também me faz pensar como ele seria um bom tiozão da família. Jimin e Namjoon poderiam ser primos, enquanto um é o completo oposto do outro. O pirata banguelo seria um cunhado desagradável do capitão, Taehyung seria obviamente meu namorado e o capitão Kim, meu sogro, claro, daqueles que não podem saber que o filho transa. Seria engraçado se fosse assim, mas não posso deixar que esses pensamentos sem noção invadam minha cabeça, porque a última coisa que preciso agora, é começar a vê-los como família.

— Jungkook, conversei com meu pai e ele deu permissão para que a gente ande aos arredores para sei lá, ver se encontra algo do tesouro. — Taehyung está na minha frente, de pé, me olhando como se eu fosse um nada. — Esses caras vão beber até a madrugada e eu já quero ver se acho alguma coisa. Vem comigo ou vai ficar aí?

— Uh, e-eu vou, é claro. Caramba, acha mesmo que vou deixar você procurar esse tesouro sozinho? Ele é do meu bisavô, imbecil. Quero ser o primeiro a achar. — Finjo uma cara emburrada, porque vejo o capitão encarando a gente de longe.

Com dificuldade, me coloco de pé e bato as mãos na minha perna, para afastar as folhas secas e terra que grudaram. Taehyung vai andando na frente e eu bufo, simulando um mau humor por estar naquela situação. Só não bato o pé, porque isso seria doloroso demais, e eu quero evitar de ter que sentir dor em mais um lugar.

Andamos por entre as plantas. Ainda é possível ouvir os piratas, mas é difícil vê-los, e com certeza, é mais difícil ainda, algum deles verem a gente, porque caminhamos na direção da cachoeira, e estamos seguindo perto da pedra dela.

Taehyung para de andar e se vira para mim, me empurrando no tronco de uma árvore e chegando bem perto.

— Tae!

— Eu quero muito te beijar, nossa.

— Mas a gente se beijou muito hoje.

— Foda-se, você me atenta, então agora aguenta. — Seus lábios se puxam para o lado.

Leom (jjk+kth)Onde histórias criam vida. Descubra agora