Perturbado

937 118 89
                                    

          Orochimaru estava perturbado. Assustado. E o pior, sentindo-se culpado. Fazia pouco tempo que seu amado Kimimaro tinha morrido e no primeiro dia de volta ao mundo exterior já acontece isso? Não! Era sua imaginação.

         Ele havia saído distraído da escada de incêndio, esbarrado num jovem e caído em cima dele. Perdeu-se naqueles olhos, negros como ônix, e viu uma pureza que o fez ficar encantado. Aspirou aquele perfume que se assemelhava ao odor do orvalho da manhã sobre as flores de cerejeira. E sentiu aquele corpo firme sob o seu. 

         Recuperado do susto e choque, estendeu a mão para ajudá-lo a levantar. E se desculpou pelo esbarrão. Isso sem conseguir desviar daqueles olhos ingênuos e doces, sob aqueles óculos de lentes redondas que refletiam sua própria face, conforme a variação da luz.    

          Aquele rapaz era cheio de vida, como ele já fora, e estava ansioso pelo seu primeiro estágio. Imagine qual não foi sua surpresa ao saber que aquele rapaz o considerava um ídolo, o admirava e queria seguir seus passos... Orochimaro quase sentiu seu entusiasmo, a sua capacidade inventar, inovar e fazer coisas  diferentes voltando....  Apresentou-se e falou pra ele que o seguisse. 

          Chegou em sua sala e tudo estava exatamente no mesmo lugar. Ele observou a curiosidade de Kabuto e sorriu. O rapaz olhava tudo como se quisesse gravar cada pequeno detalhe daquele escritório em sua memória. Orochimaru sentiu seu coração aquecer. E ele nem sabia direito o que estava sentindo. Mas se sentiu culpado.
          Viu a foto de Kimimaro a observá-lo no porta retrato sobre a mesa e o virou.

(flashback on)

         - Orô - disse ele cansado. Sua pele estava pálida, quase translúcida. Ele estava muito fraco. Ambos sabiam que Kimimaro não sobreviveria. Estava nos seus últimos momentos. E ainda assim tentava sorrir para Orochimaro. - Estou morrendo, meu amor. Eu sinto isso. Mas quero te dizer uma coisa importante - ele tossiu - Eu... eu te amo...

         - Não se esforce, meu anjo - interrompeu Orochimaro - Eu sei que você me ama tanto quanto eu te amo - disse com as lágrimas escorrendo pela face

          - Por favor!- Kimimaro suplicou - é importante. 

          - Tudo bem. Se é importante pra você, também é pra mim. Fale com calma. Eu vou escutar - disse-lhe com os olhos marejados, segurando suas mãos fracas e frias e sentindo uma dor em seu peito que ele não julgava ser possível.

          - Orô, você foi o primeiro e único amor da minha vida. Esse ano ao seu lado foi o próprio paraíso. E sei que pra você foi igual. Mas algum deus cruel invejou a nossa felicidade, me tirou a saúde e está levando minha vida. - parou pra respirar - Mas você vai viver. E deve viver. Encontrar alguém e ser feliz de novo. Por favor. Por mim. - olhou-o com aquelas orbes verde água, única parte de seu corpo que ainda parecia ter vida, brilhando suplicantes. - Não sei se existe vida após a morte, ou onde vou estar, mas onde quer que seja, quero saber que você está bem.

          - Eu não vou conseguir! - agora ele chorava de soluçar. Não conseguia se segurar mais. - Eu te amo. Você é meu mundo.

          Mas Kimimaro já se fora. Gastou suas ultimas energias para falar aquilo. Ele achava importante. E, quando percebeu, Orochimaro escorregou para o chão, gritando com aquela dor que ameaçava destruí-lo. Como um buraco negro no seu peito que aumentava engolindo-o. E tudo ficou escuro.
          
        Depois daquilo ele só lembrava de momentos. Como pequenas ilhas fracamente iluminadas naquela escuridão que vivia. Duas tentativas de suicídio, uma com remédios, outra com veneno. Meses internado.... Sua irmã ali do seu lado abraçando e ninando até ele dormir ou obrigando ele a engolir qualquer comida, que pra ele não tinha gosto. Tentando ajudá-lo a se manter vivo... Pra quê? Ele se perguntava.

          Então os remédios começaram a fazer alguma coisa. Ele não sentia mais tanta dor. Não é que não doesse, mas alguma coisa mudou. Ele quis se levantar da cama. Sua irmã o ajudou a tomar banho, e ele aceirou comer uma fruta. Logo começou a se incomodar com a irmã ali. Ele a amava, gostava da sua companhia. Mas começou  a sentir-se inútil. Precisava de alguém até pra tomar banho! Pelo amor de Deus! E foi assim que resolveu se restabelecer.

(flashback off)

            Quando voltou a si, Orochimaro viu que Kabuto ainda observava sua sala, com os olhos que brilhavam, agora parados na sua  mesa de desenho. Ele parecia muito querer desenhar. Ficou admirando a beleza do jovem. Deveria ter seus 23 anos, pele clara, mas não tanto quanto a sua, cabelos prematuramente grisalhos presos num rabo de cavalo simples, com alguns fios soltos emoldurando o rosto, nariz bem feito, lábios finos, testa ampla e inteligente, e uma aparência ingênua, quase infantil. Seu corpo era esguio, mas mostrava-se definido sob a camisa e tinha uma bundinha empinadinha  que trouxe  impróprios para Orochimaro. Balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos e disse:

           - Muito bem. Deixe- me ver a sua papelada enquanto me conta sobre sua faculdade. Ele foi pegar a pasta e sua pele recebeu um roçar leve das mãos do rapaz. Eletricidade pura percorreu sua pele. Olhou abalado para Kabuto e soube que ele sentiu o mesmo.
         
            O Jovem começou gaguejando e ficando vermelho no inicio, falando da faculdade, mas então, se focou um ponto dentro dos seus olhos amarelos e algo aconteceu. Ele se soltou,  e ficou à vontade, contando o que pareciam ser os momentos mais importantes da sua vida.

           Orochimaru estava extasiado com aquela entrega, aquela confiança, parou de mexer nos papéis e dedicou sua atenção apenas ao jovem à sua frente.

          Quando enfim o jovem acabou, Orochimaru só pensava em abraçá-lo e protegê-lo do mundo todo.  Órfão. Deveria ter sentido tanta falta de carinho e atenção. Seu coração se apertou. Ele perdera os pais, mas sempre tivera Anko. O Celular interrompeu os seus devaneios. era uma mensagem da sua irmã. Estava esperando por ele na portaria do prédio. Já era 12:30!

         - Nossa! Como o tempo passou rápido! - disse para si mesmo - Bem Kabuto, pude ver que você está motivado. Vai ser um prazer tê-lo comigo durante esse ano. - O sorriso do jovem parecia que iria iluminar o universo - Pode vir amanhã, oito e meia. Você estuda no período da tarde, estou certo? - perguntou

          - Sim, senhor. Das 13:00 até as 18:00. - disse com um sorriso. 

         - Mas você não trabalha? 

         - Sim, à noite, num restaurante próximo da faculdade. Pego das 19:00 à 00:00 ou um pouco mais se tiver movimento. - disse com a mão na nuca.

         - Então, melhor entrar as 08:00 e sair as 12:00. Você poderá almoçar com calma antes de ir pra faculdade. Eu sempre chego mais tarde, mas deixarei alguma tarefa para você. Se eu não o fizer, poderá estudar até minha chegada. 

         Levantou-se estendendo a mão para ele, que prontamente apertou, e disse:

         - Até amanhã.

        - Muito obrigado, senhor Orochimaru. Até amanhã. - disse e saiu, quase saltitante.

...

Oi, Pessoinhas...

Obrigada por ler

Essa é minha primeira Fic.

Comentem, digam se estou no caminho certo... 



Amor Com Amor Se Cura Where stories live. Discover now