Ensolarado

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          Orochimaru demorou-se ainda na sala, organizando algumas coisas antes de descer. Foi novamente pelas escadas de incêndio.  A sua primeira manhã fora de casa fora boa, contrariando as suas expectativas mais otimistas. Ao sair do Hall, no térreo, foi ofuscado pelo brilho do sol e pela primeira vez em muito tempo, ficou feliz em sentir-se aquecido pelo sol.
       
          Anko estava esperando por ele. Ela estava muito bonita naquele vestido amarelo claro com pequenas flores cor de rosa. Usava sandálias confortáveis e os cabelos curtos apenas com uma tiara simples, pra evitar que eles lhe caissem no rosto. Estava de óculos escuros. Ao vê-lo, tirou os óculos e sorriu.
         
          - Oi, irmaozinho! Tinha que comprar umas linhas para crochê no Hina's Bazar aqui perto e resolvi te esperar para almoçar. Queria fazer uma surpresa, mas você não descia nunca! Vai me dizer que ia ficar sem almoçar? - falou olhando-o nos olhos.

          - Não tinha nem pensado nisso. Estava com  o meu novo estagiário. Perdi a noção do tempo. - disse, sincero  - Mas agora, mesmo que eu não quisesse você iria me obrigar, não é?

          - Como você adivinhou?- Ela perguntou sarcástica - Quer escolher onde vamos?

          Orochimaru pensou. Na verdade estava com fome. Era estranho. Quanto tempo não sentia isso? Mas não queria almoçar. Então decidiu-se por um sanduiche natural que era algo mais leve. Havia uma lanchonete naquela rua que preparava na hora. E poderia escolher cada ingrediente.

          - Maninha, eu não quero comer uma refeição hoje. Parece-me muito pesado. O que você acha de comer um sanduiche natural?

          - Pode ser - disse ela olhando desconfiada. Ele queria comer? Ou era só pra agradar? Todos os dias tinha enfrentado uma verdadeira batalha para fazê-lo comer... - Você poderá me contar sobre seu estagiário enquanto comemos. - o que foi aquilo? Um sorriso??? Será?  Ela não queria ter falsas esperanças.

          Caminharam de braços dados como sempre faziam, olhando as vitrines e comentando sobre roupas e sapatos que achavam bonitos. Anko notou que Orochimaru estava distante. Não ausente, como estivera nesses dias, mas perdido em pensamentos. E ela poderia jurar que o viu sorrindo pelo canto de olho. Duas vezes no mesmo dia ???? Era um novo recorde com certeza.

          A lanchonete era ampla e clara. Tinham uns assentos, de dois lugares com privacidade suficiente para que  conversassem à vontade. Eles fizeram o pedido e começaram a conversar.

          - E aí? Como se chama seu estagiário? - perguntou curiosa.

          - Kabuto - disse Orochimaru - acredita que eu sou o ídolo dele? Que ele decidiu fazer arquitetura por minha causa, quando se apaixonou por aquele prédio roxo da Boate Icha Icha, e então  foi pesquisar quem o havia projetado. Graças à minha aversão à fotografias, ele não me conhecia. E que eu dei uma trombada  nele e o derrubei no chão? - disse Orochimaru rindo e continuou contando sobre sua manhã.

          Ele estava rindo. De verdade!!! Anko teve que se segurar pra não chorar enquanto seu irmãozinho contava sobre sua manhã. Há quantos meses não ouvia aquele som ou via aquela imagem... Preferiu não comentar nada, com medo que o encanto se quebrasse.

          Oa lanches chegaram e pra sua surpresa, Seu irmão comeu com gosto. E bebeu o suco de abacaxi com hortelã.
Até pediu um bombom! Anko não aguentou e foi ao banheiro. Não estava conseguindo segurar mais o pranto. E eram lágrimas de alegria!

          Depois de chorar um pouco, Anko retocou a maquiagem e estava voltando para quando viu Orochimaru de longe. Ele parecia... feliz? Continuou andando. Quando a viu, ele se levantou e, pegando no braço dela, encaminharam- se para a saída.

          - Eu já paguei - ele disse - Vamos.

          Anko ainda estava admirada com o comportamento dele. Um homem saiu de casa pela manhã e outro estava ao  seu lado ali... É melhor não falar nada pra não quebrar o encanto... pensou ela. E voltaram conversando e olhando as vitrines. Quando chegaram no prédio,  Ela lhe deu um beijo na bochecha e aproveitou pra tirar o elástico do cabelo do irmão e enfiá-lo na bolsa. E os cabelos caíram nas suas costas como uma cascata negra brilhante. Era realmente lindo.
   
           - Fica bem melhor assim! - Ela sorriu e foi embora.

          - Até à noite, maninha.... - Ele não conseguia ficar bravo com ela.

          Entrou no prédio e dessa vez não evitou o elevador. Subiu sozinho todo o percurso.

          Na sua sala, sentiu vontade de desenhar. Sentou-se na banqueta, pegou uma folha preta e varios lápis em tons de cinza e branco. Distraído, foi fazendo traços que pareciam até aleatórios, mas depois de um tempo, formaram a imagem de um rosto, com cabelos cinzentos e óculos redondos... Orichimaru se assustou. Não percebeu o que estava  desenhando até estar pronto. Como se visse apenas cada traço individualmente. Mas ficara lindo. Era seu estagiário. Mas será que ele estava se apaixonando tão rápido?

          Com a consciencia pesada, rasgou o desenho em vários pedacos e jogou na lixeira. Ordenou seus lápis e voltou pra sua mesa de trabalho. Então organizou sua  papelada. A partir de amanhã, sua secretaria, Guren estaria na ante sala para anotar seus compromissos.

          A tarde passou rapidamente, quando percebeu, já eram quase cinco da tarde. Terminou de organizar as suas coisas e saiu. Foi pela escada de incêndio. Ao chegar no carro, lembrou-se do Kimimaro. Sentado ao seu lado tantas vezes... Chorou um pouco. Mas foi depois, foi como se ouvisse novamente a voz fraca dele.

          "Mas você vai viver. E deve viver. Encontrar alguém e ser feliz de novo. Por favor. Por mim."
          
           Orochimaru sorriu, entre suas lágrimas, pensando.  "Você era mesmo muito especial, Kimi. Um verdadeiro ser de luz. E eu fui um ser humano privilegiado por te conhecer e dividir um ano da minha vida com você."

          Enxugou as lagrimas e deu partida no carro. Saiu manobrando com habilidade e parou na portaria esperando o portão ser aberto. E enquanto esperava, viu im casal de namorados que passaram abraçados rindo de alguma coisa. Perguntou-se se ainda teria chance de ter essa felicidade. Tentaria fazer o que Kimi tinha pedido. Faria um esforço pra viver, pra começar. 
         
          Passou no supermercado e comprou um suco de uva, uns salgadinhos sabor camarão que ele gostara, fazia muito tempo, alem de peras e morangos, algumas  bolachas integrais e bala de goma, que Anko adorava. Ainda se pegou  sorrindo para uma criança que olhava pra ele na fila do caixa.

          Ao chegar em casa, encontrou Anko fazendo crochê na potrona ao lado da janela. Era um cachecol roxo que ela prometera fazer pra ele. Sabia que era a cor que ele mais gostava. Deu lhe um beijo na bochecha, abraçando-a por trás. Falou que passara no mercado e  o que trouxera estava na mesa da cozinha.

          Subiu para o seu quarto, tomou um banho relaxante, vestiu uma camisa de mangas longas fogada e quentinha com uma calça saruel de algodão. Secou o quanto pode o longo cabelo e fez uma trança simples e frouxa para que o cabelo não  se embaraçasse quando fosse dormir.

          Comeu apenas torradas com chá e uma maçã. E foi dormir. Amanhã seria um dia com um pouco  mais de esperança.

          A última coisa que viu antes de dormir foram os olhos negros de Kabuto.

Amor Com Amor Se Cura Where stories live. Discover now