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    Acordei sob um punhado de cobertas grossas, e imediatamente o calor bateu sobre mim, livrei-me dos edredons e manta. Abri os olhos vagarosamente e o quarto em que estava, era ligeiramente claro, sentei-me na cama e olhei para a janela atrás de mim, fazia um Sol alto, era de tarde. Observei as árvores ao entorno do lugar em que me encontrava: estava no Brasil novamente, seis meses fora não tinham sido o suficiente para sentir saudades do país precário em que nasci.

    Enterrei meu rosto entre as mãos, deixando com que os cabelos caíssem sobre elas:

    ㅡ Aurora, você acordou!ㅡ uma voz desconhecida chamou-me a atenção.

    Levantei os olhos e vi uma mulher, usava um uniforme diferente. Olhei à minha volta e só então notei que estava em meu quarto, e que o cômodo tinha mudado um pouco:

   ㅡ Perdoe-me a má educação de não me apresentar. Sou empregada aqui da casa, meu nome é Lúcia.

   ㅡ Prazer, Lúcia.ㅡ disse um pouco forçada, não estava afim de apresentações.

   Lembrei-me do dia anterior e quase desabei a chorar ali mesmo, mas respirei fundo e dei um gole na água que havia em cima da mesinha de cabeceira:

   ㅡ Cadê os meus amigos?ㅡ indaguei.

   ㅡ Saíram para procurar um apartamento aqui perto. Só restou uma tal de Ji Soo aqui, depois de muita insistência por parte da mesma.

   Imaginava que minha mãe não iria deixar Ji Soo ficar, então ela só pode ter se ajoelhado diante de meu pai para implorar tal coisa. Suspirei e pensei no que fazer, mas antes que pudesse dizer algo, Lúcia se apressou:

   ㅡ O horário do almoço já se foi, trarei um lanche para a senhorita.

   ㅡ Não estou com fome, Lúcia. Traga Kim Ji Soo aqui, por favor.

   A mulher assentiu com a cabeça e me levantei dali. Abri uma das malas e peguei uma roupa curta, era verão e fazia bastante calor. Fui até o banheiro e me troquei, abri minha mochila e procurei meu celular, cheguei a tirar todas as coisas, mas ele não estava ali. Agora sim, tinha perdido totalmente o contato com Minho.

    Enquanto ainda tentava processar o que estava acontecendo na minha vida durante estes poucos dias, Ji Soo adentrou o quarto:

    ㅡ Você está bem?ㅡ veio ao meu encontro e começou a me apalpar, vendo se eu não estava com febre ou algo do tipo.

    Apenas assenti com a cabeça:

   ㅡ Fazem mais de 24h que você não come nada, precisa se alimentar. Como médica, deveria saber que isso causa desidratação.

   ㅡ Agora não é hora para sermão, Ji Soo. Te chamei aqui pra saber se há alguma forma de falar com Lee Know.

    Ela abaixou a cabeça e respirou fundo:

    ㅡ Vou ver com o Chan, está bem? Fique aqui, e vê se come.

    ㅡ Não estou com fome.ㅡ resmunguei de forma quase que inaudível e Kim saiu do quarto.

 Kim Ji Soo Point of View

     Nem precisava de ônibus ou táxi para chegar ao apartamento dos meninos, era no prédio ao lado da mansão de Aurora, só era necessário andar um pouco. Subi as escadas correndo, não tive a paciência de aguardar um elevador, e bati à porta:

    ㅡ Oi, gente.ㅡ disse já adentrando sem que So Yeon ao menos me convidasse.ㅡ Chan, você pode ligar para Lia?

    ㅡ Sim, mas por que tamanha pressa?

    ㅡ Eu preciso voltar para casa com notícias de Minho.

    O rapaz balançou a cabeça em sinal de entendimento e tomou consigo o celular que estava em cima da mesa:

    ㅡ Boa tarde, Lia.

    ㅡ É madrugada aqui.ㅡ pude ouvir falar do outro lado da linha por conta da proximidade entre Bang e eu.

    ㅡ Mana, isso não vem ao caso. Tudo o que eu preciso é de notícias de Lee.

    ㅡ Ele não dormiu noite passada, passou a noite dançando "Somebody to you", como se estivesse dançando com Aurora.  Hoje de manhã ele fez café puro, e ele não bebe café puro; ele limpou a casa toda e a deixou cheirando à lavanda; fez também uma enorme porção de tteokkboki. Preciso desligar agora, estou com sono.

   ㅡ Durma bem.

   Dito isto, Bang Chan desligou o telefonema.

   Eu, que nem tinha passado por isso como Aurora, estava sentindo dor ao ouvir as notícias do estado de Minho.

    ㅡ Eu conto a verdade para ela?ㅡ indaguei, confusa.

    ㅡ SIM!ㅡ responderam em coro.

    Assenti e fiquei para ajudar a fazer o jantar. Voltei para a casa de Aurora e abri a porta do quarto vagarosamente, pensando que ela poderia estar já dormindo, mas tudo o que ela fazia era andar de um lado para o outro apreensivamente roendo as unhas:

    ㅡ Como ele está?

    ㅡ Pediu para você não ficar sem comer.ㅡ menti ㅡ Ele bebeu café puro por sua causa, e ainda limpou a casa.ㅡ engoli em seco.

    ㅡ Café? Puro?ㅡ lágrimas já se formavam em seus olhos, concordei com minha cabeça.

    Seu corpo foi ao chão com o baque, eu podia ver a dor através de seu rosto. Ela apertou a roupa na região do peito com força, como se quisesse arrancá-la. Não podia sentir, mas podia ver o quanto o peito dela estava apertado, a acastanhada chorava desesperadamente:

    ㅡ E-eu preciso dele... Antes que eu perca a minha cabeça.

     Aquelas palavras me atingiram como uma facada, não sabia o que fazer, não tinha o que fazer. A abracei, e acariciei seus cabelos até que ela se acalmou e adormeceu ali no chão, resolvi não mexer com ela, talvez o chão estivesse mais fresquinho do que a cama, visto que o verão brasileiro parece o inferno.

The same apartment - Lee KnowWhere stories live. Discover now