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     O animado som do despertador adentrava meus ouvidos e soava como um compositor clássico tocando uma sonata em um teatro vazio. Mas logo aquela sensação do "vazio" se acabou, pois SoYeon gritava do banheiro pedindo por seu xampu, e Jisoo não o achava em canto algum.

    Apalpei os lençóis em busca do celular, até finalmente o encontrar quase caindo da cama, desliguei o despertador e me rolei para o lado. Senti meu corpo ser lançado ao chão e então me lembrei: não estava mais no Brasil, não tinha mais uma cama de casal. O impacto me deu dor no cóccix, soltei um gemido de dor e me sentei no chão, coçando a cabeça: mas que bela maneira de recomeçar a vida.

     Eu tinha caído de uma distância de 2 metros, despenquei da droga da beliche. Faziam apenas dois dias que eu me acomodara no dormitório da faculdade. Tinha mais duas colegas de quarto.

     Era um sábado e eu teria que procurar um apartamento hoje, a faculdade é pequena demais para mim, detesto armazenar roupas em malas. Avistei o xampu de SoYeon, me levantei e peguei o frasco sobre a escrivaninha, indo assim bater na porta do banheiro e o entregando para a acastanhada.

     Esperei a boa vontade da próxima de sair do banheiro enquanto olhava algo no celular. Finalmente a "Cinderela" terminou o banho e me deu lugar. Tomei um banho rápido, vesti uma calça jeans, um cropped branco com listras pretas e um sobretudo bege. Calcei um coturno preto envernizado e fiz um rabo de cavalo.

     Se tratavam dos últimos dias do inverno, e eu ainda queria aproveitar um pouco a neve. Peguei minha bolsa e celular, escovei os dentes e saí.

     Corria pelas escadarias, eu tinha marcado às 9h com a corretora, e já eram 8h45. Um menino vinha correndo na minha direção, mas deu tempo de desviar, bati em cheio com o garoto de cabelos castanhos, derrubando as caixas que ele carregava:

  ㅡ Ei sua dissimulada, não olha por onde anda?ㅡ perguntou ajuntando os volumes.

  ㅡ E quem é você pra me chamar de "dissimulada"?

  ㅡ Alguém que certamente fala coreano melhor do que você. ㅡ ele riu sarcasticamente.

  Só bufei e saí dali. Além de atrasada, não perdia meu tempo com coisas assim. Acredito que há coisas melhores com o que se importar na vida.

  Depois de pegar o metrô, cheguei ao prédio. Ao sair do elevador, vi a mulher impacientemente olhando o relógio e batendo os pés no chão. Observei-a: um blazer verde pastel, uma calça da mesma cor, brincos de prata, um corte de cabelo curto e elegante, e dois sapatos de salto que lhe desapareciam casquilhamente pelas amplas bainhas da calça.

  Comecei a andar pelo corredor, observando cada detalhe, enfim cheguei ao 408:

   ㅡ Bom dia! Desculpe-me o atraso, tive alguns contratempos no caminho até aqui.ㅡ disse educadamente e revirei os olhos ao lembrar do meu inconveniente contratempo.

    ㅡ Está tudo bem!ㅡ ela sorriu tentando disfarçar a impaciência de antes.ㅡ Bom, vamos entrar então.

    Ela abriu a simples porta de madeira, revelando um apartamento mediano, com boa iluminação. Adentrei o lugar e tinha a típica parte de tirar os sapatos e colocar pantufas, não o fiz pois não tinha pantufa alguma, na parede havia um porta-chaves e uma cômoda. Ao andar mais um pouco, à direita tem uma parede com hack suspenso e TV presa na parede, mais para o lado a varanda onde fica a lavanderia. Na frente da TV um sofá de três lugares, e perto deles duas poltronas, uma mesinha de centro bem no meio, e atrás uma estante de divisão sem fundo, com formas meio geométricas.

   Ao lado esquerdo uma cozinha com uma bancada de mármore que ocupava quase toda a extensão do cômodo, uma geladeira prata a Electrolux, e um cooktop sobe a bancada. Armários aéreos e embaixo da bancada, uma janela média de frente para a pia e uma mesa que separava a cozinha e o corredor principal. Ao lado esquerdo do corredor, a primeira porta, que se tratava do banheiro, à direita, um quarto que eu queria que fosse meu, e à esquerda mais no final, outro quarto.

    Atrás da estante que mencionei anteriormente, uma escrivaninha com computador, outra varanda e um cantinho de leitura.

     Não se tratava de um lugar ruim, ao contrário, era bem agradável:

     ㅡ E então, o que achou?ㅡ a corretora indagou, me olhando esperançosamente.

    E sobre isso eu fiquei pensando... Pensando... Até chegar à conclusão de que era boa oferta para um ótimo apartamento:

     ㅡ Vou alugar! ㅡ disse decidida e feliz por meu primeiro negócio.

    Como eu sabia comprar um apartamento? Obviamente eu não aprendi na escola, pois nessas instituições só se ensina a diferenciar rochas e a fazer contas de engenheiro. Minha mãe me ajudou com essas pataquadas todas antes de morrer.

    Nos sentamos à mesa, e eu assinei o contrato:

    ㅡ Bom, você se importa de ter algum colega?

    Voltei minha atenção à mulher ali sentada:

     ㅡ Oi?

     ㅡ É que ontem um rapaz alugou este mesmo apartamento, ele disse que adoraria um companheiro para dividir a casa. Pode ser?

      Pensei que não seria tão inconveniente ter alguém para dividir, assim eu não teria que fazer as tarefas sozinha, e não teria que ver minhas séries na companhia de apenas moscas insolentes que adoravam cheirar minha comida.

    ㅡ Está fechado! ㅡ respondi empolgada e apertamos as mãos.

     ㅡ Irei contratar um caminhão de mudança segunda à tarde, espero que esteja de acordo.

     ㅡ Claro, pode ser.

    Ela me deu as chaves e eu tranquei o lugar. O resto do sábado passei na rua, tomando chocolate quente, e no final da tarde fiz os tão sonhados e famosos "anjinhos de neve". 

    Ao final do dia, não houve coisa melhor do que adentrar o dormitório com vestimentas molhadas de neve e tomar um banho com a água quase fervendo. 

The same apartment - Lee KnowWhere stories live. Discover now