Após uma emboscada, Julian Campbell decide afastar sua filha dos holofotes e deixá-la sob os cuidados de seu funcionário mais leal, que não suporta o estilo de vida dos Campbell.
Camille, uma famosa influencer, era a personificação de tudo que o bad...
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Não sei em que momento consegui dormir, alheio ao colchão macio demais na cama desconhecida. Mas, aconteceu de uma forma suave, não tive sonhos ruins ou uma noite agitada. Tudo parecia estranhamente bem, talvez o meu corpo estava me forçando a aceitar essas férias inusitadas. Não sei se estou sonhando, escuto passos e quando desperto aos poucos, vejo Camille saindo de fininho do meu quarto. Sonolento, levanto-me e vou até ela sem fazer barulho, com o carpete amaciando os meus pés.
— Camille? — questiono como se estivesse diante de uma projeção, não a filha do meu chefe. Em resposta, ela derruba uma bandeja repleta de quitutes e comidas saborosas. Tudo virando uma sopa de confusão no chão.
— Porra... — frustrada, a influencer se agacha e tenta juntar o que sobrou da refeição. — Me desculpe, eu vim trazer o café e você... Não achei que você fosse estar...
— Eu o quê? — cruzo os braços, indignado, sem saber o motivo de estar sendo acusado. Porém, noto somente agora que estou apenas de cueca e de pau duro. — Desculpa! Não fiquei assim por você, isso jamais aconteceria...
— Hum, nossa... — fico nervoso e o impasse se instala no quarto que agora parece pequeno demais para nós dois. — Bem, eu só vim trazer o café para formar uma aliança de paz, já que vamos conviver por um tempo. Não é como se eu fosse querer alguma coisa de você. — Defende-se, notavelmente irritada.
— Opa! Não foi isso que eu quis dizer... Você é bonita e... — tento me explicar mas ela levanta a mão e impede minha desculpa esfarrapada.
— Haneul, apenas pare, por favor. Eu entendi, ok? Não precisa me dizer essas coisas. De qualquer forma, o café da manhã já está arruinado. Vamos ter que procurar alguma outra coisa para comer, eu acho. Me desculpe por invadir seu quarto, achei que já estivesse acordado. — observo somente agora o quanto a loira está arrumada, como se fosse fazer uma sessão de fotos na praia.
— Certo. Vou tomar um banho e te encontro na cozinha. Podemos pensar no que fazer, mesmo que eu não seja uma ótima companhia. — sorrio mas ela não retribui, evitando me olhar nos olhos. — Deixa só eu limpar aqui e...
— Não. Temos um pessoal especial para isso. Não atrapalhe o trabalho deles. Apenas tome banho e cuide da sua higiene. Estarei na sala. — Camille Campbell pede, ou melhor, ordena e sai do quarto.
Bufo e observo o meu próprio volume na cueca. Ai, ai... Esse rapaz sempre me fazia passar vergonha. Busco pelas minhas coisas na mala e suspiro fundo e penso no que vou fazer o dia todo com Camille no meu encalço. Tentar fugir da ilha e morrer durante o processo daria certo? Não, minha Moon ficaria sem o papai dela. Ainda preciso levá-la na formatura e no casamento que só vai rolar quando eu não tiver mais nenhum dente da boca. Ah, que saudades da minha doce menina...
— Haneul, em breve o café será servido novamente. Se apresse, por favor. — Camille bate à porta e apenas reviro os olhos. Afinal, qual era a pressa? Não temos nada para fazer aqui.
Ignorando os péssimos sentimentos que ela me causa, vou à espreita do banheiro numa portinha de madeira do quarto. Com certeza ela não me levaria para Nárnia ou qualquer reino bem distante da blogueira. Certeza que ela vai surtar em breve sem internet.
— Você consegue, meu gatinho coreano. Você consegue. — digo baixinho e abro a porta com cuidado, ajustando a temperatura do chuveiro antes de me entregar aos prazeres de um bom banho. Estou pronto, para o que der e vier.
***
Após recuperar minha dignidade, saio do banheiro usando uma calça moletom cinza, cueca preta e uma camiseta branca sem estampas. Seco meus cabelos ainda úmidos na toalha e passo desodorante e perfume, notando a exaustão estampada no meu reflexo no espelho redondo de bambu, no formato de um sol. O cheiro dos produtos de limpeza invade meu olfato, e onde antes havia comida, agora não restara nada mais. Que rapidez desse pessoal, para varrer uma casa, eu fico enrolando e mexendo no celular.
Subo um lance de escadas e vejo Camille parecer estar falando com alguém. Mas, no momento em que ponho os pés no recinto, ela para no mesmo instante e finge cantar uma música qualquer. Ou, talvez ela estava fazendo isso mesmo, eu que sou paranoico.
— Oi, Haneul. Pronto para um divertido dia ao meu lado? — ironiza, ficando em pé e me olhando da cabeça aos pés. — Gostei do visual.
— Oi, Camille. Já disse que mal posso esperar? — ponho as mãos nos bolsos da calça e sorrio malicioso. — Ah, muito obrigado. Vindo de você, realmente é um elogio.
Faço uma breve vistoria pelo cômodo e me distraio com alguns quadros, fotografias e as cores chamativas nas paredes e nas almofadas. Noto uma garota loirinha sorrindo na foto e quase estou me aproximando da moldura, mas Campbell atrapalha o meu percurso e a trilha da minha curiosidade.
— Precisamos nos alimentar, tem alguns pontos da ilha que você vai gostar bastante. Vamos, Haneul. — sem pressa, Camille dá as costas e retorna para a cozinha, onde eu imagino que esteja sendo servido um banquete para nós.
Como irei aguentar ficar sem fazer absolutamente nada numa ilha que não se tem muito a fazer? Não controlo nem as minhas próprias refeições. Não vou conseguir me adaptar, mas preciso.
— Então, o que tem de divertido para fazer por aqui? — pergunto fingindo simpatia e sendo silenciado pela exagerada mesa de banquete matinal para nós. Exatamente o que eu imagina. Há frutas, pães, sucos e biscoitos dos mais variados tipos. A mesa é tamanho família, bastante exagerada para duas pessoas, neste caso.
— Não muito, para ser bem sincera. Mas, acredito que está na hora de quebrarmos algumas barreiras. Precisamos nos conhecer melhor. E, eu acho que já sei como fazer isso. — Camille sorri enquanto enfia o garfo em um pedaço de melão e sua mente parece trabalhar num plano para nos aproximar. Espero que ela seja melhor do que eu nesse lance de "fazer dar certo", minha especialidade é estragar as coisas.
