Capítulo 8 - Todos nós temos algo a esconder 하늘

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    Uma cerveja após outra, não parecemos mais estranhos que se odiavam e precisavam dividir um teto

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    Uma cerveja após outra, não parecemos mais estranhos que se odiavam e precisavam dividir um teto. Camille e eu, falávamos de coisas engraçadas e tolas, enquanto o mar e suas ondas suaves pareciam ao longe, ouvir nossa conversa de bêbados. Faz bastante tempo que eu não ficava assim, ao ponto de relaxar; nunca tive amigos para sair e me divertir num bar qualquer.

— Eu tenho duas perguntas, Camille Campbell. A primeira é: Por que não podemos assistir televisão como duas pessoas normais? Parece que nosso uso é restrito. — mordo o lábio e penso novamente em como acho isso estranho, mas prossigo: — E a segunda e última, eu prometo: Por que você fugiu daquele jeito? Você me assustou...

— Tudo aqui é restrito, Haneul. Quanto menos soubermos sobre o mundo exterior, mais ficamos alheios a ele. Nunca assistiu aos realities que famosos ficam presos numa casa e vivendo só naquela realidade? — noto que ela evita o meu olhar e parece levantar-se rapidamente. — Vem, vamos até a praia. Preciso beber e admirar o mar. 

Gargalho ao vê-la trôpega enquanto descemos as escadas até a praia, como se o mar lhe desse uma dose extra de coragem. Não sei como estou me sentindo agora, mas há tempos não sinto como se meus problemas fossem pequenos e de fácil resolução, mas eles não são.

— Chegamos, oppa. — Camille sorri e só agora percebo que ela está sem as sandálias, sentindo a areia úmida tocar seus pés. Ainda era estranho para mim, olhar para frente e não enxergar nada além de um breu extenso e misterioso; um oceano de distância da minha vida comum e chata.

— Vamos, Campbell. Não tenho a noite toda. Minha curiosidade é limitada. — sento-me ao lado dela, aspirando todos os aromas noturnos e dispersos daquela noite em especial.

— Eu me perdi muitas vezes antes de me encontrar. Na verdade, acho que ainda estou perdida, Haneul. — ela sorri baixinho e pega mais uma cerveja, abrindo a latinha num clique alto, bebendo boa parte do conteúdo de uma vez. — Provavelmente você me vê como uma garota mesquinha, perfeita, mimada, num corpinho artificial. Talvez eu seja isso tudo mesmo, mas tem coisas sobre mim que poucas pessoas sabem. Quando a minha mãe se foi, aquilo me destruiu por completo. Eu não aceitei perdê-la, ainda tínhamos muito pela frente. Nós éramos melhores amigas, trocávamos confidências, dormíamos juntinhas e suspirávamos por dramas coreanos. Mas, um trágico acidente a tirou mim e eu não sabia mais como seguir em frente.

— Então você se machucava? Por que você fazia isso? — seguro no pulso dela com delicadeza, ainda sem acreditar que as marcas estavam ali todo esse tempo, escondidas por pingentes e miçangas. — Não quero parecer insensível nem nada, eu só... Não esperava por isso. — rio baixo e percebo como fui invasivo, tocando-a desse jeito, de um jeito que a faz olhar cada traço meu com atenção. Ou, talvez eu esteja bêbado demais para imaginar besteiras.

— Eu me machucava porque me sentia um fracasso o tempo todo. A dor era uma rota de fuga. Minha vida não tinha mais sentido, a única pessoa que realmente me amou na vida, não existia mais. E isso acabou comigo de tantas formas... Nossa, acho que já estou falando demais. — Camille sorri mas não é divertimento, ela está envergonhada. As lágrimas que rolam pelo rosto dela parecem glitter, iluminadas pela luz que vem de nossa moradia temporária.

Camille corre até o mar e eu deixo as cervejas de lado, sendo inundado por uma sensação estranha, como se tivesse que ser cauteloso o tempo todo com ela. Mas, eu deveria mesmo, Campbell era a minha única forma de entrar e sair daqui vivo. Sinto o vento frio tocar meu rosto e bagunçar meus fios pretos; ainda estou analisando o que ela pretende fazer, se quer fugir de mim ou de si mesma.

A loira apenas cai de joelhos e leva suas mãos ao rosto, mantenho distância por algum tempo, até notar que ela está chorando. Não sei o que fazer, então, apenas me aproximo e me sento ao lado dela novamente.

— Quando meus pais se foram, também foi difícil. Eu e a minha irmã tivemos que começar do zero num país com uma língua que entendíamos pouco. Adolescentes e cheios de sonhos e aspirações. Nossa tia nos ajudou o máximo que pôde, mas ela precisou voltar para a Coreia do Sul, para a família. Que por sinal, tinha deixado de ser a nossa. Nos acostumamos com uma nova oportunidade de vida aqui, trabalhamos e começamos a viver nossas vidas. Depois eu conheci a mãe da Moon, me apaixonei por ela, foi uma droga, mas teve algo bom: a minha filha, a minha vida. — fico em silêncio por um tempo, brincando com a areia entre meus dedos, sentindo um cheiro de maresia e de shampoo de frutas cítricas que exala do cabelo da blogueira.

Noto somente agora que Camille estava em silêncio, me encarando novamente. Será que o efeito da bebida tinha passado, em partes?! Passo a mão no cabelo e os afasto dos olhos. Quais conselhos eu poderia dar para uma garota? Sou péssimo em relacionamentos e em todas essas merdas sentimentais.

— O que eu quero dizer é que você não está sozinha, Campbell. Você tem milhões de seguidores, pessoas que arrancariam o próprio coração para fazer o seu continuar batendo. O que é bizarro pra cacete. Mas todos te amam, inclusive o seu pai, que te mandou para uma fucking ilha com um cara tatuado esquisito que precisa te manter a salvo, não importa o quanto isso custe. — eu a encaro e fico em silêncio desta vez, apoiando as mãos na areia, sentindo a textura em minha palma.

— Eu achei que me tornar uma influencer iria diminuir o peso que sinto de não me sentir amada, querida. Isso fode comigo, às vezes não sei se sou real ou um produto comercializado do Instagram. — ela fica em pé e parece aflita, indecisa, mas um pouco sóbria. Eu não conseguiria soletrar "comercializado" se tivesse bebido a mesma quantidade que ela.

— Mas você é, Camille. Não é por isso que está aqui? — fico em pé também, limpando os resquícios de areia da minha roupa, suspirando fundo. Somente agora percebo o quanto sou alto ao lado dela, que está abaixo do meu ombro. — Viver é a aventura mais foda e difícil que vamos enfrentar, Campbell. Você não precisa mais se machucar. — me viro para ela e seguro nos pulsos da blogueira, tentando passar um tipo de conforto ou alguma merda do tipo. Sou péssimo pra essas coisas. — Você é a Cami Camp, não tem ninguém mais foda que você e...

   Sou silenciado completamente quando os lábios dela tocaram os meus de forma agressiva. Noto Camille na ponta dos pés para alcançar minha boca e levo dois segundos para processar o que porra ela está fazendo. As mãos da loira vão para o meu pescoço e nossos corpos se unem como ímãs. Retribuo o beijo e a seguro com força pela cintura, enquanto minha mente grita para que eu me afaste e a mantenha longe. Fecho os olhos e nossas línguas quentes e o sabor da cerveja se misturam, tornando-se um só. Cacete, isso é tão...

   Mordo o lábio inferior dela e em resposta, Campbell geme baixinho. Sou despertado por um desejo ardente de beijá-la com mais fervor, lamber cada centímetro da pele exposta do pescoço, enroscar o cabelo dela na minha mão e... Paro de pensar e apenas faço as coisas que desejei, sendo tomado por algum tipo de instinto que domina minhas vontades. Sinto a mão da loira se enroscando em meu cabelo e o puxando com vontade. Estou buscando por mais contato, mas num sobressalto, ela retorna à realidade e se afasta bruscamente.

— Não... Isso foi... Droga! — ela resmunga, retornando para a casa, como se estivesse fugindo de mim. Suspiro baixo e me sento novamente na areia. Ofegante, com os lábios inchados e ainda incendiado por um desejo que nunca senti por ela. Foi só a bebida, alguns meses sem transar também favoreceu... Foi tão...

Suspiro pausadamente e penso na maior merda que fiz agora: beijei a filha mimada do meu chefe. Essa ilha está mexendo com a minha cabeça. Resmungo e praguejo baixo, sabendo que amanhã podemos culpar o álcool e fingir que esse beijo não existiu. Pelo menos é o que eu espero. Agora, tudo estava prestes a mudar completamente entre nós. 
 

Haneul - O Protetor da Influencer (02/05 NA AMAZON)Where stories live. Discover now