Capítulo 6 - Marcas ♡

2K 391 266
                                    

   Haneul tinha no olhar o mesmo brilho encantado que eu tinha na infância; como se não houvesse no mundo, um lugar mais paradisíaco

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

   Haneul tinha no olhar o mesmo brilho encantado que eu tinha na infância; como se não houvesse no mundo, um lugar mais paradisíaco. Fizemos um pequeno tour pela casa e o apresentei aos cômodos, por muitas vezes, me gabando de tapeçarias e itens de decoração vindos da Grécia. Mas, para ele, isso tudo era banal demais. Em comparação com a água cristalina da praia e as cores do céu, a beleza cara dos itens feitos pelo homem, jamais seriam páreos para os da Mãe Natureza.

As bochechas coradas no rosto claro, o deixava mais jovial, mais divertido. Ou talvez fosse a areia envolvendo nossos pés, numa caminhada pela praia, enquanto ele falava sobre alguns filmes de náufragos que morriam em ilhas desertas. Ah, Haneul... Se você soubesse que não estamos sozinhos por nenhum segundo sequer...

— ... Teorias da conspiração são interessantes, às vezes eu perdia meu tempo vendo esse tipo de coisa na internet... — sua fala chama a minha atenção, me trazendo de volta para a nossa conversa.

— Tipo aquela que diz que a Avril Lavigne morreu e foi substituída? — sorrio sentindo as bochechas ardendo e buscando a sombra dos coqueiros para não ser tão castigada pelo sol.

— Essa é uma das minhas favoritas. Sério, sempre consumi algumas coisas peculiares pelo Youtube. — Haneul sorri de uma forma tão discreta que me pega de surpresa. Será que estou conseguindo ultrapassar algumas barreiras com ele?

— Sim, também adoro essa. — sentamos na areia e aproveitamos a sombra gostosa que nos refresca; não estamos longe da casa, as câmeras ainda nos filmam e por segundos, me pergunto se eu o trataria diferente, se elas estivessem desligadas. 

Ficamos em silêncio, apreciando a brisa e a calmaria das ondas quebrando ao longe, tão alheias e donas de si. Não sei há quanto tempo estamos aqui, mas parece que já passou da hora do almoço, ou talvez seja uma impressão. Brinco com as várias pulseiras nos meus braços e fico perdida em pensamentos, sentindo cada pingente e miçanga rosa, como se pudessem me confortar.

— Você gosta bastante de pulseiras, não é? Minha pequena também ama, adora comprar miçangas e montar as próprias pulseirinhas. — Observa com um sorriso saudoso. Esse comentário me deixou desconfortável, como se eu tivesse sido exposta.

— Sua pequena? — mudo o foco e escondo os braços, enfiando as mãos na areia.

— Sim, eu tenho uma filha. Moon Yujin. Ela tem cinco anos; é uma garotinha esperta e cheia de sonhos. Nossa, que saudades... — ele fica pensativo e desvia o olhar por um instante.

— O que a sua esposa achou de você estar aqui comigo? Quer dizer, a mãe da sua filha e tal... Não quero te prejudicar, isso é um problema da minha família... — suspiro baixo, pela primeira vez, pensando em alguém além de mim.

— Ah, eu não sou casado — parece sorrir, como se fosse uma ideia absurda. — Não me importo com a mãe da minha filha, não temos nenhum vínculo, ela nos largou para ser vocalista de uma banda de rock. Me entregou a Moon ainda bebê e sumiu pelo mundo.

— Compreendo — fico em silêncio novamente, tentando evitar assuntos que me comprometam, logo assim, de cara. — Acho que devemos voltar, não tá com fome?

— Voltar? Mas ainda nem entramos na água — Haneul levanta rapidamente e tira a camisa, exibindo tatuagens de flores, traços e animais ferozes, serpenteando seu abdômen sarado. Fico sem graça por alguns instantes e desvio o olhar.

— O que foi? Acha bizarro as minhas tatuagens? Aposto que aquele seu namorado engravatadinho não tinha nenhuma, né? — diz brincalhão e em resposta eu sorrio, sendo contagiada pela energia dele de fazer com que as coisas entre nós dê certo.

— Sim, eu gosto de caras engomadinhos e de gravata, como adivinhou? — reviro os olhos e o vejo tirar a bermuda florida que combina com a camiseta branca de algodão. A sunga preta parece deixar os cabelos dele ainda mais escuros e bonitos... Muito bonito...

— Vai ficar aí só me admirando? Vem logo, Campbell. Ainda temos muito tempo pela frente para nos odiar, mas acho que acordei de ótimo humor hoje.

— É que eu não... — levanto e limpo a areia no short, lembrando que estou apenas de calcinha e sutiã.

— Você o quê? Não sabe nadar? — gargalha e provoca, ainda me esperando cair em seu truque barato. — Uau, Camille Campbell tem um defeito: odeia tomar banho.

— Cale a boca, não sou perfeita, Haneul. — reviro os olhos e sem cerimônias, tiro os shorts e depois a blusa, por sorte, são pretos e dão para disfarçar. Afinal, o que biquíni é além de sutiã e calcinha? São apenas tecidos diferentes.

Porém, no instante que faço isso, o humor dele some e há um silêncio entre nós. Haneul para com as gracinhas e se joga no mar, me deixando ainda mais insegura com o meu corpo. Será que ele não gostou? Será que me acha feia ou algo do tipo? Quer dizer, não que isso importe...

— Porra, essa água é uma delícia. — retoma o humor inicial e mergulha nas águas tão claras quanto a pele dele.

— É sim, um paraíso. — Digo e mergulho, deixando que a água e a calmaria envolvam meus pensamentos. Ficamos ali, em silêncio novamente, mas não um desconfortável. As águas parecem lavar nossas dores, angústias e medos.

Mergulho de novo, de novo, vejo Haneul tão refém daquele mar quanto eu, ansiando para ter sua alma lavada, sua energia renovada. O que ele escondia por trás daquele semblante fechado?!

— Camille, cuidado! — o ouço gritar, mas vejo que fui longe demais. — Cuidado! — olho para frente e uma onda agressiva me envolve, me sufoca, me puxa para o fundo e uma memória volta e me congela. Está acontecendo novamente. Estou sendo levada para aquela lembrança ruim do passado.

Aviso de gatilho: suicídio

    Outra onda vem mais forte, mas não consigo fazer nada. Não me atrevo a tentar voltar à superfície, talvez eu estivesse sendo chamada novamente. Não tenho como fugir agora. Meus olhos parecem não resistir à vontade de fechar, enquanto meu peito dói. Tento subir, mas é em vão. Gradativamente, meus olhos se fecham e emergir parece difícil demais para tentar. Então me entrego, por alguns segundos, mas não dura muito.

Haneul me puxa com força pelo braço e diz coisas que não consigo compreender, meu peito dói, como se o ar tivesse sido depositado novamente em meus pulmões. Estou chorando, chorando como nunca chorei antes, nas costas do meu segurança, enquanto ele nos leva à salvo para a areia. Agora em seus braços e me sentindo mais fraca do que nunca, não consigo dizer nada quando ele deita nossos corpos na areia.

— Você tá bem, Camille? Porra, achei que fosse te perder. O que houve, você se machucou? — preocupado, ele chacoalha meus ombros como se pudesse me tirar de uma crise. — Por favor, fale alguma coisa.

— As minhas... Minhas pulseiras... — choramingo, ainda mais envergonhada por não conseguir formular frases completas.

— Você quase perdeu a vida, Camille! Onde você comprou aquelas pulseiras? Paris? Turquia? Você pode comprar outras! — diz irritado, mas não consigo responder, ainda estou imersa numa crise de choro. — Você machucou o pulso, foi isso?

— Não! Não! Eu estou bem... — resmungo mas não dá tempo de impedi-lo de ver algo que venho escondendo a minha vida toda.

— Ah, Camille... Eu sinto muito, não achei que... que elas fossem tão importantes. — Haneul diz assustado, vendo as marcas no pulso, de um passado que tento esquecer. É tarde demais, fui exposta. 

Haneul - O Protetor da Influencer (02/05 NA AMAZON)Where stories live. Discover now