Caio - Resirtir

1.3K 152 25
                                    


A garota entrou numa crise caustrofóbica dentro do elevador, vestígios de um trauma de infância, nem sei se ainda quero saber mais alguma coisa da vida dessa garota tão machucada pela sua condição e vítima de uma sociedade mesquinha, ingênua e humilde, não tem traços de revolta ou rebeldia, apenas o conformismo com a situação de merda que ser filha da prostituta lhe causou. Observo seus longos cílios naturais pousados sobre a face enquanto ela engole calmamente mais um gole de água, rosto avermelhado com rastros de lágrimas recém derramadas; porra eu quero arrebentar a cara do inspetor, da mãe e de todos que a fizeram acreditar que tem culpa de alguma coisa; claramente essa garota tímida não faria mal a uma formiga no açucareiro. O desejo de cuidar dela é muito forte, e sei que essa batalha foi perdida, jamais vou permitir que Jôse fique a mercê de tudo isso novamente. Vou lutar para que ela estude novamente, vou pagar um psicólogo para ajudá-la, e fome não será mais sua preocupação, eu tenho plenas condições de ajudá-la.

_______ É bonito isso que me disse Caio até me sinto normal.

_______ Você é normal docinho. Solto um apelido carinhoso já cheio de empatia por ela e seus olhos se assustam brevemente e depois ela cora.

______ Isso é coisa de namorados. Ela pontua com a maior sinceridade, toda encolhida e sorrio.
_______ É um apelido carinhoso mesmo, mas pode ser de amigos também, não acha.

Ela afirma um pouco sem graça e me golpeia em toda sua ingenuidade.

_______ Não sei muito bem Caio, eu não tenho amigos, você é meu amigo?

Droga...droga! Como esse doce de garota não tem amigos?

_______ Se você me aceitar como seu amigo, então sim somos amigos. Estendo lhe a mão e ela aperta feliz, por ter um amigo.

_______ Amigos. Dizemos juntos e sorrimos, seus lábios rosados me atraem repentinamente e sinto vontade de beijá-la, é uma luta interna empurrar isso para o fundo, Jôse não precisa de um marmanjo aproveitador.

_______ Venha vou mostrar o seu quarto. A garota se levanta e me segue curiosa, até que para no quarto de hóspedes, é um pouco menor, mas bem arrumado e com banheiro, as vezes minha irmã mais nova vem aqui.

_______ Que bonito Caio.
_______ Fique a vontade, ali no banheiro tem sabonete, xampu e escova de dentes nova na embalagem pode usar, toalhas limpas no armário eu vou emprestar uma roupa para dormir, tudo bem?

________ Obrigada Caio, você é um anjo. Josefine me abraça com o rosto colado em mim e retribuo o carinho.
Seu corpo pequeno parece se encaixar no meu, e acabo sentindo seus seios médios e durinhos tocarem na altura do meu estômago, é uma tortura constatar que não há um sutiã debaixo da grande camisa grossa e larga.
______ É uma honra te ajudar senhorita Almeida. Brinco com ela e a garota gargalha como uma criança, linda e pura me hipnotizando em sua beleza.

Antes que a tentação seja maior que o bom senso e eu seja mais um que fere o psicológico de Jôse, me afasto, mas lembro que ela precisa de uma roupa para dormir. Olho minhas gavetas e acho uma camiseta dos tempos de faculdade, que é um pouco menor, já que agora tenho mais músculos do que aos vinte anos, e escolho ela, acho uma cueca boxer pequena que ganhei da minha mãe, com o frajola e simplesmente joguei no fundo da gaveta, vestir isso seria humilhante e ela só fez para me zoar.
Volto com as roupas na mão e a encontro sentada na cama
_____ Jôse, trouxe isso pra você.
_____ Ah, obrigada.
_____ Algum problema?
_____ Não, eu só estava pensando que se a Marilu morrer por minha culpa.
A pobrezinha quase foi vendida a um traficante e ainda está se sentindo culpada, isso é alarmante; sua inocência é grande, seu coração é bom e preciso protegê-la até dela mesma, pois ela não nega ajuda pelo que entendi nem que isso a machuque.
Tomo seu rosto nas mãos e explico carinhosamente, como se fosse uma menina de dez anos.
______ Docinho, aquele cara machucaria você, porque sua mãe ficou devendo para ele, sabe o que ele vende?
______ Sim, por isso tenho medo, ela só se envolve com bandidos, traficantes, assassinos, Marilu tem algum vício.
______ Exatamente, então ela precisa pagar isso com dinheiro e não voltar a ficar devendo, pois se você pagar a dívida transando com aquele cara, ela vai parar?
_______ Você tem razão, eu morreria antes dela, porque nunca vou transar com ninguém, tenho nojo até dessa palavra, quanto mais longe de homens eu ficar é melhor.
Suas palavras são de uma sinceridade crua e até choca, mas o pavor em seu olhar me diz que é mais um trauma de Josefine. Solto seu rosto rapidamente pois talvez eu esteja atravessando seus limites mas ela não consegue falar.
______ Desculpe Jôse, eu não quis ser invasivo. Digo arrependido e ela nega sacudindo a cabeça e diz:
______ Não me refiro a você Caio, você é um homem bom, não me olha com malícia, gosto do seu jeito.
______ Meu jeito?
______ Sim, cuidadoso, protetor e carinhoso, nunca fui tratada assim por alguém.
Meu coração fica apertado ao entender que as pessoas a tratavam como objeto e nunca com amor.
______ Nem um namorado? Pergunto e me arrependo.
_______ Nunca namorei, nem beijei eu sou filha da prostituta ninguém olha pra mim Caio, mas nessa parte não me importei, eu tenho medo de ser usada como minha... Como a Marilu.

Me sinto estranho, raiva desse preconceito corrói meu peito e alívio por ela ser intocada, mas isso é um puta egoísmo, todos precisam de carinho.

****************************
O

brigada por ler "Quero ser sua"

Não deixe de comentar o capítulo.

Até  Quinta-feira gente.

Quero ser suaOnde histórias criam vida. Descubra agora