Josefine - Lembranças dolorosas

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O banho é coisa de outro mundo, coisa de rico. Claro Caio é rico que ideia minha. Só não entendo como vim parar na casa dele e até já o abracei, pior é mais estranho eu gosto do toque dele, por mim ele pode me abraçar e até beijar. Toco meus lábios com os dedos e fecho os olhos imaginando como seria, tá aí uma coisa que nunca fiz, foi desejar ser beijada na boca, justo o cara mais impossível do mundo me fez pensar nisso. Fecho os olhos outra vez, e concluo a cena, seus lábios macios, hálito fresco tocam os meus e seguro em seu ombro largo, sua mão em minha cintura... meu coração acelera e sinto um calor pelo corpo, corto meus pensamentos idiotas isso deve ser errado.

Volto a passar a bucha com o sabonete mais cheiroso que já vi, ou melhor já cheirei, lavo meus cabelos que não veem água a uns bons dias porque cortaram a luz em casa e tomo banho de caneca, tudo é difícil morando com Marilu. Não se tem privacidade, nem respeito. Termino meu banho me seco na toalha macia e coloco a roupa dele, é Cheirosa também. Sigo para o quarto e deito na cama. Me entregar ao sono é fácil com paredes que me protegem.

O dia amanhece chuvoso me espreguiço e sento na cama no mesmo instante que escuto Caio bater na porta.

______ Pode entrar.
A porta é aberta revelando um homem lindo e sorridente, tenho a sensação de que estou babando por um Caio vestido de terno escuro e cheiroso.

______ Bom dia Jôse.
______ Bom dia Caio.
Ele Coloca as mãos nos bolsos e não se aproxima muito.
_____ Dormiu bem? Ele me pergunta e acho bonito o jeito dele, afinal é a primeira vez que alguém me pergunta isso.
______ Sim dormi muito bem, jantamos e descansei numa cama, então acho que foi o melhor sono da minha vida. Brinco e sorrio mas Caio se espanta então me arrependo e baixo meu olhar para as mãos procurando uma cutícula solta inexistente.

______ Como assim Jôse, me explique melhor, você não dorme em uma cama? Meu rosto ferve ao me dar conta que a maioria das pessoas tem uma cama para dormir.

______ Não Caio, mas já estou acostumada a dormir no sofá da sala ou no chão dependo do cheiro dele.

______ Desculpe ser tão invasivo, só nos conhecemos a algumas horas atrás mas, desde quando é assim?

_____ Faz muito tempo... ( a recordação desse dia machuca e respiro fundo antes de narrar, pois de alguma forma sei que Caio só está preocupado e quer me entender, eu confio nele e isso está além da minha compreensão)...

Um dia, quando eu tinha quatro anos, lembro que a professora cantou parabéns pra mim na aula cedo e disse "esta uma mocinha Josefine" com quatro anos já, foi um dia que estava feliz, me senti especial, cheguei em casa e Marilu estava saindo, ela não se lembrou e meu entusiasmo diminuiu bastante, fiquei um tempão assistindo TV, escureceu e ouvi barulhos de passos, era ela. Marilu nem me olhou estava sorridente com os olhos vermelhos, foi até o quarto e voltou  com meu travesseiro e uma manta velha que ficava na cadeira, dizendo: "Tome pirralha, de hoje em diante o quarto é só meu, preciso de espaço durma no sofá ele está ótimo"  esse foi meu presente de quatro anos."

Quando terminei de narrar, meu rosto estava molhado das lágrimas que achei que não existissem mais devido a rejeição, pois na minha vida essa era uma realidade constante.

Quando saí do transe das lembranças notei que Caio também tinha chorado e mais uma vez tive certeza do seu bom coração.

______ Você não merece essa vida docinho, porque é uma boa menina; eu vou oferecer algo e quero muito que  aceite, mas a escolha é sua; more aqui comigo, como você viu o apartamento é grande, não vai faltar alimento, roupas e uma cama pra você, nunca mais, não precisa trabalhar no entanto gostaria que voltasse a estudar.

Caio é um anjo, embora não precise pensar para aceitar sua oferta, me sinto ligeiramente frustrada com a parte em que ele disse " boa menina"

______ Tem certeza Caio?
______ Absoluta, e também temos algo importante a fazer, preciso do seu documento para incluir no moradores do prédio.
________ Está bem preciso pegar na casa da minha mãe.
________ Eu levo você. Agora o sorriso dele é o próprio sol e ilumina tudo.
De repente minha barriga faz um barulho horrível e quero um buraco para enfiar minha cabeça.
_______ Nossa Jôse, você está faminta eu sou um idiota mesmo! Como pude me esquecer de te chamar para o café.

______ Não tem problema, podemos tomar café agora?

_______ Claro, vamos lá. Ele estende as mãos e seguro, então empurro o edredom para o lado e a camiseta está no meio das coxas, seu olhar caí nelas e rapidamente puxo a camiseta, fico envergonhada, ele inicia um novo assunto desviando o olhar.
______ Gosta de rabanada?
______ Não sei, acho que nunca comi isso.
______ Então hoje você vai experimentar.
Caio trás leveza e paz, a presença dele me completa de alguma forma e a fé dele em mim dá coragem para seguir em frente sem desanimar, me sinto capaz. Quando sua mão se une a minha, o coração bate acelerado minha vontade é abraçá-lo e não deixar ir.

Ao chegar na cozinha visualizo comida de uns quinze dias do meu na mesa, involuntariamente meus olhos marejam, mas disfarço com um sorriso. É como se estivesse sonhando, porque geralmente fazia um café e tomava com bolachas água e sal, nunca havia possibilidade de sentar para isso porque não tinha tempo.

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Se de alguma forma as deixei triste me perdoem por esse desfecho dramático, as coisas vão melhorar aos poucos para nossa menina guerreira.

Quero ser suaWhere stories live. Discover now