No "porão" da Big Hit e da memória

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Até hoje estou com o sonho do fogo na cabeça, mas tento afastar esses pensamentos focando no Hyeon e no trabalho.

Amanhã eu vou ver ele, isso me enche de alegria. Tanto tempo sem vê-lo me faz sentir uma saudade que é impossível de mensurar.

Desço na garagem e vejo o meu carro lá. Respiro fundo, deixo de lado meus pensamentos ruins e dirijo rumo a Big Hit.

Tão logo estaciono, vou direto ao "porão" de equipamentos da empresa. Ali também estão guardados os figurinos da turnê passada. Vou na arara de roupas escrito "Suga". Olho cada um dos figurinos que ele usou com um carinho único. Tínhamos 3 modelos de cada para o caso de problemas com as roupas. E todos ali, embalados e quietos, depois de meses sendo usados, lavados e passados em um sistema de rotação que não parava nunca.

Olho as cases de teleprompetrs, iluminação de rampa e nossos rádios de equipe todos em suas cases. Eu sabia que, boa parte daqueles equipamentos seriam substituídos em breve tão logo saísse algo mais moderno, o que, ao certo, já seria na próxima turnê.

No outro canto, vejo algumas caixas com army bombs ainda fechadas e camisas de staff. Se todos esses materiais falassem, teríamos histórias.

Sejin me disse que as filmagens da turnê foram editadas e estão prontas no arquivo. Algumas cenas eram liberadas para o público, mas, a maioria delas, como as nossas no camarim, no hotel e até com as cenas pessoais, essas eram colocadas em arquivo da Big Hit.

Eu sabia que ali tinha eu tocando "Euphoria" no piano no aniversário do Yoongi. Meu pedido de noivado na Torre Eiffel. Os speeaches únicos feitos por quem estivesse acordado no avião na hora que íamos aterrissar em alguma cidade nova. Todas as nossas bagunças únicas ao longo da turnê e até as pegadinhas que fazíamos uns com os outros.

Coloquei uma anotação mental de pedir essas filmagens para ver. 

E no meio de todas essas lembranças, me doía que esse ano não pude fazer nada no aniversário dele por conta do exército. Mas, com certeza, eu ia compensar todo esse período perdido.

Pego a microfonia do Suga, alguns rádios de comunicação, enfio tudo com cuidado em uma grande bolsa e subo para o andar dos estúdios para conferir os equipamentos na calma do Genius Lab.

Depois de testar a aparelhagem, faço uma pequena reunião com Sejin e Slow Rabbit. Conferimos se o responsável pelos equipamentos na apresentação no exército seguiu à risca nosso Input List e Rider técnico. Pode não parecer, mas teríamos umas 800 pessoas nessa apresentação, então, tudo tinha que correr perfeitamente.

E com tudo já no esquema, me dou ao luxo de abaixar as luzes do estúdio e colocar uma música calma... Era Lana Del Rey com "Sumertime Sadness". Enquanto aquela melodia tomava conta do Genius Lab eu olhava as prateleiras que tinham as coisas que ele mais gostava. 

Olhei com detalhes sua coleção de Bearbricks, os bonecos criados pela companha japonesa MediCom Toy feito para colecionadores, e ele os amava. Mas o que me atrai é ver nas estantes, que mantenho na organização que ele deixou, sua escova de dentes e seu perfume. Ele sempre deixava ali já que, virava boas noites trabalhando.

Abro o perfume dele, "Invictus de Paco Rabanne". Aquele cheiro forte e amadeirado invade meu corpo me fazendo fechar os olhos e arrepiar.

Sentir o cheiro do perfume dele me faz olhar ao redor do estúdio e vê-lo de braços cruzados do meu lado reclamando de alguma equalização que ele quer mexer ou até melhor, me lembra da nossa fuga em Las Vegas, ou até mesmo das noites que perdemos o juízo em cada canto globo terrestre. Esse perfume estava sempre na pele dele.

Nessa hora, sinto falta não só desse cheiro no corpo dele, mas do toque dele no meu corpo, do beijo, da língua, do riso e até do mau humor. 

Mas amanhã terei a oportunidade de vê-lo novamente. Meu corpo gritava de saudade e alegria.

A Produtora 2 - O Show Não pode pararWhere stories live. Discover now