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Ta sendo difícil, não posso negar, tudo. As coisas ficavam mais leves quando Aidan me chamava para sair. Para passa tempo comigo. Quando me abraçava. Quando sorria e me tagarelava sobre sua profunda paixão por Star Wars e Rick and Morty. Quando me contava as histórias de como aprendeu a cozinhar com seu pai. Eu apenas escutava, minhas histórias em família sempre foram triste. Depois dos dezesseis entrei em depressão e prometi a mim mesma que mesmo que preciso fingiria estar bem, apenas para não dar desgosto aos meus pais adotivos.

Assim fiz, passava os jantares sorrindo, e quando ia para cama me cortava dos pés a cabeça. Sofri muito, mas estou bem agora, estou livre. Bom sem o Aidan. Sem seu cheiro, amor. Ah, irei arrumar outro. É questão de tempo.

E por falar em saudades.

Passou de apenas três meses, mas o meu coração ainda dói. Onde fui me meter?

Sempre que disseram que o amor doía, nunca escutei, achava besteira, mas agora entendo, sempre soube. Amar minha mãe é meu pai, foi o maior erro que já cometi em toda minha vida.

Minha mãe nunca se importou, me batia de todas as formas, com os cabos de vassoura, com a fita do chuveiro, me batia com seu anel que rasgava meu rosto. O chinelo era de menos. Eu e meu irmão nos escondíamos em cima do armário. Riamos quando ela não conseguia nos alcançar.

O estopim para ela foi quando meu irmão se assumiu gay, garfou meu seio e eu fui morar com ele. Não durou muito tempo, ele se mudou de país e eu parei em um orfanato, lá descobri que minha mãe havia morrido, e depois fui adotada, meu pai me procurou, mas não estava pronta, nem perto.

Meu irmão nunca mais me procurou, talvez não tenha me achado. Meu pai, não sei se está vivo ou morto, e minha mãe foi assasinada. Não sei se quero contato com essa família. Não sei se devo. Mas a única coisa que preciso agora é de um lar, um abraço de uma mãe, coisa que não tenho. Eu procuro em minha agenda o número do meu irmão e ligo. Rezo para ainda ser seu número, rezo para ele atender.

- Alô? - Sua voz está roupa, sonolenta. Já passa das duas, mas eu ainda não consegui dormir. - Alô?

- Oi - Silêncio. Ele tosse e algo faz um barulho. - Oi é a Sn.

- Sn? Sn Foster? Maninha o que... Deus o que você...

- Eu precisava de alguém que me entendesse, e bom, você me entende. Onde você está morando?

- Estou no Brasil. - Eu arregalo os olhos e suspiro. - Sn são duas da manhã, podemos nos falar depois.

- É que...

- Sn, não tem como agora, mas que porra, parece que todas pessoas do passado estão vindo me importunar.

- Te importunar?

- Boa noite Sn! - Ele desliga. Eu me ajeito na cama e pressiono o celular em cima de meu rosto. Bufo e me remexo na cama até pegar no sono. Aperto meu celular com força abraço o travesseiro com força. O mundo parece girar e me jogar para fora da terra.

Ainda não aprendi a falar sobre esse sentimento mas é quase como se eu tivesse me correndo por inteiro. É quase como se eu estivesse a todo instante eu estivesse tentando entender tudo que acontece, decifra o que eu penso. Até eu conseguir entender o mundo. Me entender.

Eu queria viver, eu crua, não me sentir como se o mundo fosse desabar após terminar um relacionamento, pois eu sou assim, dependo emocionalmente de alguém para conseguir me manter em pé, para ser eu mesma, para fazer meu sangue continuar rolando pelas veias. Por que eu sou esse tipo de garota, que não consegue superar as coisas, que revive as coisas, por que eu sou uma pobre coitada que teve uma péssima infância e não consegue olhar para frente. Nunca tive pesadelos diferente, sempre minha mãe, meu tio, meu pai.

Pois eu não consigo ser eu sem ser triste, sem ser completamente feliz, sem ser invadida por tristeza ou total felicidade, preciso ser zero ou cem, preciso ser tudo ou nada, preciso ser eu ou ninguém. E eu não sou ninguém, desapareço quando alguém que eu amava muito desaparece, me abandona.

Um amor puroOnde histórias criam vida. Descubra agora