Capítulo 2

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Eu amo a música. É o meu escape, o meu refúgio, minha inspiração e identidade. Um dos meus maiores sonhos é poder compor músicas para filmes, produzindo grandes trilhas sonoras. Independente do gênero, são essas músicas, que refletem imagens, as que mais me encantam. Enquanto eu estava pensando nesse projeto e em fazer uma nova playlist incluindo algumas músicas da noite passada, Danielle jogou um pequeno papel para mim, que caiu em cima da minha mesa. Estávamos assistindo a uma aula teórica, a qual o professor utilizava de um grande painel digital para exibição de slides. Lancei um olhar para ela que dizia: "Não estamos mais no ensino fundamental". Ela revirou os olhos e gesticulou, levantando as mãos, para que eu lesse.

O pequeno bilhete continha a seguinte mensagem: Gabriel esqueceu a jaqueta dele no bar ontem à noite e está perguntando se você pode passar lá hoje à tarde para procurá-la. Ele também te enviou mensagem. Gabriel trabalha em uma loja de instrumentos musicais durante o dia e estuda à noite. Era o meio que ele encontrava para se manter na cidade, já que seus pais moravam longe. Ele é extremamente inteligente e esforçado, e por me socorrer em grande parte das atividades e ter o jeito e gostos muito parecidos com os meus, tornou-se um grande amigo. Acredito que ele tenha uma paixonite pela Danielle, mas uma vez eu perguntei e ele negou.

Assim que terminei de ler, retirei o celular da mochila e respondi a sua mensagem, dizendo que iria lá. O bar ficava perto da minha casa, poderia ir logo após o trabalho e depois entregar a ele. Posteriormente, peguei o bilhete e escrevi na parte inferior: Acho que ele encontrou um motivo para conversar com você. Devolvi o papel a ela.

Danielle leu a minha resposta e semicerrou os olhos, voltando-os para mim. Virou o papel e começou a escrever no verso. Assim que ela terminou, o professor liberou a turma para o intervalo. Ela olhou ao redor e amassou o papel.

— Não sei de onde você tirou essa ideia. Acho que você anda lendo muito aqueles seus livros de romance. — Comentou com ironia.

— Dan, eu realmente acho que vocês dois combinam. ­— Disse dando de ombros. ­— Como você conseguiu convencê-lo a ir ontem? Ele não tinha aula?

— Ah, você sabe, ele é um nerd. Falou com o professor e ele o liberou, dizendo que iam estudar uma música que já conhecia. — Explicou ela.

— É um sortudo, eu faltei em um horário e vou ter que repor. — Disse com ar de indignação. Danielle riu de mim.

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Quando saí do trabalho, minha mãe já estava me esperando na frente da livraria para irmos para casa.

— Como foi o trabalho? — perguntou quando entrei no carro.

— Ah, o de sempre. Hoje foi bem tranquilo, o movimento estava menor, fiquei ajudando na divulgação da loja. E o seu trabalho?

— Hoje passei o dia fazendo um quadro. — Respondeu. Minha mãe trabalhava em uma loja de objetos artísticos. Ela ajudava nas vendas e era responsável pela pintura dos quadros encomendados. Ela sempre pintou. Desde quando tenho recordações, me lembro dela pintando seus quadros. Eu amava vê-la pintando em sua sala branca repleta de jornais no chão manchados por tintas coloridas. Acho que ela nunca o considerou como um trabalho em si, pintar já fazia parte de sua vida.

Quando chegamos em casa, fui direto para o meu quarto. Meu pai e meu irmão ainda não tinham chegado. Joguei minha mochila na poltrona de cor azul clara que ficava ao lado da cama e fui ao banheiro tomar banho. Ao me vestir, acabei optando por um vestido todo florido com fundo preto rodado e sapatilhas numa cor vermelho cereja. Peguei minha bolsa preta de alça e desci as escadas gritando:

A garota do tênis brancoWhere stories live. Discover now