Capítulo 19

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Segundo os policiais, havia dois dias que Felipe estava desaparecido. Desaparecera depois da aula, antes de sua mãe ir buscá-lo. A mãe, a senhora Brenda, assim como a mãe de Hugo, estava muito transtornada para dar mais informações, estão resolvi não perguntar. Mas para a minha surpresa, foi ela quem me ligou. Pediu desculpas por seu comportamento comigo e disse que se arrependia por tê-lo tirado das atividades da livraria. Suas desculpas foram sinceras, Felipe era tudo para ela. No mesmo minuto em que desliguei o telefone, mandei mensagens para as outras vendedoras da livraria, pedindo para que divulgassem sobre o desaparecimento do menino. A comoção foi tamanha que chegou até os donos da livraria, que fecharam as portas da mesma no dia posterior para que todos focássemos na divulgação nas ruas da cidade e nas redes sociais.

Enquanto passavam-se os dias dos desaparecimentos, mais eram as minhas noites mal dormidas. Não conseguia pensar em outra coisa, não conseguia imaginar o porquê de terem sequestrado um menino tão quieto e meigo como Felipe. Ao contrário disso, havia Hugo que, pela nossa última conversa, teve a opção de escolher o que parecia ser o lado errado.

Meus pais, preocupados, pediam que Danielle e Gabriel sempre me monitorassem na universidade para que eu comesse corretamente, mas a verdade é que às vezes eu só comia para satisfazer o desejo deles, já que não sentia nem o gosto da comida.

Às vezes ia até a máquina para reviver alguns momentos com Felipe, mas eram poucos, a máquina perdia a graça com a ausência de Hugo. Já não gostava mais de ver o seu antigo eu, ansiava do fundo do coração criar novas memórias ao seu lado, ao lado dos dois. Todos os dias ouvia as playlists de Hugo à noite e chorava, sentindo sua falta em cada palavra de cada música que havia escolhido. Mas certa vez algo estranho aconteceu. Uma playlist foi adicionada à conta. Uma playlist que nada tinha a ver com as músicas habituais de Hugo. Estava intitulada como "Fit" e era repleta de músicas que combinavam com academia.

Hugo não gostava de academias, acho que era um trauma que teve quando era gordo, mas gostava muito de correr. Praticamente todas as tardes via-o passar na frente de casa correndo, com o headphone na cabeça.

— Então ele agora é um homem fit? — zombou Danielle durante o intervalo das aulas. — Interessante. — Complementou vagamente.

— Pois é, é o que parece ser. Ou alguém está com a conta dele ou é apenas uma outra mudança. Pelo menos, deve estar bem. — Disse dando de ombros.

— Você não acha isso amiga. — Disse Danielle, lançando-me um olhar triste. — Não passou nem um pouco pela sua cabeça quem poderia ajudar nessa história do Hugo? — perguntou ela sem olhar para mim.

— Quem? — indaguei, curiosa.

— Pensa bem. Na história do Hugo, quem, além do Caleb, conhecia esse tal grupo que eles estão andando agora? — perguntou Danielle, parecia até que estava com raiva. Depois de alguns segundos pensando, entendi.

— Tiago. — Disse, perplexa.

— Sim. — Confirmou, Danielle.

— E como vamos fazer isso? — ela suspirou, ainda irritada com a minha lerdeza.

— Que tal você ir falar com ele? Preciso te convencer a fazer isso? — Fiz uma careta para ela.

— Tá bom, vou falar com ele.

— Eu e o Gabriel vamos procurar pelo Hugo em todas as academias da cidade, caso seja necessário. — Disse com orgulho. Puxei-a pela mão para um abraço.

— Dan, muito obrigada, mas sabe, eu não sei se realmente valha a pena tentar encontrar o Hugo. Eu já conversei com ele...

— Tenta pensar que agora não é só por você ou por vocês dois, mas pelos pais do Hugo. Até eu que costumo ser insensível, não suporto mais vê-los daquela forma. — Disse sem jeito.

A garota do tênis brancoOnde histórias criam vida. Descubra agora