Capítulo 7

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Eu estava deitada sobre uma superfície áspera e fria, embora o local também estivesse gélido. Empenhei-me a levantar e analisar o ambiente, com a esperança de encontrar algo ou alguém familiar, mas estava muito escuro e eu não conseguia enxergar nada. Ao pressionar a palma de minhas mãos no chão, senti dores inquietantes em diversas partes do meu corpo. Talvez eu realmente não conseguisse ver, pensei. Havia cacos de vidro sobre a pele da minha perna esquerda e grande parte da minha cabeça encontrava-se em um latejar contínuo. Em outra tentativa falha, não consegui retirar os cacos e a dor aumentou gradativamente. Resolvi, então, esperar ali, o que quer que fosse. Àquela altura, eu já não sabia o que era certo ou errado, quem eu era, nem mesmo lembrava o meu nome, muito menos de como fui chegar ali ou o que "ali" era. Mas de repente, como um sinal, pude ver uma única luz, forte, juntamente com um ruído, que preencheu o mar de silêncios que me envolvia. Era um som conhecido e estava muito distante. À medida que se aproximava de mim, reconheci-o, era o som de passos.

Entrei em desespero, sem poder saber se aquele era um bom sinal, se quem estivesse chegando até mim pudesse me salvar. Então, em uma fração de segundo, os passos cessaram bem próximos da minha face. A pessoa se agachou, obstruindo a passagem da luz e levou a sua mão direita a mim.

Ananda!?! Era a voz de Tiago, clara e baixa. Eu vou te tirar daqui, sussurrou. Sua voz transparecia dor. Senti o toque da sua mão acariciando a minha bochecha. Foi nesta hora que eu acordei.

O despertador tocou.

— Droga! — disse ao me sentar na cama.

Mais uma vez aquele pesadelo aparecia nas minhas noites. Acho que isso nunca tinha acontecido comigo antes, de chegar a repetir algum pesadelo. Era muito estranho. Talvez fosse alguma preocupação ou pensamento constante sobre o Tiago. Realmente acho que andei pensando nele bastante nos últimos dias. Não posso negar, acho que foi o melhor primeiro encontro que já tive. Tiago tinha duas das melhores qualidades que mais me conquistava em um garoto. A primeira qualidade que eu visava era a educação, gentileza. E ele demonstrou bastante isso, desde que nos aproximamos. A segunda era ser engraçado. Acho que independentemente do tipo de relacionamento, amo pessoas que me façam rir.

Outra qualidade, que eu não sabia se ele tinha, era ser muito inteligente, tipos aqueles nerds de toda turma. Eu não sei o porquê, mas sempre tive uma "queda" por eles. Na música é difícil observar isso, o que se destaca é o talento mesmo. Eu e o Gabriel marcamos de irmos à casa do Hugo nesta noite, para que ele nos mostrasse toda a configuração do canal e postássemos o primeiro vídeo. Iríamos comemorar o lançamento da melhor (e mais nossa possível) forma: Assistindo Star Wars e comendo pipoca e brigadeiro.

De repente, meu humor mudou, ao pensar em Danielle. Havia a convidado para ficar conosco nesta noite durante a aula de Percepção Musical, mas ela disse que tinha um jantar de família. Nossas conversas se resumiam a poucas palavras. Achei que fôssemos nos entender, mas depois que conversamos, as coisas ficaram estranhas.

Coloquei então uma playlist antiga de rock. Estava tocando Nobody's Home da Avril Lavigne. Decidi deixar o celular tocando no banheiro enquanto tomava banho. Não consegui me conter e cantei junto. Acho que a música tem mesmo o poder de mudar o nosso humor. Como sempre cita minha mãe "espantando os males".

Colocar aquela playlist sempre me fazia lembrar da minha pré-adolescência. Decidi então entrar no clima e me vestir de preto novamente. Coloquei uma blusa preta básica, calça jeans e all-star. Desci a escada para tomar café. Quando observei o relógio da sala, vi que estava atrasada. Que péssimo hábito estava se tornando!

— Mãe! — Gritei, terminando de descer a escada. — Estamos atrasadas!

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A garota do tênis brancoWhere stories live. Discover now