Capítulo 20

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Quando a mãe de Felipe chegou, o menino começou a nos contar sobre o sequestro. Por incrível que pareça, ele estava bem e disse que se sentiu verdadeiramente com medo poucas vezes durante esses dias.

— Quando estava saindo da escola, recebi uma mensagem do papai, pedindo para que eu fosse para a casa dele. Disse que estava me esperando na esquina e eu fui andando, até que senti uma mão me puxando, e quando vi, já estava dentro de um carro e não conseguia ver nada. Essa foi a pior hora, eu gritava, chutava, tentava de todas as formas sair dali, mas não conseguia. Eles me mandaram calar, disseram que não iam me machucar se eu me comportasse, tinham pego minha mochila e eu não tinha mais nada, então só fiquei quieto no canto do banco, tentando contar os segundos para saber por quanto tempo viajaríamos. A viagem durou cerca de quarenta minutos. Quando chegamos, eles tiraram a venda e me trancaram num quarto, que tinha uma cama e uma mesa pequenas. Olhei pela janela e vi um lugar cheio de árvores, tinha uma bem na frente com um balanço amarrado a ela, mas não consegui ver nenhuma casa ou pessoa por perto. Decidi guardar cada detalhe na minha memória, porque não havia mais nada ali para escrever. Também resolvi reclamar e conseguir algumas respostas dos meus sequestradores, tinha visto algo do tipo na televisão. — Estou com fome! – reclamei, mas ninguém respondeu. Depois de alguns minutos, porém, fiz uma nova tentativa. — Ei, só tomei café hoje, preciso almoçar.

— Cale a boca menino, daqui a pouco sua comida chega. — Rebateu uma voz grave. Esperei alguns minutos e continuei:

— Podem devolver os meus materiais? — perguntei, intrometendo-me mais. Não tive resposta, então resolvi acrescentar: — Prometo que se me entregarem a mochila com os meus cadernos, não vou falar mais nada, só quero fazer os meus deveres e desenhar. — Disse a eles. Não disseram mais nada, mas ouvi alguns barulhos e depois eles abriram a porta do quarto e jogaram a mochila dentro. Revirei a mochila e vi que apenas duas coisas estavam faltando: o meu tablet e o celular, mas não reclamei. Ao invés de escrever, achei melhor desenhar tudo que via todos os dias e assim fiz. Aqui estão. — Olhei para os desenhos de Felipe, mas nenhum deles trazia alguma informação que nos ajudasse a encontrar os sequestradores.

— Eles me traziam a comida em diferentes horários e sempre usavam máscaras diferentes, de fantasias, para me entregar. Não eram as mesmas pessoas, percebia pela aparência. Na primeira vez, durante o almoço, quem me entregou foi um homem baixo e corpulento, de pele branca e que usava uma máscara do Hulk. Esse parecia ser o mesmo que trouxe o meu jantar naquele dia, mas durante o café da tarde, quem trouxe foi um homem alto, magro e de pele negra com a máscara do Capitão América. — Prosseguiu ele. — Esses dois se revezaram até o último dia em que fiquei preso. No último dia, hoje durante o jantar, quem entrou pela porta era um homem alto e magro, de cabelos marrons escuros e que usou um papelão furado para tampar o rosto. Ele me entregou a comida e saiu. Depois de alguns minutos, quando eu já tinha terminado de comer, ele voltou e disse que eu poderia arrumar minhas coisas, que eu iria sair dali. Em questão de segundos, arrumei minha mochila, estava nervoso. O homem esperou na porta, jogou uma venda para mim e depois que checou se eu a havia colocado corretamente, me guiou até a saída. Contei os passos. Dez reto, cinco para a esquerda e dez na entrada, que parecia ser terra.

— Entramos num carro e depois de muito tempo eles me deixaram numa rua. Sei que eram mais de um, porque sentia a presença de uma pessoa em cada lado durante a viagem. Já era noite e mesmo na escuridão, consegui ver que era a rua da escola. Comecei a caminhar em busca de alguém, mas não havia nenhuma pessoa na rua. Depois de algumas quadras, porém, um carro parou perto de mim e eu comecei a correr, com medo, mas o homem gritou meu nome. Ele me fez umas perguntas e me deixou em frente à sua casa.

— Caleb. — Sussurrei, dizendo mais para mim mesma. A história era muito confusa. — Você teve muita sorte de ser alguém conhecido. Só por que disse seu nome, entrou num carro de um desconhecido? Seu nome e sua foto estavam em praticamente todos os postes da cidade. Ele falou alguma coisa com você? — perguntei, curiosa.

A garota do tênis brancoOnde histórias criam vida. Descubra agora