Capítulo 9

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— Preciso que vocês se reúnam em grupos de quatro pessoas. — Foi o que o professor Alexandre disse assim que chegou na sala. Ele estava vestindo uma camisa branca social com calça preta. — Hoje farão uma atividade juntos, vale nota. — Ele completou. Na mesma hora, meu humor mudou. As atividades em grupo eram as minhas preferidas, mas com essa história que tive com a Danielle, já não tinha o mesmo entusiasmo de antes. Gabriel, que estava ao meu lado, no lugar onde ela se sentava, sorriu para mim. Gabriel foi obrigado a tirar as férias nesse mês devido ao revezamento feito na empresa onde trabalhava e pediu aos professores para estudar na parte da manhã durante esse final de semestre. Percebi que Tiago estava a se aproximar de nós, trazendo seus materiais nas mãos. Havíamos concordado em ainda não expor nosso relacionamento para a turma.

— A Danielle vai se juntar a vocês? — sussurrou Carol, se aproximando das nossas cadeiras. Meu olhar suplicante se voltou para o lugar onde Danielle estava, numa das primeiras carteiras da última fila, próxima da porta. Ela estava encurvada para a parede e pronta para fugir, se fosse necessário.

— Não, pode ficar com a gente. — Gabriel respondeu antes que eu pudesse reagir.

— Oi Tiago. — Disse assim que ele se acomodou entre mim e o Gabriel. Mudamos nossas carteiras de posição para formar um círculo fechado.

— Oi. Oi, pessoal. Nem perguntei a vocês se poderia me juntar ao grupo, já fui logo me sentando, mas caso vocês se oponham, posso sair. — Ele disse, de repente envergonhado.

— Sem problemas. — Foi o que Gabriel respondeu. — Grupo fechado! — Ele disse em alto tom, acredito que para que o professor Alexandre ouvisse. Segui o seu olhar e percebi o porquê de o professor Alexandre não ter ao menos se virado para checar o grupo, ele estava encarando a Danielle e ela fazia o mesmo com ele. Por uma fração de segundo eles não disseram nada, mas havia rugas bem formadas na testa do professor, o que visivelmente era sinal de que ou ele estava irritado ou preocupado.

— Posso fazer sozinha, é só um trabalho. — Ela insistiu. Agora todos da turma estavam fitando-a. — Você deveria me incentivar, professor. Terei mais trabalho do que todos da turma. — Ela disse com um leve tom de deboche.

— Estou incentivando algo muito melhor, a sua interação com os colegas, é o que vai precisar lá fora. — O professor explicou, seriamente.

— Mas, prof... — Danielle continuou a tentar se defender, mas o professor logo a interrompeu.

— Sem mas, sem desculpas! — Ele levantou a mão direita como sinal de repreensão. — Se insistir em fazer sozinha, sua nota será dividida por quatro! — ele virou e caminhou lentamente até a sua mesa, sem voltar a olhar para Danielle.

Tive muita pena dela naquela hora. Algo tão simples, onde fomos parar? Não precisei encontrar os olhos de Gabriel por dois segundos, de imediato ele assentiu e se levantou, indo consolá-la, ou tentar montar um grupo, o que conseguisse. Decidi ir até o professor Alexandre. Iria usar da vantagem da boa conduta como aluna. Mas não queria que ela visse, Danielle ficaria uma fera se percebesse que eu estava tentando ajudá-la. Resolvi destacar uma folha do caderno e escrever para o professor um pouco sobre a situação e entregar a ele a folha.

Professor, peço por favor, que o senhor deixe a Danielle fazer a atividade sozinha. Ela anda passando por tantos problemas pessoais. Espero que entenda. Ananda.

Segurando o caderno, me levantei para ir até a mesa do professor. Senti os olhares dos colegas nas minhas costas. Quando me aproximei do professor, me curvei sobre a mesa, como se fosse tirar uma dúvida e em cima do caderno expus o recado, disfarçadamente, para que ele lesse. Mas não o fez, nem chegou a ler o recado, seu olhar de repente ficou preso em algo ou alguém que estava no fundo da sala. O professor, então, se levantou rapidamente, fazendo com que minha folha caísse no chão e gritou:

A garota do tênis brancoWhere stories live. Discover now