Capítulo quinze

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Odeio o jeito que o tempo passa rápido demais. Uma semana desde que cuidei de Drew bêbado. Fomos a algumas festas e fiquei feliz daquilo não ter acontecido denovo.

Amanhã, segunda feira, vai ter um pequeno evento na minha escola, e eu estou nervosa como nunca estive antes. É algo idiota que já fiz muitas vezes, vamos apresentar uma peça, mas dessa vez, Drew vai estar na plateia. Ele insistiu para ir e eu deixei, ele que se vire com gente pedindo para tirar foto com ele toda hora.

De início iria só minha mãe, já que infelizmente meu pai não conseguiu desenrolar para dar uma escapadinha do trabalho. Ele é médico cirurgião, e dos bons! Tenho muito orgulho dele.

Como sou do último ano, nossa peça será a última a ser apresentada, mas, por eu também ser do último ano, acabei ajudando outras turmas nas apresentações delas.

O sétimo ano do fundamental dois está contando comigo, e mais outras duas meninas da minha sala, para dançarmos com a turma deles, já que são uma classe tão pequena, precisaram pedir para outras pessoas entrarem na apresentação. É uma dança simples, não vai demorar tanto.

Já o primeiro ano do ensino médio é o que me deixa mais agitada. Ajudei eles a escreverem basicamente toda a peça. Cada professor ficou responsável por uma turma, mas somos nós que nos viramos para apresentar algo bonito. Espero que quando eles digam meu nome dizendo que ajudei a escrever a peça, minha mãe veja que talvez eu goste um pouco desse tipo de coisa.

Estou nervosa com a minha peça porque além de ser protagonista, Drew estará lá, o que faz com que eu queira dar o meu melhor, aliás, ele é ator, ele sabe se sou boa ou ruim, e quero que ele me ache boa. Se fosse nos outros eventos da escola, em que só minha mãe, meu pai ou minha irmã vão, eu faria bonito para eles verem que eu não sou tão ruim nisso, mas agora preciso fazer melhor ainda.

Foi uma luta para conseguir o papel de protagonista. Sinceramente? Qualquer papel que me derem eu estou fazendo, eu amo atuar, o que importa é estar na peça. Mas dessa vez eu queria ser a protagonista, porque ela foi criada por mim e eu sabia como interpretá-la. O professor de literatura, o de português e a de artes, foram os responsáveis por escolherem os papéis. Fizemos testes, e para protagonista apenas eu e Vivienne decidimos fazer. Todo mundo quer ser protagonista de algo, isso é óbvio, mas como era Vivi que queria o papel, as pessoas tiveram medo e desistiram. Mas eu não, e os professores me escolheram.

A peça foi de nossa autoria, e eu também ajudei muito no roteiro. Junto com Helena, escrevi todo o enredo de Karina, a protagonista e de Lucas, seu par romântico.

É uma história de superação e amadurecimento. Resumindo bem rápido, Karina e Lucas se apaixonam na escola, enfrentam alguns problemas pois Lucas tinha depressão e Karina tinha câncer, no final, ela morre e ele que queria morrer, decide viver por ela.

A professora de artes que apresentou a ideia, adoro aquela mulher.

Fico o tempo inteiro em frente ao espelho repetindo as falas, mas como hoje é meu último dia de ensaio, decido ligar para meu professor de teatro, e ele me escuta com atenção. Me elogia, fala algumas coisinhas que eu posso mudar, mas diz que estou sendo perfeita.

– Obrigada professor! Você é incrível. – Digo prestes a desligar a chamada.

– Você sabe que é minha aluna preferida Mia, espero ver você brilhando em breve. Depois me mande o vídeo da apresentação.

– Pode deixar! – E então desligo.

Estou na casa de Drew, mas no momento ele está na piscina, última vez que o vi parecia morto boiando. Escuto uma batida na porta.

– Entra! – Grito.

– Com quem estava falando?

– Hum, ah, um professor meu.

– Da escola? Vou vê-lo amanhã?

– Provavelmente.

– Mas então por que ele estava pedindo que mandasse o vídeo da apresentação depois?

– Você entende mesmo tudo em português em!

– Se eu não entendesse não iria amanhã, burra.

– Mereci essa.

– Mas quem era? – Não sei o que responder. Não contei a Drew sobre o teatro. Faço toda terça a noite, e mesmo que eu tenha largado o emprego na livraria e continuado só com a lojinha na Internet, digo para Drew e meus pais que agora trabalho pelo site da loja a noite, toda terça. Parece estúpido mas eles acreditaram. Mas confio em Drew, melhor eu contar antes que ele descubra sozinho.

– Era meu professor de teatro. – Respondo.

– De teatro?

– É.

– Você faz teatro?

– Sim.

– Teatro?

– É Drew, teatro.

– Desde quando? – Explico tudo para ele, desde o início. Conto sobre meus pais terem acabado com meu sonho, conto sobre as mentiras, o meu desejo escondido de trabalhar com artes cênicas, tudo, conto absolutamente tudo.

– Mia eu não fazia ideia. – Diz ele.

– É. Mas tudo bem, eu já superei isso. Faço teatro por hobby.

– Se fosse só um hobby você não faria escondido.

– É melhor assim.

– Você não deveria se privar de um sonho por causa de seus pais Mia, você já tem dezoito anos!

– Meus pais não entendem ok? Não são iguais aos seus. Está tudo bem, não quero mais tocar no assunto.

– Não vou mais tocar no assunto se você me prometer uma coisa.

– Diga.

– Promete fazer inscrição para pelo menos uma faculdade de artes cênicas ou de cinema?

– Drew...

– Tem uma de artes cênicas perto de onde eu moro, por favor, ela é ótima e bem conhecida, só uma, eu imploro.

– Você sabe que vou me inscrever em outras trinta de advocacia né?

– Tudo bem, mas pelo menos uma do que você realmente quer.

– Ok. – Cedo. Não foi preciso ele me convencer tanto, pelo menos agora tenho uma desculpa pra tomar vergonha na cara e fazer uma inscrição para algo que realmente adoraria fazer. Em outubro, mês que vem, as vagas começam a abrir. Vou fazer tanto para os EUA, quanto para aqui no Brasil mesmo. Fiz S.A.T e Enem, e até que não foi algo tão ruim assim.

– Se você passasse para uma faculdade perto de onde eu moro, poderia morar comigo. – Ele diz.

– Eu mataria você em uma semana.

– Ou eu te mataria primeiro.

– Ia ser algo engraçado de se ver.

– Espero conseguir. – Ele conclui. A ideia de morar com Drew parece legal e assustadora ao mesmo tempo. Ele me ajudaria com todo o tipo de coisa que eu não entendo, principalmente a faculdade, mas ao mesmo tempo a gente ia matar um ao outro por coisas completamente simples.

Mesmo assim é uma ideia que agora está correndo pela minha cabeça.

Paper Rings | Drew StarkeyOù les histoires vivent. Découvrez maintenant