Capítulo trinta e cinco

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Acordo com o rosto todo inchado por ter ido dormir chorando ontem. Sinto vergonha de mim mesma. Por que eu sinto vergonha de mim mesma? Por que eu faço tantas perguntas? Por que eu não paro de pensar em Drew? Eu acabei de acordar.

Me sento na cama e me olho na câmera frontal do celular. Estou com uma olheira horrível, Joy, minha maquiadora, vai ter um bom trabalho no meu rosto hoje.

Maldita hora que eu fui falar que Drew poderia entrar no meu quarto sem bater na porta, porque ele realmente entra, e hoje em específico estou horrível. Para ser sincera eu não me incomodo que ele me veja desarrumada, mas prefiro que me veja bonita, tenho medo que pare de me elogiar se continuar me vendo por mais meses toda descabelada.

– Bom diaaa! – Ele entra no quarto com um pedaço de pizza e um copo de refrigerante. Ótimo café da manhã.

– Bom dia. – Digo meio grogue de sono. Como esse cara consegue ter tanta energia?

– Por que você chorou?

– An?

– Você chorou.

– Como você sabe?

– Porque está com o rosto inchado e o nariz entupido. Você fica assim quando chora.

– Ah, não foi nada relaxa.

– Foi, sim. O que houve, Mia? – O tom dele fica mais sério. O que ele quer que eu diga? "Ah, Drew, eu chorei a noite toda por descobrir que gosto do meu melhor amigo e HEY! Advinha? É você!"

– Terminei de ler um livro da Collen, ontem, acabei chorando até dormir. – Minto.

– Você chora pra caramba com os livros dela, mas sei que está mentindo. Conversamos sobre isso depois, agora come. – Ele deixa o belo café da manhã em cima da cama e sai do quarto.

Sabe qual a pior parte da aceitação? Ter que se desapegar da negação. Eu neguei tanto a mim mesma e tentei tanto me convencer de que não gostava do Drew, que me acostumei com isso. Tentei gostar de um garoto babaca só para esquecer dele, e mesmo assim, não consegui.

Desde criança eu sempre fui de chorar sozinha, de esconder o que eu sinto, até para mim mesma. E em uma noite, eu perceber algo que tento esconder a meses? Foi muito rápido, não estou preparada para isso. Não estou preparada para viver em uma friendzone. Eu literalmente tenho que beijá-lo na série. E não sei se consigo.

Não sei se vou conseguir fazer a merda do meu trabalho hoje porque decidi resolver minhas dúvidas de uma vez só, uma onda de sentimentos e respostas surgiram nessa madrugada. Eu não sei lidar com isso.

*

Tento o máximo evitar Drew no set, tento de tudo para fazer com que não tenhamos que gravar uma cena juntos. Se eu beijá-lo, vou querer mais. Eu sempre quis mais. "Teste" uma ova! Eu só queria beijar ele de verdade, fora das câmeras. Inconscientemente eu mentia para mim mesma. E vou ter que continuar mentindo.

– Miaaaaaaa! – John grita meu nome. Estou em um cantinho escondida, mas não deu certo. Eu sou atriz, não sou? E todo mundo fala que eu sou boa nisso. É só atuar, Mia, você precisa fazer o que sabe de melhor.

– Tô indo! – Me levanto e vou em direção ao local que já deveria estar a tempos. Quando o diretor grita ação, entro no personagem como nunca entrei na minha vida. Não é Drew na minha frente, é Rafe, e eu não sou a Mia, sou a Ruby. É a Ruby que está apaixonada por esse cara, e não a Mia. A Mia é apaixonada pelo ator e pelo personagem, mas hoje ela vai fingir que nada está acontecendo e que a cabeça dela não está um caos! Preciso parar de falar em terceira pessoa.

Em uma cena que Ruby está estressada com Rafe, ele chega perto dela, beija seu pescoço. Me desmonto inteira. Quando ele me puxa pela cintura e nossos lábios se juntam, eu quase cruzo os dedos torcendo para que o diretor nunca diga "corta", mas ele grita, com menos de um minuto.

– Podemos fazer da última fala denovo? Mudem para o lado de lá – Ele aponta. – Não ficou muito bom na câmera, fazer refazer tudo bem? – Eu e Drew concordamos com a cabeça. Te amo diretor eu te amo muito lindo te amo sério eu te amo.

Quando Drew beija meu pescoço pela segunda vez, me arrepio toda denovo. Ele sorri quando percebe, não sorriu na primeira vez. Não estava no roteiro. Dessa vez o diretor não para nós dois. Gravamos até o final, mas mesmo assim, o beijo é rápido. Anseio por mais mas sei que acabou, sei que em breve as gravações acabam e nunca mais ficarei tão perto assim de Drew.

Não consigo mais olhar em seus olhos como antes, não consigo mais ficar tão perto dele como antes. Não tenho controle e provavelmente iria fazer alguma besteira.

Quando chegamos em casa, conversamos como se eu não escondesse nada, como se estivesse tudo bem. Quando vejo que Drew pegou no sono no sofá, decido ir para a sacada.

Apesar da chuva de ontem, o céu hoje está lindo, está estrelado. Me sento no balanço para conversar baixinho com a lua e as estrelas.

– Por favor – Imploro a elas. – Me ajudem nessa, eu preciso de vocês. Eu não sei o que fazer, estou mais perdida que tudo. – Não consigo segurar as lágrimas.

Conto para minhas melhores amigas sobre o que anda acontecendo, encontro as três marias e dou um baita de um sorriso pois não havia visto elas antes. Será que me escutam? Peço a lua e ao universo respostas, imploro as estrelas para que me ajudem a brilhar como elas. Eu deveria ter inveja, mas vê-las brilhando me faz mais feliz do que nunca.

Sou grata ao céu por todos os meus segredos que ele guarda. Se a lua tivesse sentimentos, sei que choraria comigo, e se as estrelas pudessem, abraçariam nós duas. O sol, diria que tudo ia ficar bem, e o universo sorriria vendo a nossa amizade.

Me sinto forte e destemida quando olho para a imensidão azul a cima de mim, e me sinto em paz quando Drew olha em meus olhos. A paz que ele traz para mim, eu só sentia observando o céu. Se meu pai estivesse aqui, me diria que o amor é assim. O amor pode ser lindo, mas ele também pode doer. O amor é um sentimento que fala mais alto do que qualquer coisa, é o grito mais lindo e assustador. No momento, só estou assustada.

– Oi, doida! – Drew diz abrindo a porta da sacada e vindo sentar ao meu lado. – O que faz por aqui?

– Procurando por respostas.

– E conseguiu tê-las?

– Em parte, sim.

– E o que o céu te disse dessa vez?

– Ele me deu um tapa na cara, na verdade. – Drew sorri.

– Como assim?

– Me disse que eu deveria procurar pelas respostas dentro de mim mesma, aliás, ja as tenho, só não encontrei.

– Tem tantas perguntas assim?

– Ah, Drew, você não faz ideia! – Ele me olha, em silêncio.

– Você está bem? – Ele pergunta.

– Por que a pergunta?

– Não sei, me diz você. Seu tom de voz está mais sério, sei que dormiu chorando e estava chorando agora também. Odeio vê-la chorar, fale comigo, me deixe te ajudar.

– Uma vez você me disse que contar um desejo impossível a alguém, requer muita confiança. Me desculpe, mas esse desejo eu vou deixar guardado com o universo.

– Achei que você tinha vários.

– Ainda tenho, mais todo mundo tem um foco principal né? Infelizmente o meu é o que não posso ter.

– Sinto muito, sei exatamente como é isso. – Ficamos vendo as estrelas como quase todas as noites. Não posso me afastar dele por causa de um sentimento idiota. Não é culpa dele, e sim minha. Vou superar isso.

Ou não.

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Queria dizer que hoje eu tive um dia de merda mas os comentários de vocês me fizeram rir e me animaram pra caraca! Serio, obrigada por tudo.

Paper Rings | Drew StarkeyOnde histórias criam vida. Descubra agora