Capítulo vinte e oito

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Acordo no dia seguinte com uma dor de cabeça dos inferno. Não faço ideia do que aconteceu noite passada. Sento na cama devagar e esfrego os olhos. Não estou no meu quarto. Quando percebo onde estou, acordo em um instante. As lembranças da noite passada ainda estão distantes, mas algumas são o suficiente para que eu ligue os pontos e me lembre onde e com quem dormi.

Drew. Estou usando uma blusa dele.

– Hey, bom dia. – Ele entra no quarto. Um sorriso tímido no rosto.

– É, hum, ah, bo-bom dia. – Gaguejo. Ele ri e me entrega um copo d'agua com um remédio.

– Minha cabeça dói. – Digo tentando sair daquele clima estranho.

– Sei como é. – Ficamos em silêncio denovo. Preciso falar algo.

– Drew, é, sobre ontem a noite...

– Ah..

– Então...

– A gente bebeu.

– Muito.

– É, muito.

– Não tínhamos muita ideia do que estávamos fazendo.

– Não tínhamos nenhuma ideia do que estávamos fazendo. – Ele diz, parado em pé mas não tão perto com as mãos nos bolsos da bermuda.

– Foi um erro, Drew, e...

– Não aconteceu, Mia. – Ele interrompe.

– Ok, não aconteceu.

– Ta.

– Ta.

– Ta.

– Vou para o meu quarto, é, hum, obrigada pelo remédio.

– Ta. – Ele diz por final.

Minha cabeça dói muito e meu corpo está cansado, quero dormir mais. Para ser honesta, a última coisa que me lembro foi de termos chegado em casa quase caindo de bêbados tropeçando um no outro. Depois disso, bem, combinamos que nada aconteceu, então nada aconteceu.

Estávamos bêbados, por impulso acabou rolando o que rolou e é isso. Se a minha amizade com Drew ficar estranha eu nunca vou me perdoar por ter bebido.

Pego uma peça de roupa e vou para o banheiro tomar um banho. Sem ser o de Drew dessa vez. Quando a água bate no meu corpo torço para que leve consigo todo esse sentimento estranho que estou sentindo agora. Eu e Drew resolvemos nossas coisas ou na conversa, ou fingindo que não aconteceu. Sinceramente? Não quero mesmo conversar sobre ontem a noite. Alguns flashbacks passam em minha cabeça enquanto tomo banho. Afasto os momentos dos meus pensamentos quando me pego no flagra sorrindo.

Volto para o quarto e me jogo na cama. Nada aconteceu. Você e Drew beberam e foi só isso, dia de ressaca hoje, não vão fazer nada, amanhã tudo volta ao normal. Repito para mim mesma e torço para que seja verdade.

*

Acordo no meio da madrugada com trezentas batidas na porta. Eu durmo com a porta destrancada por que ele insiste em quase derrubá-la!?

– MIIIIAAA!! – Drew grita.

– O QUE FOI MERDA!? – Digo levantando da cama e abrindo a porta com uma estupidez que pensei que ela fosse quebrar. Estou com os braços cruzados, de cara feia para Drew.

– Vem – Ele diz me puxando pelo braço. – Não tenho tempo para levar bronca, só me segue. – Não tenho muita escolha a não ser segui-lo.

Vamos para a sacada de sempre e nos sentamos no balanço. Quando entendo do que se trata, não estou mais irritada por ele ter me acordado.

– É uma chuva de meteoros? – Pergunto, maravilhada com o céu.

– Sim! Não conseguia dormir e vim para cá. Foi quando vi que estava tendo uma chuva de meteoros. Não seria justo não te chamar para ver e você descobrir no Twitter depois e ficar triste por ter perdido.

– Obrigada! – Agradeço. Estamos bem, pelo visto. Tinha medo de que ficasse um clima estranho e eu tivesse que me mudar para a França, trocar meu nome para Marinete, sair por Paris lutando contra o crime junto de um gato que se veste igual stripper só para que não ficasse um clima chato entre a gente. Fez sentido? Não. Mas eu adoraria!

Drew parece concentrado olhando o céu. Olho para ele, para seu rosto de perfil. Ele sempre faz isso comigo, me observa como se eu fosse uma pintura em um museu. Estudo seu rosto, cada detalhe, e volto a olhar aquela imensidão azul novamente.

– Drew. – Chamo ele.

– Diga.

– Você acha que os meteoros são como as estrelas cadentes?

– Como assim, Mia?

– Tipo, será que podemos fazer pedidos a eles também? E como é uma chuva de meteoros, será que podemos fazer vários pedidos? Eu adoraria! Tenho tantos desejos.

– Não sei se os meteoros são como as estrelas cadentes, Mia, talvez sejam. Mas para mim não importa, eu só tenho um desejo em mente.

– E qual seria?

– Se eu contasse, o pedido não se realizaria.

– Por que acha isso? – Pergunto curiosa.

– Porque não importa o quanto queremos uma coisa, nem sempre ela se realiza, e contar a outra pessoa um desejo impossível, requer muita confiança.

– Você não confia em mim?

– É claro que confio, banananinha, mas alguns desejos eu prefiro deixar com as estrelas. – Ele conclui. Drew é tão inteligente, queria poder saber sobre tudo o que passa naquela cabecinha, mas nem sempre ele conta. Não acho que ele não confie em mim, acho que não confia nas minhas reações, ou talvez, não confie em si mesmo.

Paper Rings | Drew StarkeyWhere stories live. Discover now