Capítulo vinte

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Eu. Não. Estou. Bem.

Hoje é o dia que sai os resultados da maioria das faculdades em que me inscrevi, provavelmente de todas será hoje. O ano acabou, já estamos em janeiro denovo, me formei e não estou pronta para a faculdade.

FACULDADE.

Não estou pronta.

Eu tentei ganhar bolsa em todas as faculdades em que me inscrevi. Estudei muito para isso, semanas e mais semanas dormindo duas horas por dia, isso quando eu conseguia dormir. Na verdade, estudo para garantir um bom futuro desde o primeiro ano do ensino médio, que foi quando eu decidi dar um jeito na minha vida. E mesmo com todo esse preparo, não me sinto preparada.

Estou de dedos cruzados torcendo para que eu entre na faculdade de Direito que fica perto de onde Drew mora. É mais ou menos umas três horas de carro, e além de vê-lo basicamente sempre, dizem que essa faculdade é a menos complicada de passar e conseguir bolsa.

É inútil eu torcer para entrar na faculdade de artes. Como eu faria isso? Meus pais ficariam decepcionados. A faculdade de artes é mais ou menos umas meia hora da casa de Drew, e eu poderia morar com ele. Depois de muito sufoco tentando me convencer a isso, eu acabei cedendo, prometi a ele que se eu entrasse na faculdade de artes, moraria com ele. Mas nós dois sabemos que mesmo que eu seja aceita, eu não irei entrar.

De acordo com Drew três horas não são tanta coisa assim e eu poderia morar com ele mesmo indo para a faculdade de direito. Nós dois sabemos que seria impossível.

Eu não tinha ideia do quanto queria fazer artes cênicas até eu escrever a minha redação e enviar um monólogo em que eu atuei, escrevi, dirigi e editei.

Na redação, eles sugeriram alguns tópicos interessantes que eles gostariam de ver, e disseram que não era para resumir, quanto maior, melhor. Criei mais tópicos.

Falei um pouco sobre mim, o básico do básico. Falei como minha família é em relação a eu sentir vontade de fazer artes, mas em nenhum momento rebaixei eles, deixei bem claro que amo eles mais do que tudo. Contei sobre minha história com Drew. Expliquei o porque de querer a bolsa de estudos e expliquei o motivo de estar tentando entrar nessa faculdade. Deixei claro que meu maior sonho obscuro é ser atriz, mas que também amo qualquer coisa por trás das câmeras.

Contei sobre ter me inscrito na faculdade de cinema também, mas disse que não me esforcei tanto assim na inscrição porque meio que já sabia o que eu queria. Falei que seria uma honra se eu fosse aceita, apesar de não ter certeza se entraria por causa de meus pais. Contei sobre a faculdade de direito, que ser advogada era o foco. Acho que menti nessa última parte, porque apesar de pensar que gostaria de ser advogada, eu queria mesmo era outra coisa.

Eu sou tímida, demais, em níveis absurdos. O tipo de pessoa que tem vergonha de pedir pizza pelo telefone. Mas, quando estou em um palco ou quando estou em frente as câmeras, tudo isso passa e se transforma em alegria, me sinto leve.

No final de novembro larguei o teatro quando entramos de férias. Precisava economizar mais para a viagem. Mesmo que minhas aulas apenas comecem em agosto, eu irei mais cedo para me situar com o lugar, treinar mais o meu inglês e os costumes lá de fora.

A parte dos costumes é essencial. Como assim estadunidense beija sem por a língua? Essa coisa de primeiro encontro é realmente séria? Será que na faculdade vão ter jogadores de hóquei e um específico chamado Garrett Graham vai querer fazer um acordo comigo? Será que vai ter alguém tipo Hardin Scott? Ou tipo a Moly? A galera lá de fora realmente se apaixona em um dia como vejo nos filmes? As pessoas pegam mais de cinco em uma noite ou isso é só no Brasil? Eles estudam geografia?

Eu tenho tantas perguntas.

*

O primeiro resultado das inscrições sai às cinco horas. Já estamos sentados na sala, em frente ao computador. Drew está junto de sua mãe pelo Skype, estão torcendo por mim.

Meu celular em um tripé porque meu pai insistiu em gravar minha reação. Disse que daria um bom vídeo para a Internet e não o contrariei. Ele, minha mãe e minha irmã estão torcendo pela faculdade do Canadá pois foi a que minha irmã fez, já eu, não tenho ideia sobre qual torcer, porque finalmente acho que sei o que eu quero, mas também sei que não posso.

– Nervosa Mia? – Drew pergunta e tomo um pequeno susto quando escuto a voz saindo do computador.

– Estou extremamente tranquila. – Minto. Minha ansiedade já atacou e estou a cinco passos de me jogar de uma montanha e sair rolando até um lago cheio de jacarés que vão me comer viva.

Com os olhos colados na tela do computador, vemos o primeiro e-mail. Faculdade do Canadá. Não fui aceita.

Por que não estou triste? Meu Deus eu deveria estar chorando! Por que não consigo chorar? Eu não deveria estar triste? POR QUE EU ME SINTO ALIVIADA?

É uma sensação estranha, me sinto aliviada e culpada. Me sinto qualquer coisa menos aborrecida.

Vejo Drew sorrindo para mim na telinha do computador. Ele sabe que eu não estou dando a mínima se fui ou não aceita na faculdade do Canadá.

– Tudo bem filha, não precisa ficar chateada ok? Ainda tem outras! – Diz minha mãe. Não é tão difícil fingir que não estou chateada porque eu realmente não estou.

Ficamos conversando com Drew e sua mãe por um tempo. Próximo e-mail na tela.

A faculdade perto da casa do Drew, aquela que são apenas três horas. Eu fui aceita.

– VAI MORAR COMIGO SIM! – Grita Drew.

– Acorda! – Rebato.

Meus pais e minha irmã parecem radiantes. Confesso ter ficado feliz um pouco, porque mesmo que eu não more com Drew, ainda nos veríamos e quando eu tivesse de saco cheio de fazer algo que não gosto (como ser advogada), eu poderia correr para sua casa.

Em menos de dez minutos, outra notificação. NÃO ACREDITO!

A faculdade de artes.

Nessa hora não me importei que meus pais estavam ali. Gritei de alegria, me segurei para não chorar e gritei mais um pouco. Drew aplaudiu e deu uma piscadinha para mim. Ele sabe o quanto eu quero isso, ele me conhece.

– Não é uma faculdade de direito mas mesmo assim, meus parabéns filha! – Diz meu pai.

– Independente, essa já é a segunda faculdade em que você foi aceita! Nunca mais se chame de burra novamente. – Minha mãe conclui.

Ficamos um pouco mais de duas horas ali esperando todos os resultados. No total foram oito faculdades. Passei em quatro. Infelizmente não passei na de cinema, mas também não me esforcei muito para conseguir. Meus pais acham que é melhor eu ir para a faculdade que fica mais ou menos perto do Drew, porque é bom ter alguém que more próximo. Ainda não sei falar o nome daquele troço que vou passar anos estudando. Não quero ir.

Paper Rings | Drew StarkeyOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz